Inclusão

Dia Internacional da Síndrome de Down é de combate ao capacitismo

Gabriel Almeida Nogueira, formado em Teatro na UFPel, sonha usar suas paixões para mostrar ao mundo que todos são capazes de tudo

Foto: Volmer Perez - DP - Gabriel Almeida Nogueira,ministra aulas de teatro na Apadpel

Heitor Araujo
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Nesta quinta-feira (21), Dia Internacional da Síndrome de Down, o tema é "Chega de estereótipos, abaixo o capacitismo'. Combater o preconceito contra as diferenças é um dos objetivos das pessoas com Down, amigos e familiares. Uma das ações simbólicas deste 21 de março pode ser feita por todos e todas: a campanha da "meia trocada", usar um pé de cada cor, com o intuito de mostrar que ninguém é igual a ninguém, mas também que não existem pessoas incapazes ou inferiores.

Exemplos disso são inúmeros, inclusive em Pelotas. Na Associação de Pais de Down de Pelotas (Apadpel) são realizadas atividades extracurriculares para pessoas com síndrome de Down: teatro, futsal, aula de espanhol e culinária, além de atendimentos de fisioterapia e psicologia. Há oito anos formado no curso de Teatro da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Gabriel Almeida Nogueira, 36, ministra aulas de teatro na Apadpel. Gabriel tem Down e a arte cênica é uma das suas paixões, desde quando pequeno. "Eu fazia aulas como jovem aprendiz com uma professora que depois até me deu aula na faculdade. Sempre gostei do teatro e hoje gosto muito de me apresentar e ensinar aos outros", diz.

Ele ministra as aulas, na maioria das vezes, sozinho. No total, 20 assistidos pela Apadpel participam da atividade, da faixa etária que vai dos 12 aos 45 anos.

Orgulho

Para o professor, ensinar sobre teatro é um motivo de orgulho. "Fico feliz e orgulhoso de ensinar tudo o que eu sei para os outros, fico feliz de vê-los fazendo o que tem que fazer", responde. Além do teatro, Gabriel tem como paixões o futsal, que ele joga pela Apadpel, o taekwondo, o qual se orgulha em dizer que é faixa preta, e dança. No teatro, porém, ressalta a completude enquanto representatividade artística. "O teatro representa tudo para mim, porque aglomera todas as artes, de dança, expressão corporal e vocal, é interessante ensinar isso aos alunos".

Essa amplitude de atividades, segundo o professor, o ajudou a ter uma melhora na qualidade de vida. Atualmente, além de ministrar aulas, ele também faz contação de história para crianças de até seis anos em uma escolinha. Um dos objetivos dele é justamente o tema da campanha deste Dia Internacional da Síndrome de Down. "Meu grande sonho, hoje, como faixa preta de taekwondo e formado em teatro, é que todas as pessoas vejam quem nós somos, que somos capazes de tudo, somos capazes de entrar na faculdade, nos formar e participar de todas as coisas".

Dedicação

Mãe da Sophia Nobre, 12 anos, Cátia Vieira é uma das fundadoras da Apadpel e atual diretora financeira da Associação. Para Cátia, essas atividades voltadas às pessoas com Down é de fundamental importância para a melhor qualidade de vida, o que ela nota na filha, que é uma amante da música. "A vida da Sofia é cantar e dançar. São coisas que fazem eles se desenvolverem, influenciam em mais coisas, muda tudo, o bem-estar, bom-humor e relacionamento com a família. É muito importante para o crescimento deles", relata.

Contra o capacitismo

De acordo com o governo federal, o capacitismo é uma "tentativa preconceituosa de medir as capacidades de outra pessoa pelo fato de ela ter alguma deficiência". Neste sentido, o Ministério da Saúde, inclusive, divulgou uma cartilha para combatê-lo.
Nesta cartilha, define-se o capacitismo como "qualquer tipo de discriminação contra uma pessoa em função da deficiência, definida como toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas".

Em Pelotas, a Apadpel tem um projeto para a construção de um condomínio, com seis casas, que será usado como laboratório para dar independência às pessoas com Down. Os assistidos frequentarão a casa, onde aprenderão as tarefas do dia a dia que ainda não estão adaptados a fazer sozinhos. "Ele vai fazer a higiene, tomar o café, tudo o que ele não souber fazer sozinho, a gente vai ensinando, como ir ao supermercado, lavar a louça, tudo o que se faz no dia a dia, e mostrar que ele tem condições de morar sozinho", relata Cátia.

Segundo ela, não há relatos de pessoas com Down que morem sozinhas em Pelotas, mas são muitas as independentes no Brasil. O objetivo do condomínio é fazer com que a realidade no resto do País chegue a Pelotas. O projeto do condomínio depende, agora, do financiamento de empresas à Associação.

Apadpel

A Apadpel existe desde 2017 e foi criada por quatro mães de pessoas com Down. Atualmente, são 160 assistidos, e a Associação mantém-se pelas vendas do brechó e de reciclagem, além do apoio dos cem associados. Segundo Cátia, a expectativa é de no mês de maio já ter verbas públicas por meio de um convênio com a Prefeitura.

A Apadpel está em processo de mudança para a nova sede no bairro Fragata, que já está em funcionamento, mas ainda em fase final de obras. No local, além dos espaços para as atividades extracurriculares, será construída uma "praça invertida", na qual todos os brinquedos serão inclusivos e será aberta a todo o público, e, assim que houver verbas, um ginásio polidesportivo e o condomínio.

Neste Dia Internacional da Síndrome de Down, a Apadpel organiza a caminhada que sai do Largo do Mercado Público, às 8h30 de sábado. No domingo, 24, terá o piquenique do afeto, que é realizado há mais de dez anos, e será no Parque Dom Antônio Zattera, às 15h.

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