Exemplo
Escola dá lugar à moradia
Colégio Pelotense vira área de acolhida a moradores de rua, que passam a ter acesso a banho, máquina de lavar e quatro refeições diárias
Jô Folha -
O Colégio Municipal Pelotense virou, desde a última quarta-feira (22), uma casa temporária para pessoas em situação de rua. Em cinco salas de aula, 50 leitos foram montados para receber aqueles que não têm como fazer o isolamento social sob um teto próprio. Na primeira noite, 19 camas foram ocupadas. Durante o dia, mais de 60 pessoas foram recebidas para as refeições, e a satisfação de cada um em estar ali era nítida. A circulação pelo pátio interno é livre, além da oferta de atividades de conscientização por parte das equipes da Secretaria de Assistência Social (SAS), que espera um aumento na procura - o levantamento da pasta considera que, durante o ano, cerca de 90 pessoas passam as noites ao relento em Pelotas.
A iniciativa é resultado da união de dois serviços municipais voltados ao público em situação de extrema vulnerabilidade social: o Centro Pop e a Casa de Acolhida. “É um serviço 24 horas pensado para essa população”, explicou o titular da SAS, Márcio Sedrez. Além de banho e máquinas de lavar roupas, são oferecidos café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar. Luiz Rafael, 29 anos, passou a primeira noite em um dos dormitórios e elogiou o espaço. “É bem amplo, as camas são separadas e o espaço é arejado”, avalia. Há um ano como morador de rua, ele tem como principal atividade a de guardador de carro, o que também tem sido difícil de realizar. Com receio, muitas pessoas nem abrem a janela dos carros para conversar ou entregar algumas moedas.
Quem não passou por lá durante a primeira noite, foi pela manhã e à tarde. É o caso do William, de 20 anos. O jovem foi aluno do colégio e ficou muito feliz com o serviço prestado no local “Era tudo que a gente precisava”.
Após entrar no colégio, as saídas são regradas por grupos. Muitos dos frequentadores dos serviços da SAS são dependentes químicos e fumantes, além de exercerem atividades na rua em busca de alguns trocados, como cuidar carros e recolher materiais reciclados. A coordenadora da Coordenadoria de Políticas Públicas para a Mulher, Luciana Custódio, também envolvida nas ações, ressalta a necessidade de tornar o espaço acolhedor, como uma moradia. “Temos que pensar nisso como a casa deles. Estamos trabalhando para otimizar os quartos, trazer quadros, fazer com que eles se sintam em casa”, frisou. Através da SAS, uma remessa de máscaras de proteção para população de rua foi feita, ainda sem definição de data de entrega. “Eles precisam entender que esse espaço é pra eles. Não é um favor, é um direito que eles têm”, completou.
Saúde e moradia são direitos de todos
Antes de entrar no prédio, todos passam por uma triagem obrigatória de aferição de temperatura e sintomas gripais feita pela equipe. Caso sejam identificados sintomas da Covid-19, a pessoa é encaminhada para a Unidade de Pronto-Atendimento do Areal. No Centro Pop, um espaço com oito leitos de isolamento foi montado para abrigar pessoas diagnosticadas com o novo coronavírus - nenhum caso registrado até então. Fora isso, no colégio, uma revista com detector de metais também é realizada.
Dos seis dormitórios montados no Pelotense, um é voltado ao público LGBT, para evitar qualquer episódio de violência ou discriminação. As mulheres, menor público dessa população, também podem solicitar à equipe técnica um quarto privado. O grupo de profissionais, formado por psicólogos e assistentes sociais, fica de prontidão durante o horário de atendimento do serviço.
Diferente dos demais serviços da SAS, para ingressar no colégio os moradores de rua não precisam apresentar a ficha de antecedentes criminais. Como explicou a assistente social Adriana Silveira, a maioria não tem acesso à internet ou recursos para impressão. “Assim que normalizarmos a internet por aqui, vamos fazer esse trabalho. Eles não vão deixar de entrar sem ter a ficha em mãos”, afirma. Trabalhos de conscientização das distâncias entre pessoas e outras formas de prevenção contra o coronavírus seguem, em dinâmicas no pátio e rodas de conversa. Atividades culturais também estão sendo planejadas.
Os moradores podem chegar no local até as 19h, momento em que a janta é entregue e todos precisam se preparar para dormir. A montagem dos dormitórios, organização da lavanderia e carregamento de materiais foi feita pelos voluntários do serviço de Mão de Obra Prisional (MOP), realizado por apenados dos regimes semiaberto e aberto do Presídio Regional de Pelotas.
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