Pandemia

Eles estão nas ruas para os outros ficarem em casa

Desde o começo do isolamento social, demanda de entregadores aumentou; algumas empresas tiveram um acréscimo de cerca de 200%

Carlos Queiroz -

A recomendação é para todos: fiquem em casa. No entanto, a alimentação, os cuidados com a saúde e as compras para a casa não deixam de fazer parte do dia a dia. Para isso, centenas de entregadores se arriscam dia e noite para levar encomendas de casa em casa. A demanda desse grupo é tanta que, em empresas locais, as contratações aumentaram.

Quando perguntado sobre quantas entregas faz por dia, Giuliano Oliveira logo dispara: "Sabe que eu nunca contei? São muitas, hoje fiz umas 12 só de farmácia", respondeu, no intervalo entre o turno da tarde e da noite. Ele trabalha com entregas há três anos e, a cada dia, o serviço é um. Os maiores clientes são as lancherias, mas também ocorre de pagar contas e buscar itens no mercado. "É uma engrenagem. As empresas e as pessoas em casa precisam da gente", salientou. Com a pandemia, o trabalho aumentou ainda mais, tanto que colegas fizeram mais de 40 corridas por dia somente em compras de farmácias.

A valorização da categoria, ao contrário, não cresceu tanto. Ele conta que, desde que começou no ramo, há três anos, o valor cobrado pelas entregas não subiu. Agora, a principal mudança são as prevenções a Covid-19, além de uma nova característica nas ruas da cidade. Após a reabertura do comércio, o trânsito voltou a crescer e o horário de pico está mais intenso. "Agora está quase o normal de antes", conta. O grande movimento do dia, que antes começava as 17h e seguia até o início da noite, agora passou das 16h às 18h.

Outros, há mais tempo no ramo, estão garantindo mais empregos. Com dez anos de experiência em entregas, Emerson Almeida atualmente possui a própria empresa, com cerca de 40 motoboys. Com as medidas de isolamento social, a demanda subiu, mas não tanto quanto o esperado. "Muitos lugares fecharam, acredito que o delivery não ia segurar os negócios", opina. A maior parte da clientela são restaurantes e lancherias: o aumento das entregas foi de 30%. Ao mesmo tempo, novos entregadores entraram para a empresa, também cerca de 30% da equipe de funcionários aumentou.

"Eu comecei sozinho, entregando na área hospitalar. As entregas cresceram e passei a contratar outros entregadores", contou. O ponta pé inicial na carreira foram as entregas de laudos e materiais para exames médicos para o hospital Unimed. O trabalho às vezes se estendia para a madrugada, visando a agilidade de conclusão dos laudos médicos. "Com os anos passamos a ser mais valorizados", afirmou.

Nos últimos anos, com a chegada dos aplicativos de entrega, Emerson acredita que a profissão passou a ser ainda mais requisitada, e a categoria também cresceu. "Os aplicativos de delivery forçaram esse crescimento", lembra. Muitos entregadores acabaram por sair da empresa para migrar para os apps, enquanto outros retornaram pelo mesmo motivo. "Já perdi motoqueiro para aplicativo e outros voltaram, alguns acabam se decepcionando".

Entregas nas magrelas

Os pedidos de entrega sustentáveis também dispararam: em abril, o coletivo 220 Bike Entregas teve um aumento nas entregas em quase três vezes, em comparação aos meses anteriores. O negócio, a base de bicicletas, começou em 2015 e, depois de muitas mudanças na equipe, conta hoje com seis entregadores e nove empresas parceiras. O atual gestor, Gabriel Pioner, conta que no último mês foram feitas 295 entregas, enquanto nos outros meses o número ficava na casa das cem viagens. "O diferencial pra gente foi a pandemia. De início, ficamos com receio da contaminação mas entendemos o quão importante é realizar esse serviço, porque ajuda muito para que as pessoas não saiam de casa", explicou.

Ainda em março, após o decreto de pandemia por parte da Organização Mundial de Saúde (OMS), as ruas ficaram vazias e o novo cenário contava, em muito, com entregadores. "Nas primeiras duas semanas de isolamento só tinha motoboy e entregador de bike nas ruas. Depois o movimento voltou dos carros passou a crescer", lembrou.

Segurança financeira

No coletivo, a cada entrega, cerca de 5% do valor ficam guardados. De pouco em pouco, o valor ficou maior e serve como uma espécie de fundo de auxílio aos ciclistas - medida importante visando a possibilidade de contágio do novo coronavírus. O motociclistas também possui o próprio meio de garantia, é o cadastro como Microempreendedor Individual (MEI). "Muitos ainda não tem. É uma luta que já vem a tempos", diz Emerson. Na empresa em que ele gerencia, o conselho é que cada trabalhador realize o cadastro e, assim, mantenha uma retaguarda.

 

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