Reflexos da crise

Crise volta a restringir atendimentos em Hospital de Canguçu

Instituição só recebe casos de urgência e emergência; funcionários sofrem com dois meses de salários atrasados

Paulo Rossi -

Os atendimentos no Hospital de Caridade de Canguçu permanecem restritos aos casos de urgência e emergência. A determinação vale para novas internações, Pronto-Socorro e maternidade. Do total de 120 leitos, apenas 22 estavam ocupados na manhã desta quinta-feira (19). São, mais uma vez, reflexos da crise financeira que se arrasta há anos. Com os salários de fevereiro e março atrasados - sem falar no 13º salário de 2016 e de 2017 -, os trabalhadores também adoecem. E os problemas são físicos e emocionais.

Nesta quinta, exatamente 20 dos 68 técnicos em Enfermagem estavam afastados das atividades. A tendência é de que cresça o número de profissionais com atestados médicos - adianta uma das líderes da categoria, Luciara Luna Lira. "O abalo é nítido. Temos trabalhadores que vêm pro plantão e ficam chorando. Como é que vamos passar segurança para os pacientes nestas condições?", indaga.

Uma assembleia geral, possivelmente na terça-feira à noite, poderá colocar o indicativo de greve em votação. Tudo para pressionar por solução efetiva. Sem dinheiro no bolso, os trabalhadores têm precisado contar com apoio da comunidade para pagar contas de água, de luz e até alimentação. Nos últimos dias, um empresário doou 30 cestas básicas. Outras ainda são negociadas.

Silêncio absoluto
A orientação para evitar barulho é de praxe em ambiente hospitalar. Em Canguçu, em determinadas áreas, como no primeiro piso, a regra é desnecessária. Enfermarias vazias, corredores praticamente sem fluxo e pacientes remanejados para outras alas - inclusive de particulares e convênios - para agrupar os funcionários de plantão.

Na maternidade, ontem pela manhã, dos nove leitos, apenas a jovem Dara Oliveira do Prado, 21, seguia internada e aguardava alta para retornar para casa, em Santana da Boa Vista; uma das cidades que tem o Hospital de Caridade como referência. Na última terça-feira, a estudante deu à luz, de parto normal, a pequena Antonella, com 3,445 quilos e 48,5 centímetros.

Na largada da carreira, um amplo desafio
O enfermeiro Carlos Von Laer, 27, circula pelo hospital com o Diário Popular. E o desafio que tem em mãos é dos maiores. Em janeiro deste ano, quatro meses depois de receber o diploma, o canguçuense passou a compor o quadro de funcionários da instituição e, logo, recebia também outro grande compromisso: assumir a coordenação da Enfermagem do hospital que, não raro, entra em colapso.

E como quem trilha o começo da carreira, Carlos garante: "Tenho sonhos, medos e inseguranças. Me sinto bastante desafiado neste momento". É um cenário que requer dois olhares - admite: prioridade aos pacientes e atenção à saúde dos próprios trabalhadores, que lutam para ter os salários em dia.

Saiba mais
- Para onde podem ser encaminhadas as gestantes? Todas as grávidas que precisarem de atendimento devem se dirigir, normalmente, ao Hospital de Caridade, onde serão avaliadas para decidir se serão acolhidas em Canguçu ou referenciadas para outras instituições da Zona Sul - explica o titular da 3ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), Gabriel Andina.

"O ato de regulação será feito e aí se avaliará se serão encaminhadas para hospitais de Piratini, de Jaguarão e de São Lourenço". Todas as situações de risco, que dependem de estrutura de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Neonatal já eram referenciadas para Pelotas, independentemente, do enxugamento atual nos atendimentos.

- Sem contrato: A nova contratualização com o Governo do Estado deve ser, finalmente, assinada na próxima semana. A afirmação foi feita pelo gestor administrativo do hospital, Mário Luiz Fonseca, que aguarda o contrato - vencido desde 24 de janeiro - para ter acesso a recursos que estão retidos sem que fique, absolutamente definido quais serão os serviços assumidos pelo hospital, que já tem a UTI fechada, reduziu o número de exames laboratoriais e não realiza nenhum tipo de cirurgia.

- Repasses represados: A estimativa é de que aproximadamente R$ 760 mil possam entrar para os cofres do hospital nos próximos dias. Só de incentivos de fevereiro e março, há R$ 116,8 mil pendentes do governo federal e em torno de R$ 63 mil do Governo do Estado. De produção, os cálculos são de que cerca de R$ 180 mil pudessem ser depositados pelo Estado; embora o contrato - encerrado em janeiro - devesse chegar a R$ 421 mil, por mês, mas devido à crise, as metas são repetidamente descumpridas. A verba, portanto, também encolhe.

O repasse de uma emenda parlamentar no valor de R$ 400 mil, já assegurada no Fundo Estadual de Saúde, também promete ser liberada assim que o contrato estiver firmado. E a prioridade está definida: pagar os salários dos trabalhadores - assegura Mário Fonseca.

- Nova diretoria: Até o dia 10 de maio devem estar definidas as chapas que irão concorrer para assumir o comando do hospital. Até o momento, entretanto, nenhum grupo se apresentou para o pleito. "É delicado. Ninguém quer assumir. São mais de 20 anos de calamidade", resume o gestor administrativo. Só de dívida acumulada são cerca de R$ 25 milhões.

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