Ajuda

Em busca da reabilitação da fauna silvestre

Dedicado ao acolhimento e tratamento de animais silvestres, Nurfs conta com apoio da comunidade com doações

Carlos Queiroz -

Dedicado ao acolhimento e ao cuidado de animais silvestres resgatados, o Núcleo de Reabilitação da Fauna Silvestre (Nurfs), da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) tem, há mais de 20 anos, realizado um trabalho de preservação da fauna, além de servir como instrumento de ensino aos alunos. Com sua capacidade de recepção afetada pelo escasso aporte financeiro, campanhas de arrecadação contam com a ajuda da sociedade para que o trabalho continue.

O núcleo teve início em uma sala de aula em 1998 através de iniciativa da professora do curso de Veterinária da UFPel, Ana Luiza Valente. Na oportunidade, a Brigada Militar levou até o campus Capão do Leão um gambá, que foi atendido durante uma aula de anatomia. A experiência agregou aos ensinamentos e o modelo prático foi levado adiante. Ao longo dos anos, parcerias foram firmadas, com órgãos públicos municipais e estaduais, Brigada Militar e instituições privadas, como a Ecosul, encaminhando até o local animais encontrados em mal estado de saúde.

Além de levar consigo a característica de prestador de serviço, com o recebimento de animais de outros 28 municípios, o núcleo possui três áreas de atuação dentro da universidade, abrangendo os cursos de Biologia, Veterinária, Zootecnia e os voltados à educação ambiental. "A gente recebe os alunos para trabalhar, fazer seus estágios curriculares. Também se tem bastante pesquisas nesses anos e projetos de extensão desenvolvidos", explica a bióloga Greici Behling.

Anualmente, dois mil animais passam pelo Nurfs e a equipe estima que cerca de 17 mil já tenham sido tratados pela equipe. Atualmente, 200 estão sendo acompanhados. Para cuidar da turma silvestre, quatro residentes, dois veterinários, quatro tratadores e três outros profissionais atuam no local, além de 20 estudantes estagiários. No local o acompanhamento completo é realizado, desde a recepção até exames e cirurgias - estes com parceria do Hospital Veterinário da UFPel, até a soltura no habitat natural, em caso de espécies nativas do Estado.

Histórias

Nestes anos de atuação diversas histórias de superação e de crueldade por parte dos seres humanos já foram presenciadas. Entre os casos mais recorrentes estão o de apreensão de aves e atropelamento de mamíferos. Um dos casos lembrados pela equipe é o de uma capivara fêmea, que em maio chegou ao Nurfs com aproximadamente sete meses de idade. Ela estava sendo criada em cativeiro ilegal há um mês e, devido à coleira feita de corda com a qual era mantida presa, apresentava escoriações graves no pescoço. Curada, foi devolvida à natureza.

Um mês após, um graxaim-do-mato foi encontrado atropelado na BR-116. O animal apresentava dificuldade de locomoção após luxação na articulação do fêmur e da patela, além de ruptura de ligamento do joelho e fratura em tarso. Após passar por cirurgia, ele foi recuperado, voltou a andar e retornou ao seu meio ambiente natural.

Atualmente, a maior parte dos animais sob os cuidados da equipe é de órfãos. Os dois bugios ruivos, assim como o Chiquinho, pequeno da mesma espécie, foram resgatados após perderem a mãe. Chiquinho, por exemplo, chegou ao núcleo há algumas semanas, com cerca de seis meses. Para que seja possível se desenvolver sem o leite materno, é alimentado com comida especial, além de receber mamadeira três vezes por dia pelas mãos do médico veterinário Paulo Bandarra.

Outros desfechos, no entanto, não são de tanta felicidade. Em abril, uma fêmea de jacaré-do-papo-amarelo foi encontrada atropelada na BR-471. Inconsciente no momento do atendimento, ela apresentava fraturas nas costelas e traumatismo no crânio. A reversão do quadro clínico tornou-se impossível e o animal passou por eutanásia.

Outro caso triste foi de um outro réptil que chegou ao local com a coluna vertebral fraturada, ficando sem o movimento das patas traseiras. A bióloga conta que, à época, o caso gerou uma comoção grande, pois ele também precisou passar por eutanásia. "Às vezes um animal silvestre chega e a coisa mais honrosa que você pode fazer por ele é eutanasiar. Muitas vezes ironizam que fomos buscar o animal e fizemos isso. Tentamos manter, só que não tem como, ele é um animal silvestre, precisa correr, caçar, ou perde totalmente a função biológica. Perdendo isso, se perde quem é. Mas a gente sofre também", explica a médica veterinária Raqueli França.

Capacidade afetada

O Nurfs funciona por meio de aporte financeiro da UFPel e através de doações. Com os cortes na destinação de dinheiro à instituição, o estoque de ração, medicamentos e insumos hospitalares está contado. Frutas e sementes, que servem como refeição, foram reduzidas com o freio imposto pela crise financeira, que fez com que mercados e fruteiras, antes apoiadores, parassem de ajudar.

Juntamente com o entrave financeiro, o núcleo precisou reduzir sua capacidade de recebimento de animais. "Houve uma época em que tivemos mais de 400 pássaros. Atualmente seria inviável para nós lidar com o custo de manutenção do prédio, 13 pessoas, mais ração e medicação. Diminuímos porque chegava em um momento que a gente ficava sobrecarregado, não conseguia atender toda essa demanda", afirma Greice.

Ocupando o mesmo espaço desde 2005, os profissionais percebem as salas ficando pequenas e a necessidade de aumento bate à porta há muito tempo. O local para ampliação é de propriedade da universidade, o que faltam são materiais de construção. Atualmente, a equipe supõe que, em caso de chegada de um mamífero de médio ou grande porte, por exemplo, não há um espaço adequado para o acompanhamento.

Problema estrutural

A bióloga explica que diariamente a equipe sente as brutas e cada vez mais recorrentes ações humanas contra a fauna. "Existe todo um problema na base dessa estrutura que acaba tornando nítidos os resultados no Núcleo. A destruição de habitat, a irresponsabilidade no trânsito, a caça, a captura ilegal, quando colocam dentro de uma gaiola para deixar em casa", cita. A profissional conclui que os problemas citados devem ser tratados com educação e medidas mais punitivas, atualmente escassas.

De acordo com o Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas, mais de 15 animais morrem nas rodovias brasileiras a cada segundo. Seguindo os dados, diariamente morrem mais de 1,3 milhão de animais. A grande maioria dos animais mortos por atropelamento é de pequenos vertebrados, como pequenas aves e cobras. Seguido por animais de médio porte, como gambás, lebres e macacos, e os de grande porte, como lobos-guarás, antas e capivaras.

Como ajudar?

Para que o trabalho possa seguir sendo realizado, a equipe do Núcleo de Reabilitação busca auxílio junto à comunidade e frisa que os materiais pedidos não precisam ser novos. A entrega destes pode ser feita diretamente no Nurfs, no Campus Universitário Capão do Leão, Prédio 39, próximo ao portão, em frente à Igreja ou no saguão do Colégio Municipal Pelotense.

Itens necessários

- Cordas e mangueira
- Caixas de transporte
- Móveis ou eletrodomésticos
- Materiais de construção (telas, tijolos, cimento, telhas)
- Itens para alimentação de aves (alpiste, milho, sementes, casca de ovo)
- Itens plásticos (baldes, potes comuns, caixas organizadoras)
- Tecidos (toalhas, cobertores, lençóis)

Mais informações

Através do email: [email protected]
Instagram: @nurfscetas

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