Depois de mais de oito anos de espera, a primeira Escola de Educação Infantil do programa Proinfância abre as portas nesta segunda-feira (9), no Navegantes, em Pelotas. As aulas, que chegaram a ser programadas para o dia 4, não iniciaram. O Diário Popular voltou a circular por localidades que devem receber as nove instituições - de um total de 14 anunciadas em 2011 - e, mais uma vez, a cena é de abandono. Obras paradas, lixo e desperdício do dinheiro público. Apenas outras duas escolas estão em construção e também prometem ser inauguradas em 2020.

No Vasco Pires, no bairro Areal, corrente e cadeado seguem no portão. Precaução absolutamente inútil. A tela em boa parte do muro já foi furtada e o acesso ao local é livre. Um cavalo pastando, fezes de equino por todo o lado e carcaças de aparelhos de TV são o retrato da demora. A placa na frente do terreno serve apenas para confirmar: a Emei, orçada em R$ 1.628.116,21, deveria estar pronta desde novembro de 2017.

No Sítio Floresta, o cenário se repete. Ao invés de atividades de ensino, mato alto, formigueiros enormes e pedaços de colchão. As paredes que deveriam dar sustentação à escola, desmoronam e se acumulam. E o pior: a instituição faz falta à comunidade. "Uma creche aqui seria muito bom. Já avisei a patroa que quando acabar minha licença-maternidade, não tenho como voltar", conta a babá Brenda Barboza, 24. Sem familiares com disponibilidade de tempo para ficar com a pequena Lavínia, de três meses de idade, não valerá a pena trabalhar - avalia. "Será uma troca de moeda. Então vou ficar em casa cuidando dela."

No loteamento Dunas, de novo o silêncio. Nem o burburinho da criançada, que já deveria dar vida à escola, nem o som de máquinas e operários em obra. Só vegetação, mais carcaças de TV e de monitores e degradação.

Dos quatro locais visitados pelo DP, somente na Sanga Funda a construção estava em andamento. A parte civil já está concluída. A fase é de acabamentos e de instalações elétricas e hidráulicas.

Enfim, a primeira escola começará a funcionar

As aulas na Escola Municipal Prefeito Ary Alcântara, no Navegantes, começam nesta segunda-feira (9). Retoques na pintura ainda eram feitos na última quarta, quando o calendário letivo deveria ter iniciado. A instituição, com capacidade para 120 alunos, receberá apenas crianças de zero a três anos. Como de praxe para essa faixa etária, o turno será integral.

Confira o panorama das nove escolas

1) Vila Princesa, Sanga Funda e Sítio Floresta - As três obras serão realizadas pela empresa da cidade de Nova Bassano, GB & GB Construções. A primeira a ser entregue será a da Sanga Funda, com previsão de término até o início do mês de maio. A população da Vila Princesa deve receber a obra pronta até agosto. Já os moradores do Sítio Floresta precisarão continuar aguardando. A Secretaria de Educação e Desporto (Smed) aguarda posição do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para decidir quando terá fluxo financeiro para dar início à construção do prédio.
"Como neste momento estamos construindo uma outra escola, no Sítio Floresta, de Ensino Fundamental, ao menos a demanda para Pré 1 e Pré 2 deve ser suprida em parte", argumenta o secretário Artur Corrêa.

2) Laranjal, Vasco Pires e Navegantes - As obras no Laranjal e no Vasco Pires seguem paradas, sem previsão de data para a licitação que irá definir qual empresa irá assumi-las agora. A Smed espera resposta do FNDE ao pedido de revisão dos valores a serem repassados. Atualmente, as obras já estão estimadas em cerca de R$ 2,2 milhões; mais do que o dobro do previsto quando anunciadas, em 2011. Já a Emei localizada no Navegantes entra em funcionamento hoje.

3) Residencial Eldorado, Getúlio Vargas e loteamento Dunas - As três obras seguem emperradas, sem perspectiva de retomada. Também dependem de posicionamento do FNDE sobre suplementação de recursos.

Relembre o que ficou para trás

Cinco comunidades ficarão sem as escolas: Vila Farroupilha, Colônia de Pescadores Z-3, Monte Bonito - no 9º distrito de Pelotas -, Eucalipto e vila Governaço. Detalhe: a rede municipal de Educação Infantil também ficará sem as vagas que seriam geradas com as Emeis. O governo federal não liberou adequações nos projetos que permitissem às nove instituições acolherem o mesmo número de estudantes que seriam absorvidos em 14 instituições.

Ao longo destes mais de oito anos, foi registrada uma série de problemas envolvendo as empresas encarregadas das obras. O processo, então, foi engolido por novas licitações e reivindicações por mais verba.