Falta estrutura

Distantes e dependentes dos maiores centros de saúde

Sem UTIs e com hospitais pequenos, cidades de fronteira dependem de estrutura de outros municípios

Jô Folha -

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Hospital de Santa Vitória do Palmar é o maior dentre os existentes nas cidades de fronteira com o Uruguai no sul do Estado (Foto: Jô Folha - DP)

Eles estão, literalmente, no final do país e longe de grandes centros. No entanto, nem essa localização geográfica tem servido como argumento que convença os governos federal e estadual na hora de distribuir recursos capazes de suprir as necessidades da população na área da saúde sem horas de deslocamento rodoviário. É o que aponta um levantamento feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que analisou a situação de 122 cidades brasileiras que fazem fronteira com outros países. O estudo aponta que 22% delas não contam com leitos de internação pelo SUS e, pior, 93% não dispõem de Unidades de Tratamento Intensivo (UTI).

Sete municípios da Região Sul do Estado que estão no limite com o Uruguai fazem parte do estudo: Aceguá, Bagé, Chuí, Herval, Jaguarão, Pedras Altas e Santa Vitória do Palmar. A análise da saúde na fronteira teve como base os dados cadastrados pelo Ministério da Saúde e traçou comparações entre as realidades dos últimos sete anos (2011 e 2017). Dentre os itens coletados, o que mais preocupa diz respeito à infraestrutura física. Com exceção de Bagé, de maior porte e que serve de referência para a região da Campanha, nenhuma das demais cidades fronteiriças possui leitos de UTI. Duas delas - Chuí e Pedras Altas - sequer contam com hospital.

Chuí, no entanto, se socorre de Santa Vitória do Palmar. A vizinha está a apenas 20 quilômetros e tem boa estrutura. Além de ter o maior hospital dentre as sete cidades da região - a Santa Casa tem 53 leitos -, desde 2011 a cidade ampliou em 48% o número de médicos e dobrou o de enfermeiros. Por outro lado, Pedras Altas tem seus problemas agravados pelo isolamento. O município de 2,1 mil habitantes não possui acesso asfáltico e a ERS-608 é alvo de frequentes protestos pela má conservação. "Sem asfalto para chegar ou sair até uma das nossas referências em saúde, precisamos investir R$ 100 mil por mês na contratação de equipe terceirizada de saúde para manter o atendimento de urgência e emergência 24 horas capaz de estabilizar pacientes para as remoções serem feitas com segurança", explica a secretária de Saúde, Vera Gomes Teixeira.

Mais médicos, menos consultas
Na comparação dos últimos sete anos feita pelo CFM, dois dados opostos chamam a atenção. Enquanto o número de médicos contratados pelas prefeituras aumentou em todos os municípios, em cinco deles o total de consultas caiu. Somente Bagé teve aumento (35%) e Chuí não pôde ser avaliada devido à ausência de dados de 2011. Conforme a prefeitura local, o cadastramento das informações passou a ser feito recentemente, o que pode ter causado a inexistência dos números mais antigos.

Santa Vitória do Palmar (-64,7%) e Aceguá (-50,3%) apresentaram as maiores quedas nas consultas, seguidas por Jaguarão (-35%), Herval (-18%) e Pedras Altas (-6,5%). O secretário de Saúde de Jaguarão contesta a informação e diz que uma possível razão para a redução pode ser a desconsideração dos atendimentos dos profissionais uruguaios. Embora tenham autorização para atuar no lado brasileiro, os médicos não possuem registro profissional no país. Apenas estrangeiros contratados pelo Ministério da Saúde através do programa Mais Médicos têm o documento.

Permanentemente na estrada
Com estrutura aquém da que consideram ideal, os gestores de saúde dos municípios fronteiriços fazem coro ao reclamar que a realidade os obriga a aplicar boa parte do dinheiro disponível em permanentes viagens dos pacientes com casos mais sérios a Pelotas, Rio Grande ou Porto Alegre para tratamento.

Giordano Pereira, secretário de Santa Vitória do Palmar, no extremo Sul, resume o desafio logístico e financeiro que é manter veículos, motoristas e equipes de apoio rodando em busca de exames, terapias e cirurgias. Na sua avaliação, o Estado deveria assegurar mais recursos para pagar médicos e comprar equipamentos, melhorando os cuidados a estas populações de fronteira e desafogando instituições de outras cidades. "Cada médico a menos no município é um carro a mais que precisamos comprar. Por mês os veículos da saúde rodam em média 70 mil quilômetros. É difícil, pois os recursos são escassos e o Estado ainda tem dívida conosco. Recentemente pagaram parte, mas ainda ficou para trás R$ 800 mil em atrasos. Acaba fazendo falta", critica.

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