Reflexos
Coronavírus altera rotina de moradores na Itália
Médico italiano e um pelotense que mora no país relatam como o aumento no número de casos promoveu alterações na rotina da população
Divulgação -
A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu que a Europa é o novo epicentro de propagação do Covid-19, doença causada pelo coronavírus e classificada como pandemia na última quarta-feira. O número de casos diários no continente já é maior que o registrado na China, local de surgimento da doença. A Itália é o segundo país com o maior número de casos confirmados, com 15.113 e 1.016 mortes até a manhã de sexta-feira. O Diário Popular conversou com um médico italiano e um pelotense residente no país europeu, que relatam o crescimento da propagação do vírus e de como ele já afeta a rotina da população.
No mundo, o número de casos confirmados chegou a mais de 132,5 mil, com 4.947 mortes, atingindo 123 países. De acordo com dados da OMS, os dois primeiros casos da doença em território italiano foram registrados em 30 de janeiro. Após um período sem registros, outros sete foram confirmados em 21 de fevereiro. Desde então, há uma tendência de aumento, chegando a 15.113 casos, com 1.016 mortes, de acordo com a última atualização divulgada pela OMS na manhã de sexta-feira. O médico italiano Michele Napolano é morador de Nápoles, e atua no atendimento domiciliar de pessoas que não podem sair de casa, em função da restrição imposta pelo governo italiano. "Esta é a situação, tudo fechado, com poucas pessoas na rua [...] ninguém pode circular", contou Napolano.
A restrição de mobilidade foi uma das ações tomadas pelo governo italiano para conter a propagação do vírus e inicialmente era válida para regiões ao norte da Itália. Na última segunda-feira o primeiro-ministro Giuseppe Conte determinou a ampliação da medida para todo o território do país, de forma que são permitidos somente deslocamentos por motivo de saúde, trabalho ou necessidades especiais. Escolas e universidades permanecem fechadas até o dia 3 de abril. Para Napolano, no entanto, houve demora, e a ação deveria ter sido realizada anteriormente, ainda durante a semana da moda de Milão, que ocorreu entre os dias 18 e 24 de fevereiro. Durante o período, foram registrados 218 casos confirmados da doença, segundo dados da OMS. Para o médico, a restrição é importante e deveria ser tomada também em outros países. "A gente tem que ficar em casa, sair só em caso de necessidade, só isso pode eliminar o coronavírus."
Napolano lembra que houve um pico exagerado de casos em locais populosos, como a cidade de Milão, na região da Lombardia. Nesse sentido, o médico aponta que a alta velocidade de contágio e a grande densidade de população no território italiano, que é de mais de 60 milhões de habitantes, podem ter contribuído para o aumento no número dos casos. No entanto, o problema apontado pelo médico é que, em alguns casos, as consequências do vírus podem ser graves, sobrecarregando o sistema de saúde. Dessa forma, ele cita que a estratégia adotada pelo sistema de saúde italiano, de que casos extremos sejam encaminhados para hospitais, vem sendo eficaz. No entanto, a grande quantidade de atendimentos promove um aumento no tempo de trabalho de profissionais da saúde. "Uma coisa certa é que praticamente os turnos de médicos e enfermeiros são massacrantes", afirma, citando que podem chegar a 17 e 18 horas. No caso de Napolano, o turno médio é de 12 horas.
Adaptação necessária
"Coloco máscara para sair de casa e só retiro quando chego", afirma o pelotense Fabrício Sant'ana, de 45 anos, que é formado pela antiga Escola Técnica Federal de Pelotas, atual Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-Rio-grandense (IFSul) e reside na Itália desde o ano passado. Morador da Lombardia, ele cita que também está seguindo outras medidas, como a utilização de luvas e a adoção de distância para conversar com as pessoas, além de evitar apertos de mão e beijos como cumprimentos. "Também não entro em lugares com mais de duas ou três pessoas", conta. Segundo ele, ainda não há registros de falta de produtos em supermercados, mas que, por precaução, mantém um estoque de mantimentos em casa com itens básicos, como arroz, massa e água. "No início achava que eram [notícias sobre o vírus] excessivas, mas o aumento dos casos tornou a situação alarmante", afirma.
Devido ao emprego, Sant'ana conta que frequentemente realiza viagens entre países da Europa. Ao conversar com a reportagem, por exemplo, estava na Ucrânia. "Quando cheguei mediram a minha temperatura", lembra, ressaltando que os cuidados também estão sendo efetuados em outros países do continente. Para sair da Itália, precisou de um certificado que comprovasse a necessidade do deslocamento, visto que a restrição decretada pelo primeiro-ministro também é válida para entrada e saída do país. O pelotense cita que a baixa de circulação de veículos e pedestres dá o novo tom no país e que as medidas tomadas na tentativa de evitar a propagação do vírus afetaram a rotina dos italianos. "Como as escolas estão fechadas, os pais estão intercalando quem fica com os filhos em casa", exemplifica. Para ele, medidas de controle, como o monitoramento dos primeiros casos, podem contribuir para evitar a propagação da doença.
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