É preciso repensar as cidades. Planejá-las para as pessoas que as fazem diariamente: trabalho, cultura, saberes. Para além dos prédios que passaram a significar desenvolvimento, fazê-las mais verdes. Desde 2017, um projeto da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) tem estimulado a criação de hortas orgânicas em diferentes pontos do município.

O projeto teve início através de uma troca de experiências e tecnologias entre membros da universidade e das comunidades onde a ação se desenvolve. "Entendemos que a cidade tem de ser sustentável e voltada para as pessoas. Através das nossas áreas de atuação, encontramos nessas hortas uma boa forma de contribuir para isso", explica a coordenadora, Giovana Mendes de Oliveira, professora do curso de Geografia. O primeiro local escolhido foi a Unidade Básica de Saúde (UBS) General Osório, localizado no Porto, em 2018 se expandiu para a Associação de Moradores da Cohab Tablada e, neste ano, existe a ideia de chegar no Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) Navegantes. 

Giovana conta que, antes de tudo, se faz uma conversa com as comunidades, "até porque não faz sentido se não for assim." Com isso, o objetivo é que o trabalho funcione de maneira inteiramente democrática, com os saberes das pessoas, servindo como base junto aos conhecimentos acadêmicos. "Hoje mesmo estamos criando uma composteira, mas o pessoal tem uma forma diferente de fazer. Vamos testar o nosso jeito e, não havendo adaptação, tentaremos outras opções", diz, ressaltando também a importância do diálogo acerca da produção de alimentos orgânicos, livres de agrotóxicos.
A horta na Cohab Tablada hoje tem de tudo: tomate, pimentão, araçá, couve, até ervas medicinais foram plantadas no pátio da sede da associação do bairro, antes inutilizado. "Não tinha nada aqui antes. E dessa forma estamos pensando a sustentabilidade de duas formas: ambiental, pois é tudo inteiramente orgânico, e também financeira, já que tudo o que é plantado ou é consumido por nós mesmos, ou vendido para ajudar na manutenção do espaço", comenta a presidente da associação, Sônia Macedo. Ilanda Jantt concorda com a vizinha e conta: através da horta, começou produção de pepinos em conserva que já deu mais de 60 vidros.¶

Troca
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Agronomia, geografia, enfermagem, gastronomia. São vários os cursos envolvidos, e eles aumentaram no ano passado, quando o projeto foi contemplado com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o que possibilitou o pagamento de seis bolsas para estudantes.
Viviane Godoy da Silva, estudante de Agronomia, é uma deles e inclusive já foi premiada no Congresso de Extensão e Cultura (CEC) da universidade, por trabalho feito a partir das hortas. "Aqui eu trago o que conheço nos livros e aprendo muito também com as pessoas", comenta. Natural do Paraná, foi no projeto que ela mergulhou de vez no curso.
A interdisciplinaridade é comemorada pelo acadêmico de enfermagem Lucas Silva. "Temos aqui desde a questão dos fitoterápicos, que eu trabalho mais, até o trabalho da gastronomia, mostrando formas de utilizar os alimentos produzidos", explica.
Colaborador do projeto, o professor da Agronomia, Jerri Zanusso, salienta uma série de dificuldades para a manutenção do projeto. Elas passam, quase sempre, pela questão financeira e de pessoal, apesar do apoio que a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Prec) da UFPel tem dado. "Não temos como manter o trabalho funcionando a pleno em todos os lugares que gostaríamos", comenta. Ele pede auxílio da Prefeitura e de empresários locais para que a iniciativa consiga se expandir.