Estragos

Esforços e problemas de uma cidade em recuperação

Milhares de pelotenses seguem sem luz após passagem do ciclone e equipes de diferentes órgãos públicos atuam na limpeza e conserto de estruturas

Foto: Jô Folha - DP - Nesta sexta, vários pontos da cidade estavam sendo limpados e reconstruídos

O cenário durante a sexta-feira em Pelotas ainda era de uma cidade em intenso esforço de recuperação dos danos, resultados do ciclone extratropical que atingiu a região entre quarta e quinta-feira, com ventos que passaram dos cem quilômetros por hora e um acumulado de 155 milímetros de chuva, mais do que a média esperada para todo o mês. Conforme levantamento da Prefeitura, 60 casas sofreram destelhamento parcial, mas ninguém ficou desabrigado ou desalojado. Além disso, mais de 300 árvores caíram na área urbana.

Um dia depois do temporal, moradores dos bairros Fragata, Gotuzzo, Santa Terezinha, Cohab Tablada, Areal, Vasco Pires, Cruzeiro e Simões Lopes relatavam continuar sem energia e água há mais de 30 horas. Para tentar minimizar o problema, equipes da CEEE Equatorial atuavam em diferentes regiões da cidade. Segundo a companhia, em toda a área de concessão (72 municípios) foram mobilizadas 500 equipes na rua, cada uma com de três a quatro profissionais. Para a Zona Sul, a empresa afirma ter havido reforço de contingência de cem equipes, com 500 trabalhadores atuando na região. Mesmo assim, a demanda é grande e a demora para religar a energia fez com que até o fim da tarde de ontem, 50 mil clientes da companhia continuassem desabastecidos.

Na Colônia de Pescadores Z-3, o drama de moradores que ficaram isolados da cidade por mais de 24 horas após a cabeceira da ponte desmanchar foi amenizado ontem ao meio-dia. Uma equipe da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) restabeleceu um lado da passagem. Segundo o administrador do 2º Distrito, Luiz Renato Fagundes, o conserto consistiu em cavar até chegar ao buraco que provocou a queda da estrutura para colocar suporte com estacas de madeira e cascalho. Apesar do trabalho, quem ficou isolado ou teve que esperar na fila pela travessia limitada cobraram melhores condições para a localidade. Entre os motivos, além da mobilidade de todos os moradores, estava o fato de que a região dá acesso a produções de arroz e pescado, exigindo uma estrutura melhor planejada para suportar avarias.

O piloto fluvial Tiago Motta, 40, estava no carro com a família na manhã de ontem, à espera da liberação da ponte para poder ir até a cidade buscar exames e para a consulta do filho com o pediatra. "Vamos ter que remarcar, pois sem luz e sinal de Internet não tínhamos como avisar a nossa situação", contou Motta. Já a pescadora Moreci da Silva, 55, demonstrava preocupação com a perda do produto de dias de trabalho. "Se a luz não voltar até esta sexta à noite, vou perder todos os bolinhos de peixe e o pescado que estão descongelando." Apesar das condições das vias da Z-3, ontem uma caminhonete entrou na comunidade e profissionais atuavam para religar a energia.

Fora da Colônia, problemas semelhantes
Bem distante da Z-3, mas com os mesmos problemas, a merendeira Priscila Amaral Amaro, 44, não escondia o descontentamento por continuar sem luz na sua casa, na Travessa 2 do Jardim Europa, Três Vendas, apesar de vizinhos já estarem com abastecimento normalizado. Mesmo ligando para a CEEE Equatorial, continuava às escuras. "Disse que estava em dia com a conta, então pediram para desligar e ligar o disjuntor e nada. Imagino que seja no poste, pois não entendo nada de eletricidade e ficam me perguntando sobre a luz." Ela contou que esperou por uma equipe até as 22h de quinta, como prometido pela empresa, mas ninguém apareceu. Ontem, não recebeu nova previsão, aumentando a preocupação com a perda dos alimentos que poderiam estragar com a geladeira desligada.

