Pandemia
De olho nos números
Aumento de casos e hospitalizações, além da baixa adesão da população à dose de reforço, preocupa governantes e especialistas
"As pessoas não têm mais medo [da Covid-19". A fala da prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas (PSDB), retrata o que é visto nas ruas, em locais privados e principalmente na conduta da população, não só da pelotense. O longo tempo de convivência com o novo coronavírus e suas variantes fez com que as pessoas, no geral, relaxassem os cuidados essenciais, como o uso da máscara de proteção e a distância das aglomerações. Além disso, com o início da vacinação, uma outra parcela da população emergiu: a que nega a imunização.
A série de fatos citados resultou no cenário que a Região Sul (a R21 para o governo estadual) está vivendo hoje: o aumento de casos e hospitalizações e a baixa adesão à dose de reforço, a D3, para completar o esquema vacinal, tão defendido por especialistas. Esta conclusão foi analisada e debatida na noite da última quinta-feira, quando prefeitos, secretários municipais de Saúde e integrantes da 3ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) e do Comitê Técnico Regional de Enfrentamento à Pandemia na R21 reuniram-se virtualmente, através da Associação dos Municípios da Zona Sul (Azonasul), para iniciar uma nova etapa de uma luta de quase dois anos: a de traçar estratégias para frear o avanço da pandemia, representado pelo Alerta do Estado, sinal que não era emitido desde julho.
Durante o encontro, a delegada da 3ª CRS, Caroline Hoffmann, a qual atende a maioria dos municípios do Sul do Estado, esclareceu que os dados divulgados nas últimas semanas, em relação a casos, internações e mortes pela doença, não são represados, e sim mostram a "realidade". Caroline também defendeu a necessidade, por parte de prefeitos, de adotar um discurso regional uniforme e sugeriu algumas ações, como a busca territorial de pessoas com doses atrasadas e a exigência da carteira de vacinação para restaurantes. "A gente ainda vive uma pandemia, nada passou", ressaltou.
A prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas, defendeu, além da busca ativa, campanhas para atrair a população à vacinação e à retomada do cumprimento dos protocolos sanitários. "As pessoas não têm mais medo. Até maio, junho, elas tinham medo, e isso terminou. A gente esqueceu que tem pandemia, a vida voltou ao normal, a única diferença é que se usa máscara", comentou.
Até o início da noite de quinta, a maior cidade da região tinha, dentro de um universo de 69 mil idosos no município, 14 mil com a terceira dose aplicada; outros 9,5 mil já estariam com a vacina de reforço (que deve ser tomada seis meses após a D2) em atraso. Os dados, apresentados pela secretária municipal de Saúde, Roberta Paganini, também informam que do total de idosos, 63 mil tomaram a primeira dose e 62 mil a segunda. Na reunião, Roberta também destacou uma elevação no número de pacientes internados na faixa etária entre 41 e 50 anos.
Rio Grande, a segunda maior cidade na Zona Sul, não apresentou dados durante a reunião e, até o meio da tarde de sexta-feira, também não havia informado nada à Azonasul. Já em Canguçu, terceiro município com leitos exclusivos para a Covid, havia, até a reunião, apenas três pacientes internados.
Azonasul elabora plano de ação
Após o encontro, a Associação elaborou um plano de ação para responder ao Alerta estadual. Ao todo, oito novas medidas devem ser tomadas pela região, são elas: levantamento dos pacientes agravados buscando idade, doses de vacina recebidas, comorbidades, localidade e demais informações para construção de perfil; acionamento das vigilâncias sanitárias para isolar, efetivamente, os positivados; reforço das fiscalizações municipais para coibir o relaxamento dos protocolos de prevenção; além das já citadas, como busca ativa, apresentação de carteira de vacinação nos restaurantes e conscientização da população através de campanhas.
No documento, enviado ao Estado na sexta-feira, a Azonasul também informou as ações em execução, a exemplo da divulgação semanal do Panorama Regional Covid, atualizado pelas equipes municipais de Saúde.
