Após 57 dias de greve, a rotina de professores, alunos e funcionários da rede estadual volta ao normal. Parte das escolas de Pelotas já tinha retomado as atividades, o restante se dividiu entre esta quarta (15) e quinta-feira. A decisão pela suspensão da paralisação foi tomada na tarde da última terça-feira, em assembleia geral do Cpers em Porto Alegre.

De acordo com o último levantamento feito pela 5ª Coordenadoria Regional de Educação (5ª CRE), dos 124 educandários atendidos pelo órgão, 91 estavam em greve parcial, 30 não aderiram ao movimento e três estavam completamente paralisados. Pelotas conta com 52 escolas estaduais, destas 41 estavam parcialmente paradas, dez funcionando normalmente e uma com adesão total à greve. Agora, as instituições de ensino devem reorganizar seus calendários - que irão recuperar os dias letivos perdidos - e enviar para a coordenadoria aprovar. A sugestão da Secretaria da Educação (Seduc) é que a recuperação tenha começado nesta quarta e se estenda até 27 de fevereiro, oito dias após a previsão de início do ano letivo de 2020 nas demais escolas estaduais.

Conforme sugestão da Seduc, a medida busca garantir aos estudantes o direito de, no mínimo, 200 dias letivos e assegurar a carga horária de 800 horas para o Ensino Fundamental e mil horas para o Ensino Médio. De acordo com a Secretaria, foram 37 dias sem aula, entre 14 de novembro de 2019 e 14 de janeiro de 2020.

Quem já teve o calendário aprovado pela 5ª CRE foi o Escola Pedro Osório. Por lá, a decisão foi de trabalhar todos os sábados mais dois domingos. Desse modo, as aulas referentes a 2019 deverão se encerrar no dia 11 de fevereiro. “Cumpriremos o direito a 30 dias de férias e retornaremos entre 12 e 13 março”, informou o diretor Hélcio Fernandes. O educandário teve suas aulas retomadas na última sexta-feira, pois Fernandes percebeu a volta da maioria dos professores, então “não tinha por que ficar parado”. Desmotivado, o diretor que coordena os 1.098 alunos desabafa que a sociedade gaúcha não compreende que não é apenas um mês de salário atrasado, mas sim cinco anos. “Como eu vou motivar um professor que não recebe?”, questionou. O que gera esperança no Pedro Osório é o resultado do Programa de Avaliação da Vida Escolar (Pave), pois este ano teve 31 alunos aprovados para cursar alguma graduação na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e ocupou o quarto lugar entre as escolas com mais aprovados da cidade. “Apesar de tudo que vem acontecendo, os alunos nos enchem de orgulho”, frisou.

No Instituto Estadual de Educação Assis Brasil, a decisão do novo calendário foi tomada através de uma votação com os docentes, que decidiram trabalhar aos sábados para completar os 29 dias letivos que faltam. As aulas recomeçam nesta quinta-feira e vão até o dia 18 de fevereiro; no dia 19 de março será dada a largada para 2020. De acordo com o vice-diretor, Vanderley Pimentel, a categoria continua atenta à reforma administrativa proposta pelo governo de Eduardo Leite (PSDB). “O pacote altera o nosso plano de carreira e tira os nossos direitos”, disse. Além disso, Pimentel afirma que o final da greve não significa um aceite da situação. “Se forem necessárias outras mobilizações, estaremos presentes”, garantiu.

Mauro Amaral, diretor do 24° Núcleo do Cpers - Sindicato, explica que a decisão de retornar ocorreu em função do respeito que eles têm pela educação. Segundo ele, foi evidente que o governo não tinha interesse pelo término do ano letivo, então “resolvemos voltar para recuperar”, afirmou. Além do mais, o Cpers entende que a greve é apenas mais um instrumento de luta, e garante seguir mobilizado contra o pacote. “Existem outros meios de protestarmos”, completou Amaral. Quanto ao retorno, o diretor disse estar tranquilo e que defende a autonomia organizacional de cada educandário.