Dados

Envelhecimento da população pede novas políticas públicas

Tendência é de que a parcela de pessoas com mais de 60 anos seja ainda maior nos próximos anos

Jô Folha - DP - A Esef-UFPel oferece aulas de ginástica e musculação gratuitamente para cerca de cem idosos.

A velhice chega para todos. Com as estatísticas apontando para a maior longevidade da população, aliado à menor taxa de natalidade, a tendência é de que a parcela de pessoas com mais de 60 anos seja cada vez maior, e a estruturação das cidades para acolher os idosos começa a se tornar uma prioridade para os governos. Além da longevidade, é preciso buscar que a velhice seja de dignidade e qualidade de vida na terceira idade.

Dados divulgados pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE) do governo do Estado na última semana confirmam essa tendência na população do Rio Grande do Sul. Segundo o estudo, para cada cem pessoas com até 15 anos de idade, há outros 75 moradores do RS com 65 anos ou mais. Na comparação com 2010, quando havia 43 idosos nessa idade para cada cem pessoas até 15 anos, houve uma alta de 74% no indicador. Para 2060, a projeção é de que o número de idosos cresça enormemente: serão 207 pessoas com 65 anos ou mais para cada cem pessoas com menos de 15 anos.

Em Pelotas, cruzando dados da Justiça Eleitoral e do IBGE, o percentual de idosos se aproxima dos 20% da população - são ao menos 65 mil pessoas com mais de 60 anos (números mais exatos serão divulgados no Censo). Os números acompanham uma tendência nacional.

Segundo o IBGE, a expectativa de vida da população brasileira ao nascer era de 77 anos em 2021, um salto em comparação a 2000, quando a expectativa era de 69 anos e, ainda mais, em comparação a 1940, quando a expectativa de vida do brasileiro era de 45 anos.

Esse inevitável aumento da população idosa já começa a ser, hoje, uma preocupação do poder público, que precisa preparar as cidades para habitantes mais envelhecidos. Em Pelotas, foi instituído o Comitê Gestor da Estratégia Brasil Amigo da Pessoa Idosa. Esse grupo busca a articulação de diversos setores, incluindo poder público, entidades não governamentais e universidades, na elaboração de políticas públicas para garantir a qualidade de vida dos idosos.

Atividade física e convivência
Especialistas são unânimes: uma velhice saudável passa, inevitavelmente, pela prática de atividades físicas. Diante dessa necessidade, um projeto da Escola Superior de Educação Física (Esef) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) oferece aulas de ginástica e musculação gratuitamente para cerca de cem idosos. O Núcleo de Atividades para a Terceira Idade (Nati), que completa 30 anos em breve, atualmente é coordenado pela professora Adriana Cavalli. As atividades dos idosos são acompanhadas por estudantes voluntários da graduação em Educação Física.

“Tu vê que eles vêm para cá e se sentem pertencentes a esse grupo. Muitos não têm mais filhos em casa, aqui eles encontram seus amigos”, diz Adriana, que destaca ainda que a atividade física é fundamental, já que, com o envelhecimento, há perda de massa muscular, e exercícios garantem maior qualidade de vida e autonomia.

A professora afirma que a integração da universidade com o público idoso é fundamental pra formar profissionais capacitados, diante de uma população em envelhecimento. “Em pouco tempo, de cada quatro brasileiros, um vai ser idoso. Os nossos alunos têm que estar prontos para o mercado de trabalho quando estiverem fora daqui”, resume.

Camilla Villanova tem 83 anos e participa das atividades da Esef há 20. “É maravilhoso. A gente conversa com as colegas, faz os exercícios. É outra vida, eu melhorei muito depois que vim para cá”, compartilha. Ela, que foi cabeleireira e massoterapeuta, garante que consegue manter uma vida funcional e com autonomia graças aos exercícios físicos. “Eu faço todo o meu trabalho de casa, corto cabelo, faço massagens e cuido dos netos”

Cloé Dornelles é um pouco mais jovem: tem 82 anos, e participa dos grupos há 18 anos. “Faço ginástica, é maravilhoso. Eu faço de tudo, a gente troca ideia, a gente conversa. Também faço ginástica rítmica, tô até ensaiando pra me apresentar na Fenadoce. Na minha casa, faço todo o serviço. Eu saio daqui muito contente.”