Não é hora de relaxar
A médica infectologista e professora da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Danise Senna, explica que uma pessoa considerada vacinada é aquela que já concluiu seu esquema de vacinação, com duas doses, exceto aqueles que tomaram da Janssen, que é dose única. "A pessoa que escolhe não se vacinar, além de estar totalmente suscetível ao vírus, ainda coloca os familiares em risco. Lembrando que a vacina não previne a doença, mas sim casos graves da doença, então essa pessoa coloca a si mesma em risco e as pessoas que convivem com ela", afirma.
Danise explica que a vinda da terceira dose é como um reforço, visto que, apesar da boa eficácia dos imunizantes disponíveis, a proteção não é infinita. "Até este momento, a gente acredita que com seis meses deveria ser feito um reforço desta vacinação, principalmente para pacientes mais idosos, que receberam lá em março as duas doses de CoronaVac. Sabemos que é menos eficaz em idosos e que deveria ser feito o reforço agora com outra vacina, e que está sendo feito com a Pfizer", comenta.
A especialista ressalta que, mesmo com a imunização, ainda é preciso manter alguns protocolos. "[A vacinação] não previne transmissão, ela previne adoecimento grave, então a gente ainda precisa dos protocolos: manter o uso de máscara, evitar aglomerações desnecessárias e fazer a higiene das mãos com álcool gel".
Ela avalia que a piora do cenário regional se dá pela recente presença confirmada da variante Delta, a qual tem maior transmissibilidade, além do relaxamento dos protocolos e a diminuição do ritmo da vacinação em Pelotas. "Agora perdeu um pouco de fôlego na vacinação, a gente precisa oferecer a terceira dose para idosos o mais rápido possível e precisa completar os esquemas vacinais, mesmo com busca ativa se for necessária", defende.
"Estamos no segundo 'A' dos três 'As' do governo gaúcho. Passamos pelo 'A' de Atenção, agora estamos no de Alerta e, se continuarmos nessa crescente, vamos para o 'A' de Ação, onde será necessário colocar algumas restrições novamente. Em relação aos eventos sociais, dança, abertura de restaurantes, bares, enfim, festa, principalmente, no final de ano, isso será bastante complicado e provavelmente teremos que voltar para algumas restrições porque não é o momento de estar realmente tudo normal", enfatiza.
Pelotas registra mais duas mortes pela doença e encerra drive-thrus
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Pelotas registrou, na sexta, mais dois óbitos pela Covid-19. As mortes, ocorridas entre 10 e 11 de novembro, são referentes a uma mulher, de 86 anos, e um homem, de 81, ambos internados no Hospital Universitário São Francisco de Paula (HUSFP). Com isso, o município chega a 1.214 vidas perdidas pela doença.
Além dos óbitos, a SMS confirmou mais 77 novos casos positivos. Desde o início da pandemia, já são 49.973 confirmações, sendo 46.423 destes recuperados e 2.336 em isolamento.
O Painel Covid Pelotas apontava, até o início da tarde de sexta, 62 pacientes internados, entre moradores de Pelotas e de outras cidades. Do total, 23 estavam em UTI, representando 59% da capacidade.
Ainda na sexta, a prefeitura anunciou que, a partir da terça-feira (16), os drive-thrus realizados no Centro de Eventos serão encerrados devido à baixa procura pela população. O local atendia, de forma fixa, nas terças e quintas-feiras.
Segundo o Executivo municipal, com a nova mudança, as aplicações no sistema drive-thru serão pontuais e com datas previstas. Na quinta-feira (18) será para a terceira dose de idosos com 60 anos ou mais que receberam a segunda dose há seis meses e imunossuprimidos, com intervalo entre segunda dose ou dose única de 28 dias. A D3 ou dose de reforço será disponibilizada para profissionais da saúde, a partir da próxima semana, no Shopping Pelotas e no Laboratório Municipal. Para receber a imunização, é necessário ser trabalhador com registro no Conselho de Classe ou trabalhar na área de apoio. Na segunda-feira, feriado da Proclamação da República, não haverá vacinação ao público.
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