Destaque
De São Lourenço para o Brasil
Estudante da Escola Estadual Cruzeiro do Sul, Laiana Miritz Vasconcelos encerra o 2019 entre os 20 finalistas da Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa, na categoria Artigo de Opinião
Destaque da aluna do Colégio Cruzeiro do Sul passou pelas mãos da professora (Foto: Paulo Rossi - DP)
O tema que se transformou no maior embate político em São Lourenço do Sul, em 2018, acabou por servir de inspiração em sala de aula. Foi com o texto Escola Sem Partido - Avanço ou retrocesso da educação lourenciana que a estudante Laiana Miritz Vasconcelos, 18, encerra o 2019 entre os 20 finalistas da Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa, em Artigo de Opinião. Ao lado da professora Regina Neutzling Tessmann, a jovem - que sonha em cursar Psicologia - deixou para trás mais de 3,2 mil concorrentes do país. Ao todo, entre as cinco categorias, 171 mil alunos chegaram a elaborar trabalhos para tentar participar do concurso.
E para comemorar a vitória, a dupla voltou para casa e para a Escola Estadual de Ensino Médio Cruzeiro do Sul com as medalhas de bronze e de prata no peito, conquistadas em diferentes etapas disputadas em São Paulo. Camisetas, certificados, bônus para compra de livros e uma publicação encadernada que reúne todos os finalistas do Brasil, convidados a refletir e a escrever sobre uma mesma provocação: O lugar onde vivo. Foi daí que se originou o artigo.
Ao conversar com o Diário Popular, Laiana reforçou conceitos defendidos no texto e, embora saiba que está inserida em um município pequeno, no sul, do Sul do Brasil, busca forças para construir uma sociedade menos conservadora. E garante: "Não dá para o ensino ser neutro. Sei que os professores devem mostrar os dois lados, mas não dá pra deixar que uma lei os impeça de falar a verdade". Ajudar, principalmente, a pensar por si e formar suas próprias opiniões é a única maneira de evitar a doutrinação - defende, ao encerrar o artigo em que faz referência a educadores e filósofos.
E ao se tornar porta-voz da Escola Cruzeiro do Sul e da turma de 3º ano, a jovem, que precisou migrar para o noturno para entrar no mercado de trabalho e contribuir na renda familiar é enfática: "Todos que estudam comigo trabalham e têm uma rotina bem difícil. Mostrar nossa realidade e provar que mesmo com todas as dificuldades que enfrentamos conseguimos ter grandes conquistas, me deixa muito feliz".
Laiana exibe orgulhosa as medalhas conquistadas (Foto: Paulo Rossi - DP)
Orgulho e convicção
A professora também não esconde o entusiasmo. Desde 2012 tem investido em preparar os estudantes para produção deste tipo de gênero textual, que requer debates e argumentos para defender posições. "É algo muito gratificante", resume Regina. E o melhor: neste fluxo de ideias arremessadas ao papel, os jovens precisam se aproximar da gramática e seu conjunto de regras, mas como ferramenta para aperfeiçoarem sua redação. É uma bela forma de a aprendizagem de Português se tornar menos pesada.
Relembre a polêmica
Em 16 de julho de 2018, após três meses e meio de tramitação, as bancadas do PSDB, PP e PDT conseguiram aprovar em plenário o projeto que instituiria em São Lourenço o Escola Sem Partido, que transformaria a cidade na primeira do Rio Grande do Sul a ter lei - a pedido do Movimento Brasil Livre (MBL) - para restringir discussões sobre gênero, religião e questões políticas em sala de aula. Ao ser encaminhada para sanção do prefeito Rudinei Harter (PDT), o chefe do Executivo vetou o projeto, com base no artigo 22 da Constituição Federal que estabelece competência exclusiva da União para legislar sobre diretrizes da Educação.
De volta à Câmara, um mês depois, o Legislativo derrubou o veto. Surgia, então, nova polêmica. Estava nas mãos da presidente da Casa, Carmem Roveré (PSB), e da vice-presidente Márcia Lucas (PT) a promulgação da lei, mas a Mesa Diretora decidiu não promulgá-la, sob o argumento de que a lei era inconstitucional e interferiria na qualidade do ensino público. Durante o vai e vem, movimentos sociais, sindicatos, Ministério Público (MP) e vários pesquisadores da área da Educação engajaram-se às discussões e pressionaram pela derrubada do projeto de lei.
Saiba mais sobre a Olimpíada
- A Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa é um concurso de produção de textos para estudantes de escolas públicas de todo o país.
- Nesta 6ª edição, participaram 85.908 professores, 42.086 escolas, distribuídas em 4.876 cidades.
- Ao todo, 171 mil estudantes se inscreveram para tentar participar da Olimpíada, mas após as triagens iniciais, 40.758 alunos viraram candidatos à semifinal e à final, em cinco categorias: Poema, Memórias Literárias, Crônica e Artigo de Opinião, além da produção de documentários.
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