Ação
Desapropriação vira drama para famílias
Residências construídas em terreno particular foram destruídas na manhã de ontem na Zona Norte
Jô Folha -
Casas destruídas e móveis espalhados pela rua. O cenário era de guerra e caos. A desapropriação do terreno no bairro Toussant, Zona Norte da cidade, pertencente ao vereador Roger Ney (PP), teve início na manhã de ontem e se estendeu até o período da tarde. Dez famílias perderam suas casas, desmanchadas por uma retroescavadeira. Equipes da prefeitura de Pelotas, Brigada Militar (BM) e empresas de segurança privada participaram do processo, que fez com que o político fosse criticado. Ele, no entanto, já havia comunicado aos posseiros que tomaria posse das terras.
As famílias são de baixa renda. Trabalhadores. Por isso, alguns nem estavam presentes na hora da desapropriação. Sabrina Vergara tem seis filhos e explicou que, na terça-feira, pediram para que se preparassem para deixar o local. Assim, lhes foi dado um dia para sair. Mas algo que deveria ser pacífico, tomou proporções que os moradores não imaginavam. Sabrina mostrou os estragos. Tudo foi desmanchado por uma máquina.
Luis Carlos da Silva contou que tudo que construiu ao longo dos anos foi destruído, já que não teve ajuda para salvar seus pertences antes de a máquina derrubar sua casa. “Acabou tudo que eu tinha”, lamentou. Agora, irá morar de favor na casa do pai. Já Mateus Souza estava lá há um ano. No tempo que passou no terreno, recebeu três ameaças de desapropriação. Faltou, segundo ele, maior união da comunidade para lutar contra o que veio a acontecer na manhã de ontem. Mas ele, “se preparando para apanhar”, defendeu sua residência. Gritou para os policiais da Brigada Militar e pediu para pararem. Sem sucesso, lembrou: “não quiseram ouvir a gente”.
Defesa do vereador
Roger Ney explicou que o terreno foi comprado há alguns anos com a intenção de construir um loteamento - que está com as plantas encaminhadas na prefeitura - chamado Monte Sinai. Após a “invasão”, ele, acompanhado da BM, foi até o local. De acordo com o parlamentar, os posseiros “zombaram” e afirmaram que não possuía os papéis que mostravam ser o dono das terras. Foi necessário então entrar com processo de reintegração de posse, concedido pela Justiça. As famílias foram, então, notificadas diversas vezes que precisariam sair.
Aos olhos do vereador, tudo ocorreu tranquilamente, sem resistência. Os moradores sabiam que “iriam sair mais cedo ou mais tarde”. Ele entende que foi e ainda será criticado pela população, uma vez que as famílias vivem em situação precária. Fazer parte do meio político é um peso. Por isso, o pedido feito é para que todos entendam que há uma vida privada - de corretor de imóveis - por trás do mandato. “Não se faz disso um emprego”, finalizou.
A ajuda da prefeitura
O serviço de Redução de Danos permaneceu no local durante todo o processo. Os funcionários contaram que algumas famílias tinham outro local para morar e estavam recolhendo suas coisas. Porém, algumas não tinham para onde ir. “Isso aqui é uma complicação”, afirmaram. Na visão deles, os posseiros deveriam ter sido melhor orientados.
Segundo o secretário de Assistência Social (SAS), Luiz Eduardo Longaray, os profissionais foram encaminhados ao terreno para prestar a assistência necessária aos posseiros. Às 13h, os assistentes realizaram o cadastro e os moradores foram encaminhados a casa de parentes, a fim de não ficarem desabrigados. “Não deixaríamos ninguém na rua”, afirmou. Seis famílias que ainda estavam arrecadando seus pertences foram convidadas a se dirigir aos abrigos disponibilizados pela secretaria, mas recusaram. Longaray explicou que eles foram orientados e avisados que há vagas no local de acolhimento. Dessa forma, os profissionais só deixaram o bairro assim que receberam a confirmação de que não havia interesse por parte das seis famílias. “Foi feito um trabalho social”, completou.
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