Educação
Em busca de opções para terminar o ano
Estudantes da região que dependem das escolas públicas da rede estadual temem não concluir o Ensino Médio devido à greve, que chega aos dois meses
Eles compreendem os motivos dos seus professores. A maioria diz apoiar a greve, inclusive. No entanto, os alunos da rede pública estadual não escondem a preocupação com a falta de aulas que neste final de semana completa dois meses. Em quase todas as cidades da 5ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) são estes educandários os únicos a oferecerem Ensino Médio. O que agrava a situação de quem está se preparando para disputar vaga em uma universidade e não vislumbra um fim para o impasse entre o governo gaúcho e o magistério.
Nesta situação estão sobretudo estudantes dos dez municípios da região onde a adesão é total ou parcial à mobilização liderada pelo Cpers: Arroio do Padre, Arroio Grande, Capão do Leão, Herval, Jaguarão, Morro Redondo, Pedro Osório, Piratini, São Lourenço do Sul e Turuçu. São pelo menos 162 professores em paralisação de acordo com informações obtidas pelo Diário Popular junto às escolas, secretarias municipais de Educação e 5ª CRE.
Cada uma com apenas uma escola estadual de Ensino Médio e ambas com 100% do quadro em greve desde 5 de setembro, as cidades de Arroio do Padre e Turuçu são exemplos da gravidade da crise. "Tenho consciência de que nossos professores estão lutando pelos direitos deles e estão certos. Mas estamos com medo da preparação para o Enem. Acho que não estou à altura de competir com quem não esteve de greve", queixa-se Pedro Weber, 17, aluno do 3º ano da Escola Estadual de Ensino Médio Arroio do Padre. Sem previsão de acordo que permita aos 228 adolescentes retornarem às aulas em breve e sem transporte escolar nos meses de janeiro e fevereiro, a diretora Luciane Vitória chegou a reunir os pais para alertar da possibilidade de terminar o ano de 2017 só em março.
Situação semelhante à da Escola João Simões Lopes Neto, em Turuçu. Com os 16 funcionários protestando contra o parcelamento de salários, nenhum dos 183 estudantes do Ensino Médio está tendo aulas. O resultado é que já houve até quem pedisse transferência para Pelotas para não perder o ano. Saída, aliás, que vem se tornando cada vez mais avaliada pelos estudantes não só de cidades com uma única escola de Ensino Médio.
Na estrada rumo ao sonho da Veterinária
Após quase dois meses esperando o fim da greve, Rafaela Schmalfuss, 17, resolveu ir até o Instituto Educacional Dr. Walther Thofehrn, em São Lourenço do Sul, em busca de mais informações. E o que ouviu não foi bom. "A direção não soube me dizer nem se as aulas voltam esse ano. Estou a caminho do Enem para tentar cursar Veterinária e não posso arriscar", conta. O jeito foi buscar uma vaga no município vizinho de Cristal. Durante novembro ficará hospedada na casa da família do namorado, mas a partir de dezembro precisará dividir o tempo entre os estudos e o auxílio à mãe no comércio da família. Serão duas viagens diárias de 50 minutos, ida e volta, para poder concluir o 3º ano na Escola Bento Gonçalves da Silva, onde não houve adesão à paralisação.
O coordenador da 5ª CRE acredita que o movimento de alunos que ocorre entre municípios vizinhos é baixo, já que a maioria não conta com parentes onde possam se hospedar e também há a dificuldade do transporte. No entanto, informa que as transferências são efetivadas nos casos em que são solicitadas quando os educandários dispõem de vagas. "Podem até existir casos transferidos diretamente que não cheguem até a coordenadoria, mas creio que não sejam muitos. Hoje temos 61 das 127 escolas funcionando na integralidade nos 18 municípios. Chegamos a ter menos de 40 em alguns momentos", avalia Carlos Humberto Marques Vieira.
Para o 24º Núcleo do Cpers, a orientação do governo do Estado para que as Coordenadorias de Educação facilitem a transferência de estudantes da rede estadual é um erro. "É uma medida de uma hipocrisia sem tamanho e que só prejudica os alunos. Uma coisa é o ano civil e outra o ano letivo. Estes estudantes não vão concluir o calendário de 200 dias de aula", critica Carla Cassais.
Enquanto a greve persiste, quem depende do ensino público estadual se divide entre os estudos por conta própria e o apoio aos professores. "Estamos tristes por estar perdendo aulas. Mas o que nos deixa mais tristes é saber que no Brasil a Educação fica em último lugar, que os nossos professores não são valorizados como deveriam", diz Luiza Oliveira, 17, do 2º ano da Escola Arroio do Padre.
A greve continua
Em assembleia realizada na última terça-feira, às portas do Palácio Piratini em Porto Alegre, os educadores decidiram manter a greve. Na ocasião, professores e funcionários de escola também definiram que as propostas apresentadas pelo governo ao Comando de Greve do Cpers serão avaliadas em assembleias regionais e, com base nisso, poderá ser construída uma contraproposta ao governo.
O governo assumiu o compromisso de fazer o pagamento integral da folha no último dia do mês, a partir de 30 de dezembro de 2017, com as seguintes condicionantes: crescimento econômico nos próximos meses, venda do excedente do controle acionário do Banrisul e adesão do Rio Grande do Sul ao Regime de Recuperação Fiscal dos Estados. Comprometeu-se também em retirar a Proposta de Emenda Constitucional 257/2016, que propõe revogar o artigo 35 da Constituição Estadual, acabando com a obrigatoriedade de pagar em dia os salários e o 13º dos servidores, e em não demitir os professores e funcionários de escola com contratos temporários, que aderiram à greve.¶
Propostas de mobilização aprovadas
- Continuidade da greve;
- Participação na atividade unitária com o Simpa, estudantes e Cpers/Sindicato na segunda-feira;
- Realização de pressão na Assembleia Legislativa, dia 7, por ocasião da votação dos PLCs e PLs de reestruturação do IPE;
- Participação no Marco Nacional de Lutas contra as Reformas da Previdência e Trabalhista, no dia 10;
- Realização de Aulas cidadãs contra todas as reformas que atingem os trabalhadores e entrega do patrimônio nacional. Pela manutenção do PLC 024/2017 _ Fundeb;
- Realização permanente de Brigadas em defesa da Educação Pública em todos espaços públicos;
- Orientação aos Núcleos para fazerem um abaixo-assinado da Comunidade Escolar e entregar na CRE, exigindo que "Sartori atenda a pauta do Cpers".
- Nota de Solidariedade da Federação Anarquista Gaúcha (FAG).
(Fonte: Cpers)
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