História

Ele lutou para viver em meio à guerra

Aposentado que escapou dos confrontos na 2ª Guerra compartilha sua trajetória em Pelotas

Todo imigrante tem uma história. Erwin Altenheimer, de 78 anos, não foge à regra. Nascido em Frankfurt, resistiu à Alemanha nazista. Em meio a confrontos e imposições políticas, optar por escrever a própria história lhe custou abandonar a família. Agora, em visita a familiares, também vindos de outros países, conclui a primeira passagem pelo país. Em um portunhol lento, Erwin divide um pouco de sua história como alemão e imigrante.

A mesma Alemanha que lhe deu à luz, arrancou seu pai em um combate, quando ainda era criança. Erwin cresceu cercado de mulheres - a mãe e duas irmãs. Na década de 1940, a fracassada invasão, comandada por Adolf Hitler, à então União Soviética, obrigou a população alemã a pagar a derrota das tropas para os russos. As dificuldades enfrentadas pelo menino ao lado da família aumentavam e ninguém sabia ao certo o que acontecia no país. “Não sabíamos sobre a existência de campos de concentração. Isso não era falado para nós”, narra.
Em um dos capítulos de sua história, os quatro chegaram a morar em único cômodo. Ainda jovem, Erwin decidiu abandonar as duas Alemanhas, a oriental e a ocidental. Então, amargou a escassez de água e alimento em seu percurso. Foram pelo menos dois meses sustentando-se de migalhas, sem fazer uma refeição. Das lembranças mais latentes deste período, o encontro com um pedaço de pão. “Era pequeno e duro. Mas, para mim, era como se encontrasse um biscoito doce”, recorda. Para torná-lo mastigável, misturou o pão à própria saliva.

Mudanças
Ao chegar ao novo destino, a Nova Zelândia, descobriu maneiras de comunicar-se com a população - seu único idioma, na época, era o alemão. Na Oceania, aprendeu a falar inglês e, com o trabalho em diferentes indústrias reconhecido, sua condição financeira teve fôlego. Em contrapartida, passou sete anos sem notícias da família e de amigos, que ficaram em Frankfurt.
Todavia, o destino o levou para ainda mais longe de casa: em 1969 passou a morar na Venezuela. E o serviço braçal continuava - trabalhou na fabricação de televisores e de moldes de plástico, para diversos objetos. Também lá conheceu Pilar, que viria a tornar-se sua esposa. Dez anos depois, trocou o Sul pelo Norte da América e, ao lado da companheira, mudaram-se para os Estados Unidos. Desde então, vive na terra do Tio Sam.

A vida hoje
Há 15 anos, Pilar perdeu a luta contra o Mal de Alzheimer e acabou falecendo. A doença foi descoberta tardiamente, denunciada em uma queda, enquanto caminhava com o marido por Berlim. Mais uma ruptura na vida de Erwin. Sem filhos, hoje vive sozinho no estado de Geórgia. Entretanto, cobre o silêncio da aposentadoria como mecânico de aviões da Força Aérea norte-americana com viagens mundo afora.
Na primeira visita ao Brasil, orgulha-se de arranhar o idioma local, após as aulas diárias da afilhada portuguesa Maria Cândida de Castro, de 62 anos. Aqui na região, conheceu a praia do Cassino e divertiu-se no passeio de vagonetas, nos Molhes da Barra. Também assistiu a uma peça no Theatro Guarany e questionou o que muitos pelotenses ainda se perguntam: “Por que o Sete de Abril está fechado?” - Erwin está curioso para conhecer o ponto histórico.

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