A decana da turma é Terezinha Cóssio, de 91 anos. “Na minha idade, faço coisas que pessoas de 60, 70 anos não fazem, por exemplo, atar o tênis. Faço com facilidade. Ainda dirijo e a cabeça tá boa!”, diz, garantindo que o hábito da leitura tem sido fundamental para manter a saúde.

Em meio ao grupo de idosos, Pamela Cardoso, de 23 anos, está no oitavo semestre da faculdade de Educação Física e é voluntária no projeto. “A gente cuida da parte mental das pessoas, elas vêm pra treinar, mas também estão socializando”, diz a estudante, que ressalta a importância de ter uma formação voltada aos idosos. “Trabalhando com esse público, a gente percebe que muda a vida deles. É isso que me faz feliz em poder estar na Educação Física, poder transformar a vida de alguém”.

Idosos com mais de 60 anos interessados em participar das atividades na Esef podem se inscrever na lista de espera gratuitamente no campus, que fica na rua Luiz de Camões, 625, na Tablada.


Cidades precisam se preparar

Ter cidades acolhedoras e que proporcionem uma vida digna para os idosos de amanhã começa hoje. Com o inevitável aumento de habitantes idosos, é preciso que as políticas públicas comecem a levar em conta essa população. Em 2022, Pelotas passou a integrar a Rede Global de Cidades e Comunidades Amigas das Pessoas Idosas, da Organização Mundial da Saúde (OMS), um passo importante na busca de políticas públicas para garantir uma comunidade mais acolhedora para os idosos, em busca da certificação como Cidade Amiga do Idoso.

O Conselho Municipal do Idoso acompanha de perto as ações voltadas à população idosa. Seu presidente, Lélio Falcão, ressalta que é preciso que as medidas sejam adotadas mais rapidamente. “Tem que ampliar as ações pros idosos. Uma cidade amiga do idoso é amiga do cadeirante, do cego, da gestante, do jovem. É amiga de todos, e nós temos muita coisa pra fazer para tornar ela um pouco melhor”, diz.

Dentro dessas estratégias, o secretário de Assistência Social, Tiago Bündchen, diz que a pasta não atende a públicos específicos, e que tem um atendimento voltado à família, abrangendo todas as faixas etárias, e que uma das ações para garantir dignidade à velhice é o fortalecimento de vínculos familiares. “Nós temos um grande número de idosos em situação de vulnerabilidade, abandonados. Alguns com violações graves de direitos”, afirma, dizendo que há maior dificuldade para rastrear casos de abusos a idosos.

O secretário considera que, para se chegar à velhice com dignidade, é necessário oferecer hoje condições para que as pessoas em vulnerabilidade tenham melhores condições de ascensão financeira. Bündchen cita a oferta de cursos profissionalizantes que permitem a qualificação de mão-de-obra para o mercado de trabalho. “Precisamos trabalhar hoje na vulnerabilidade da pessoa adulta para que, quando chegue na velhice dessa pessoa, ela tenha condições melhores do que hoje de se sustentar”, explica.

A nutricionista Laura Leal, da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), participa da Rede de Atenção às Pessoas com Doenças Crônicas, no eixo especial de atenção às pessoas idosas. Ela diz que a rede tem um trabalho que vai além do cuidado à saúde. “Essas ações têm o objetivo de promoção da saúde, fortalecimento dos vínculos familiares, com a sociedade, e principalmente, a manutenção da capacidade funcional dos idosos e da sua autonomia”, diz.

Laura explica que o trabalho voltado aos idosos é intersetorial, e vai além da saúde e da assistência social, integrando o poder público e a sociedade. “A Secretaria de Saúde coordena e presta apoio ao Comitê Gestor da Estratégia Brasil Amigo da Pessoa Idosa, uma proposta do governo federal a que o Município aderiu em 2019. É como se fosse uma orientação para que o Município possa promover um envelhecimento ativo e saudável, e também um compromisso com a efetividade do Estatuto do Idoso”, detalha.

Atualmente, o comitê está fazendo um diagnóstico da situação das políticas públicas para idosos em Pelotas para, em seguida, elaborar um plano municipal para traçar os próximos passos para tirar melhorias do papel.

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