Velozes e furiosos
Entre aceleradas e freadas
Passageiros reclamam da velocidade empregada por alguns coletivos nas ruas de Pelotas e pedem mais cuidado dos motoristas
Paulo Rossi -
Não são apenas os atrasos de algumas linhas que têm incomodado boa parte dos 70 mil passageiros diários do transporte coletivo de Pelotas. A velocidade de alguns veículos pelas ruas e avenidas também chama a atenção. Após a adoção de pistas específicas - os corredores - tornou-se comum flagrar ônibus circulando em velocidades acima das permitidas nestes trechos. Além de se tratar de uma infração de trânsito que pode resultar em multa, a correria preocupa usuários, que dizem se sentir inseguros com motoristas que possuem o pé mais pesado do que deveriam. Para verificar as queixas, o Diário Popular andou em linhas bastante utilizadas do transporte coletivo monitorando a velocidade através de aplicativo de mapeamento em tempo real via GPS - a exemplo do usado pela prefeitura - e também conversou com passageiros.
Verani Duarte, 55 anos, é uma das pessoas que já entram nos ônibus com cuidado redobrado e buscando rapidamente um assento. Moradora do loteamento Santos Dumont, conta que as freadas bruscas que às vezes se fazem necessárias quando o coletivo anda muito rápido são tão perigosas quanto a velocidade em si. "Já vi muita gente se machucar por causa disso. É só cruzar algum carro na frente ou precisar desviar de um pedestre. Minha mãe, que tem quase 80 anos, já caiu e fraturou uma costela", relata a dona de casa.
Na linha Cohabpel/Anglo, bastante usada por atravessar a área central da cidade até as proximidades do campus da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a reportagem embarcou às 14h10min da última segunda-feira em frente à Cohabpel. Em boa parte do caminho, tudo tranquilo por conta do fluxo de trânsito no horário, o que impediu qualquer intenção de circular pela rua Marechal Deodoro acima de 35 km/h. No entanto, ao pegar caminho livre a partir da Almirante Barroso, o ritmo aumentou. Na Benjamin Constant o velocímetro chegou a alcançar 51 km/h, superando em mais de 20% o limite de 40 km/h para a via e caracterizando uma infração média de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Caso fosse flagrado, o condutor poderia ser multado em R$ 130,16.
O secretário executivo do Consórcio do Transporte Coletivo de Pelotas (CTCP), Enoc Guimarães, confirmou que tanto sua equipe quanto a prefeitura realizam o monitoramento em tempo real dos 210 ônibus e 12 micro-ônibus do transporte urbano. Segundo ele, não chegam a ser incomuns registros de excessos, embora destaque que sempre que um motorista é flagrado pelo GPS é notificado a dar explicações. "Qualquer veículo que superar em 7 km/h a velocidade máxima da via é apontado e o condutor é advertido pela infração e precisa justificar", explica.
Corredores não foram feitos para correr
Apesar do nome que receberam, as novas pistas de concreto para o transporte coletivo não liberam os ônibus para andar mais rápido do que o já estabelecido para as vias. No entanto, o coletivo em que a reportagem embarcou na tarde de segunda com destino à Zona Norte da cidade - linha Cohab II, via Alfredo Dub - ignorou o limite de 40 km/h para o corredor da General Osório e chegou a 50 km/h entre a rua Antônio dos Anjos e a avenida Dom Joaquim.
A ansiedade por andar rápido no corredor é tamanha que mesmo a partir da Amarante, onde o corredor da Osório é compartilhado e pode ser utilizado por outros veículos, veículos leves que circulam - dentro da velocidade permitida - chegam a ser pressionados por ônibus que pedem passagem buzinando e dando sinal de luz para que os carros deixem o caminho livre.
Ações como essas preocupam quem depende do transporte coletivo. "Onde tem trânsito até vão devagar. Mas quando pegam uma avenida ou uma rua livre eles aceleram. Ou a gente se segura ou cai mesmo", reclama o estudante Kévin Torres, 16, usuário da linha Py Crespo.
Aos 80 anos, Valdir Souza conhece perfeitamente a insegurança da combinação velocidade e freadas bruscas. Usuário frequente da linha que leva do Centro ao Arco-Íris, o aposentado conta ter visto uma mulher desmaiar à sua frente após uma queda e ele mesmo já se feriu quando o motorista precisou brecar repentinamente para evitar um acidente. "Quase me mataram há dois meses. Por sorte bati a cabeça em um banco de plástico, pois se tivesse sido em uma daquelas barras de ferro poderia ser pior", lembra o aposentado.
Nem mesmo em ruas menores, dentro dos bairros, a velocidade é reduzida. A regra geral, não havendo obstáculos, é andar no limite, independentemente da qualidade da via, a exemplo do observado pela reportagem na rua Miguel Faria da Rocha, onde o ônibus circulou a 40 km/h em meio a buracos e desníveis. "Não sei se é pressa ou o que é, mas andam rápido no corredor do Centro e também em ruas esburacadas. Não precisa disso, alguém pode se machucar, ainda mais o pessoal idoso", critica a estudante Marina Medeiros, 17.
O que diz a SMTT
Para a Secretaria Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT), o excesso de velocidade deixou de ser um alvo frequente de reclamações de usuários a partir da implantação do GPS em todos os ônibus. Segundo Flávio Al Alam, mesmo nos casos em que os limites são ultrapassados, não há exagero. "Não deveria acontecer, porém não chega a ser uma correria. Acredito que seja muito mais uma sensação das pessoas porque o trânsito está fluindo mais, sobretudo nos corredores", avalia.
Sobre o uso compartilhado dos corredores, Al Alam afirma que após a Amarante os motoristas de ônibus não podem exigir que carros e motos deixem a pista de concreto, exceto quando os veículos estiverem prejudicando o fluxo ou parados, o que não é permitido nem para embarque e desembarque. Para evitar confusões sobre onde a faixa da Osório é exclusiva ou compartilhada, na próxima semana devem ser instaladas placas aéreas nos cruzamentos com a Argolo e com a Amarante informando a regra para tráfego nos corredores.
A quem reclamar
O usuário que flagrar irregularidades nos ônibus pode registrar reclamações ao CTCP através do 0800-609-2999, das 5h até a 1h ou através do e-mail [email protected]. Também pode entrar em contato com o Departamento de Transportes da SMTT pelo telefone 3227-5402. É preciso informar o problema, a linha e o horário.
Os números
- Desde o começo de 2017 foram registrados 148 ACIDENTES envolvendo ônibus em Pelotas
- No mesmo período foram 60 MULTAS por infrações de trânsito.
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