Reconhecimento

Entre os oito melhores da América do Sul

Projeto de sustentabilidade desenvolvido pelo IFSul foi selecionado entre os cem melhores do mundo

Paulo Rossi -

Dentro de um pequeno laboratório do segundo andar do curso de Química, do Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IFSul), três mulheres desenvolveram um projeto que está entre os oito melhores da América do Sul e entre os cem selecionados em todo o mundo. Trata-se do projeto Co-pirólise do Caroço de Pêssego Com Polietileno de Baixa Densidade. Em uma "tradução livre" significa a queima do caroço com plástico. O projeto atraiu a atenção da Schneider Eletric, multinacional que promove o Go green in the city, desafio mundial em busca de ideias inovadoras aliadas à sustentabilidade.

Todo o projeto é orientado pelo professor Pedro José Sanches Filho e executado pelas duas alunas de graduação de Engenharia Química Gabriela Oliveira Andrade, 23, Carolina Santos Duarte, 23, e a mestranda em Engenharia e Ciências Ambientais Lidiane Schmalfuss Valadão, 28. O que chamou a atenção no desafio, explicam, foi a possibilidade de solucionar dois problemas com uma única alternativa. Juntam-se os caroços do pêssego, matéria-prima abundante na região, com o plástico, também produzido em grande quantidade e um problema ambiental em praticamente todo o mundo. "Um projeto desses mostra a importância da instituição pública de ensino conectada com a realidade local", destaca o professor.

Diferente da combustão popularmente conhecida, a co-pirólise não contém oxigênio e é aquecida a partir do nitrogênio. Desta "queima" do caroço e do plástico, as pesquisadoras explicam que se obtém três diferentes produtos: uma espécie de bio-óleo, uma fração aquosa e um gás de baixa densidade.

"Cada um destes três elementos pode ser utilizados para múltiplos fins. O bio-óleo, por exemplo, pode substituir um combustível fóssil e tem poder de combustão quatro vezes superior à madeira. O gás pode ser utilizado para mover uma turbina e gerar energia elétrica. São muitas possibilidades", explica Gabriela.

Adaptável e sustentável
Os trabalhos desenvolvidos pelo grupo começaram em 2016. Pedro estudo a pirólise da casca do arroz desde 2015. "São matérias brutas abundantes da nossa região e muitas vezes viram um problema ambiental ou até mesmo para a indústria dar uma destinação final", indica o professor. O caroço de pêssego pode ser substituído por outras biomassas, como a própria casca de arroz e matérias oriundas de outras culturas, como cana de açúcar e côco, conforme a especificidade de cada região. Entre uma experiência e outra, às vezes escapa das pesquisadoras a dimensão e as inúmeras possibilidades geradas pela pesquisa.

Do chão da agroindústria ao mundo
Prestes a se tornar mestre, Lidiane já trabalhou em uma agroindústria do pêssego. De lá, partiu para estudos ambientais e o currículo se estende: especialista em química ambiental, tecnóloga em gestão ambiental, tecnóloga em saneamento ambiental e técnica em química. Como cursa a modalidade mestrado profissional, como conclusão é necessário apresentar um projeto viável e exequível. Uniu a experiência pessoal à pesquisa, ou o útil ao agradável. "As vezes ficam montanhas de caroços nas indústrias de conservas e há dificuldade de dar a eles um destino final", contextualiza.

Matéria prima na região
A safra 2017/2018 na região produziu 75 mil toneladas. 10% disso são caroços, indicam as pesquisadoras, ou 7,5 toneladas. Pelotas, a maior produtora de pêssego do Brasil, possui hoje 605 produtores em uma área superior a três mil hectares. Em Canguçu são 480 produtores e em Morro Redondo outros cem. Pelos dados do Emater, hoje são mais de 1,2 mil produtores na região, enumera Rodrigo Prestes, engenheiro agrônomo da empresa pública. Já o plástico é praticamente incalculável a presença.

O prêmio
O vencedor da etapa continental será revelado no dia 27 de agosto. A final será em Barcelona, na Espanha, em outubro. A competição busca ideias que representem soluções inteligentes e sustentáveis para as cidades. O grupo das estudantes de Pelotas se chama Chem Girls e, desde o começo deste mês, elas contam com um mentor designado pela multinacional para aprimorar a iniciativa. "Além do reconhecimento, tem também este outro lado, da troca de conhecimentos, da visão de uma pessoa de fora do projeto, que potencializa ainda mais a pesquisa", diz Carolina. A premiação também prevê uma distinção especial para um grupo que seja formado somente por mulheres, como é o caso das estudantes do IF-Sul. Na última edição foram inscritos mais de 170 mil projetos em todo o mundo.

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