Sob os olhares atentos e orgulhosos de familiares, nove apenados em monitoramento eletrônico em Pelotas receberam o certificado de conclusão do curso de garçom, em cerimônia realizada na manhã desta quarta-feira (29) no Salão Nobre do Paço Municipal. Com carga horária de 20 horas, a capacitação foi feita pelo Senac, a partir de uma parceira entre a Vara de Execução Criminal (VEC) Regional da Comarca de Pelotas e a Susepe, em uma iniciativa inédita no Rio Grande do Sul.

"É a materialidade da reinserção dos apenados na sociedade", afirmou Deisy Vergara, delegada da 5ª Delegacia Penitenciária Regional. Ela lembrou o fato de que a adesão e participação no curso foi feita de forma voluntária, o que representa a vontade dos apenados de estarem inseridos dentro da sociedade, com um novo trabalho. Além disso, destacou que a oportunidade pode representar um recomeço para os participantes e a intenção de que mais cursos possam ser ofertados, inclusive dentro das casas prisionais. A prefeita Paula Mascarenhas (PSDB) agradeceu aos envolvidos no desenvolvimento da iniciativa e também definiu o momento como um recomeço, representando a capacidade e vontade de mudança dos apenados, a partir do investimento nas próprias vidas. "A gente está abrindo portas e janelas para um futuro melhor", disse.

O juiz da VEC Regional, Marcelo Malizia Cabral, citou a alegria de estar presente na ocasião. "É um dia significativo para mim, hoje se realiza um sonho", comemorou, ressaltando o desejo de estender a oportunidade também para outros três mil apenados sob sua responsabilidade. Ele destacou o fato de a ação ter sido pioneira no Estado, além de representar o cumprimento de um dever do Estado: o de entregar um cidadão melhor para a sociedade. Outro aspecto lembrado por Cabral é o potencial de transformação da qualificação na vida dos apenados e familiares. "Queremos que as famílias também tenham uma vida melhor", contou. Os recursos para a realização do curso foram oriundos de multas pagas por pessoas que cometeram crimes, e são utilizados para atividades de prevenção e repressão da violência.

Possibilidade de um recomeço

"Não são todos que ajudam, mas vocês enxergaram algo de bom em nós", afirmou João Atilano, de 25 anos, em discurso ao final da cerimônia. Ele lembrou que já trabalhou como garçom, mas que, com o curso, aprendeu ainda mais sobre a profissão. Com o diploma em mãos, Atilano espera que o caminho para obtenção de um emprego na área seja facilitado, e já projeta a realização de outros cursos, que possibilitem proporcionar uma vida melhor também a sua esposa e aos três filhos. "No meio de tanto escuro teve uma luz".

Ao todo, 13 pessoas, sendo 12 apenados, concluíram o curso com duração de 20 horas realizado em dezembro do ano passado. Presente na lista de formandos, Ana Maria Machado, 32 anos, não cumpre pena, mas resolveu acompanhar o marido, após tomar conhecimento da iniciativa. Casado com Ana há sete anos, Adilson Brasil, 45 anos, lembra que a esposa também auxiliava no entendimento de atividades vistas em sala de aula, e que o recebimento do certificado representa nova fase na vida do casal, pais de uma filha. "Dá uma autoestima, um recomeço para a vida", apontou.

Novo curso

O coordenador do Instituto Penal de Monitoramento Eletrônico da 5ª região Penitenciária, Antônio Wiener, lembrou que a inciativa funcionou de forma piloto, e que alguns aspectos podem ser utilizados durante o desenvolvimento de outras ações, de forma a aumentar a fidelização, facilitar a locomoção e o comparecimento dos apenados em sala de aula. "Muitos não tinham como ir", disse. Segundo ele, está em planejamento a abertura de uma nova turma, em fevereiro, para o curso de confecção de doces e salgados, que deverá ter entre 20 a 25 vagas. Ainda em estudo, uma das novidades para os participantes poderá ser a indicação de um familiar, que também poderá aprender a profissão.