Ponto de coleta
Cooperação pelo aleitamento materno
Parceria entre o Banco de Leite do Hospital Universitário da Furg e o Hospital-Escola da UFPel criará um posto de coleta de leite materno em Pelotas
Paulo Rossi -
Dentro de uma sala no segundo pavimento do Hospital-Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE/UFPel), dez bebês recém-nascidos são monitorados por equipes médicas 24 horas por dia. Na porta, Valéria Santos da Silveira, 23 anos, aguarda ser chamada para pegar no colo o recém-nascido filho Heitor, que recebe seu leite materno através de sondas. O leite é retirado em uma pequena sala próxima à Unidade de Terapia Intensiva (UTI), armazenado em pequenos frascos e guardado em uma geladeira, onde mantém validade por 12 horas. Passado o período, o leite hoje precisa ser descartado.
Um acordo de cooperação técnica assinado no final de dezembro entre a UFPel e a Universidade Federal do Rio Grande (Furg) deve permitir maior aproveitamento deste leite, que poderá ser pasteurizado e congelado no Banco de Leite do Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr (HU/Furg), passando a ter uma vida útil de até 15 dias. No HE/UFPel ainda são necessários ajustes físicos para que haja uma sala com mais espaço, além de refrigeradores e freezers para o armazenamento correto, como estabelece a Vigilância Estadual de Saúde. A parceria terá a duração de quatro anos. Conforme as responsáveis pela parceria, a ideia é colocar o posto de coleta em atuação até o mês de abril, para começar as campanhas para mães que tenham interesse em doar seu leite materno na instituição em Pelotas.
Hoje, no HE/UFPel é apenas utilizado o leite da própria mãe da criança. Com a parceria, o leite excedente poderá ser utilizado por outros bebês, além de aumentar a arrecadação do Banco de Leite do HU/Furg, que também dispõe de UTI, semi-intensivo e modo canguru, onde a mãe permanece com a criança. O Banco de Leite hoje oferece orientações sobre a amamentação e seus benefícios, atende e auxilia em casos de dificuldades, realiza visitas domiciliares três vezes por semana para coletar o leite materno, além de processar, pasteurizar e dar controle de qualidade ao leite.
Instituições beneficiadas
A responsável pelo HE/UFPel é a nutricionista Maria Verónica Márquez Costa. Ela conta que a parceria está sendo orquestrada há mais de dois anos. Entre os principais benefícios para o HE, ela comenta que vai aumentar a disponibilidade de leite materno para os recém-nascidos, diminuir o descarte e estimular a amamentação e a doação através de campanhas. "Atualmente é só de mãe pra filho e dura 12 horas. Com a parceria, vamos poder congelar e depois enviar para a Furg pasteurizar, eliminar qualquer tipo de vírus e aí pode ser doado para qualquer criança, respeitando as normas estabelecidas como idade da criança", resume Maria Verónica.
Ela também cita o amparo no controle de qualidade do leite e suas funções microbiológicas e a acidez do alimento. Além do controle de temperatura e tempo, o leite também será rastreado. "Vai beneficiar recém-nascidos daqui e de lá", projeta. Em dezembro de 2018, por exemplo, foram coletados cerca de 50 litros de leite materno no hospital. Trinta e oito litros foram distribuídos e 12 litros foram descartados. "A gente estima que um litro pode alimentar até dez recém-nascidos", informa. Hoje o Hospital-Escola possui 20 leitos de Maternidade, além de nove leitos de UTI Neonatal, cinco semi-intensivos e cinco unidades canguru.
Este é o primeiro acordo de cooperação assinado pelo Banco de Leite do hospital rio-grandino. A coordenadora do Banco e responsável técnica, Grace Santos, espera começar os treinamentos das equipes em março. Ela também comenta que ainda há algumas pendências físicas, de definição do espaço e compra de equipamentos, para que o local possa ser vistoriado pela Vigilância Sanitária e liberado. "O nosso propósito é suprir 100% de toda a demanda", almeja a coordenadora. Além de Rio Grande, o Banco de Leite Materno mais próximo está em Bagé.
Alimento padrão ouro
Nascido prematuro, Heitor precisa ser acompanhado de perto por pediatras e equipe de médicos do HE/UFPel. Mãe de primeiro filho, Valéria começou a se tranquilizar depois que pôde pegar o filho no colo pela primeira vez. "A relação de pegar ele, ver ele mamando, já mudou tudo. A evolução dele é evidente", comenta. A dificuldade inicial também era de retirar o leite, o que contou com a ajuda de enfermeiras, que estimularam e deram força para Valéria, que hoje já consegue dar para o seu filho o alimento gerado pelo próprio corpo.
A auxiliar de enfermagem Eugênia Scheer ajudava as mães que chegavam para a sala da ordenha e também foi elogiada por Valéria pela paciência e a tranquilidade passada aos pacientes. "Ela ajuda muito. Hoje o Heitor já saiu do oxigênio e está cada vez melhor", disse, antes de ser chamada para amamentar a criança.
Amamentar e doar
Entre as nutricionistas e mães, há um consenso de que as situações de risco com seus filhos gera um pertencimento à causa e consequente conscientização sobre a importância de doar o leite excedente. Grace conta que uma colega, moradora de Pelotas, se deslocava três vezes por semana durante as férias para doar leite ao Banco.
"Por isso a importância de campanhas de amamentação, de doação do leite que sobra. Muitas mulheres de Pelotas nos ligam com interesse de doar.Com o posto de coleta, elas vão poder fazer isso tranquilamente", espera. Em Rio Grande, o Banco busca na casa das doadoras o alimento três vezes por semana. O leite é retirado após a amamentação do filho da doadora.
A média arrecadada em Rio Grande é de até 80 litros por mês. A meta é alcançar os 100 litros. "Elas (as mães) se ajudam muito. Elas criam uma rede de apoio entre elas e a instituição; o banco, o posto de coleta é um lugar onde elas encontram apoio emocional. A gente cresce muito o nosso lado humano com elas."
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