Opinião

Entre a cruz e a espada

Jornalista Pablo Rodrigues analisa na [magis]+, a repercussão na imprensa da ação da BM de Porto Alegre

cabecalho_pablo

A ação da Brigada Militar é frequentemente questionada, principalmente pelos jornalistas. E, como se sabe, jornalistas quase que invariavelmente desconhecem o som de um tiro, o estouro e a surdez momentânea, o calor da arma nas mãos, o cheiro azedo da pólvora, o risco de morrer no exercício da profissão. Desconhecem, mas ainda assim reclamam para si, desde um ambiente seguríssimo, o “direito” de determinar a conduta dos membros dos órgãos de segurança. De fato, somos, os jornalistas, uma raça irritante. E necessária, apesar de tudo.

Em Porto Alegre, na última semana, quatro policiais militares, em confronto aberto pelas ruas, mataram quatro criminosos. Cenas gravadas em celulares por testemunhas do conflito no momento derradeiro, em frente a um hospital, causaram assombro. Primeiro, porque a perseguição e a troca de tiros reforçaram mais uma vez o óbvio: vivemos imersos na insegurança; as cidades, criadas originalmente para servirem de proteção contra o ataque dos bárbaros, são atualmente o ambiente em que as barbaridades se criam, multiplicam-se e ganham novos e mais assustadores contornos. Segundo, porque assistir à morte de alguém, mesmo que sabidamente criminoso, é (e sempre será) um tanto desumanizante. Terceiro, porque ainda existem policiais militares dispostos a arriscar a vida no trabalho, a dar tudo de si, mesmo sabendo que o salário do mês, o mínimo necessário para garantir condições dignas de sobrevivência, poderá chegar em conta-gotas, em sete parcelas.

Os PMs envolvidos na ação serão condecorados pelo comando da BM por bravura. A notícia gerou polêmica. Principalmente porque uma das mortes, para quem a assiste pelos vídeos publicados na internet, pode ser facilmente considerada execução. Pode ser facilmente questionada, como fez, ainda que de maneira esquisita e atrapalhada nos argumentos, uma apresentadora de televisão de Porto Alegre. Quem olha as cenas realmente se pergunta se aquela vida não poderia ser poupada. O homem estava no chão. Já havia sido atingido.

Volta-se, contudo, ao início do texto. Jornalistas - e com eles grande parte dos críticos da atuação da BM - desconhecem o principal: o risco iminente de vida. A julgar pelo arsenal dos criminosos, que incluía um fuzil, pode-se ter uma mínima ideia do tamanho do problema que os policiais enfrentavam. Por isso, apressar-se ao julgá-los é, sim, prestar desserviço à sociedade.

Estou longe, muito longe mesmo, de fazer coro àquele estúpido slogan de que “bandido bom é bandido morto.” A criminalidade é o fruto amargo - não totalmente, mas em grande parte - da injustiça social no país. O combate ao crime passa, necessariamente e antes de tudo, por políticas públicas de inclusão. Estou longe também de ser um defensor cego das ações das polícias militares no Brasil. Porém, estou ainda mais longe de criminalizar a BM por, simplesmente, existir, portar armas, fazer o seu trabalho e buscar se defender.

A condecoração aos policiais envolvidos na ação em Porto Alegre é um reconhecimento importante. Tenho a mais plena certeza, contudo, de que os quatro policiais a serem condecorados trocariam a honraria por melhores condições salariais e de infraestrutura para toda a categoria.

A ousadia dos criminosos aumenta na exata proporção com que o Estado se ausenta. As maiores cobranças devem recair sobre o colo de José Ivo Sartori (PMDB), eleito para governar, não para se eximir de tudo, como tem feito até aqui.

Que os possíveis excessos dos policiais em Porto Alegre sejam punidos severamente, mas que não se deixe de reconhecer o óbvio: eles arriscaram a vida para proteger a sociedade.

Em outras palavras, arriscaram a vida para proteger a mim e a ti, caro leitor. E isso não é pouco.

cristo redentor_Divulga??o Brigada Militar

 

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

Médicos estatutários seguem mobilizados

Próximo

EUA enviam mais 250 soldados para apoiar luta contra Estado Islâmico

Deixe seu comentário