Em outro bairro, bastante populoso, as Três Vendas, a técnica em enfermagem aposentada Cândice Beck Rabassa, 47, também estava à espera da concessionária. Ela mora com o marido na rua São João, na Santa Terezinha, e depende da energia elétrica para armazenar insulina. Desde que ficou sem luz, por volta de 1h de quinta-feira, sua preocupação redobrou. "Hoje (sexta) tive que comprar gelo e colocar o medicamento no isopor. Nem vou retirar na Farmácia Municipal, pois não tenho como manter", lamentou. A esperança de Cândice estava no trabalho da equipe da CEEE Equatorial, que trabalhava nas rua Santa Clara e avenida 25 de Julho. "Eles explicaram que os vários galhos e árvores que atingiram os fios deixaram a rede em uma fase só, o que não sustenta, por exemplo, uma geladeira ligada." Mas com o tempo passando e sem a volta da luz, a aposentada já pensava em recorrer a vizinhos para armazenar a insulina.


O pior de todos os transtornos
Conforme a CEEE Equatorial, desde a privatização o número de funcionários aumentou 40%. A demora para a normalização no abastecimento em Pelotas e região teria como explicação, conforme a assessoria da empresa, o fato do ciclone extratropical ter sido o maior fenômeno natural ocorrido na área de concessão desde que a empresa assumiu o controle da CEEE, com danos a postes, transformadores, fios e cabos em diferentes localidades.


Algumas UBSs vão abrir neste sábado
Após reunião com secretários, a prefeita Paula Mascarenhas (PSDB) informou que algumas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) vão abrir neste sábado, das 8h às 12h, para compensar o não atendimento de ontem, quando postos estavam sem energia. São elas: Virgílio Costa, Porto, Sansca, Balsa, Cruzeiro, Navegantes, Lindóia, Sítio Floresta, Bom Jesus, Salgados Filho e Getúlio Vargas.


Abastecimento de água
Sobre os rescaldos do ciclone, a chefe do Executivo, que considerou Pelotas no epicentro do fenômeno natural, explicou que todas as equipes estão trabalhando, sendo que a Prefeitura pediu prioridade à CEEE para as Estações de Tratamento de Água (ETAs).

No fim da tarde de sexta-feira, o Sanep informou que a energia elétrica havia sido restabelecida nas ETAs Santa Bárbara e Moreira, que voltaram a funcionar a pleno e permitindo a normalização do abastecimento de água aos poucos. A ETA Quilombo e o Arroio Pelotas permaneciam sem energia elétrica, o que dificultava o abastecimento das regiões abastecidas pela ETA Sinnott (Areal, Dunas, Bom Jesus, Sanga Funda, Arco-Íris, Vasco Pires, Laranjal, Moradas 2, Liberdade, Arcobaleno e proximidades).

Nos reservatórios, a energia só não estava restabelecida no R13, que abastece a Colônia de Pescadores Z-3.

Eventos cancelados
A grade de programação comemorativa dos 211 anos de Pelotas, celebrado no dia 7 de julho, sofreu alterações. O cronograma deste final de semana, que contava com atividades culturais, shows de artistas locais e desfile de pets da campanha "Todo caramelo é doce", serão remarcados.

Cuidados
Como a prioridade inicial da Prefeitura era retirar os galhos maiores para o trabalho da CEEE Equatorial, a prefeita Paula disse que um mutirão será feito nas áreas verdes e, por isso, pede cuidado à população que for a esses locais. "A cidade ainda oferece risco. Então quem for às praças deve olhar para cima para ver se não tem galhos soltos. Também muito cuidado com cabos soltos que podem estar energizados."

O pedido é reforçado pelo coordenador regional da Defesa Civil, tenente-coronel Marcio Facin. "Não só a intensidade do ciclone, mas também a extensão dele atingiu muitas cidades do nosso litoral. Mas pelo que aconteceu, percebeu-se que a população atendeu ao nosso chamado, tomando cuidado e com isso Pelotas não teve vítimas, nem mesmo pessoas feridas." O coordenador reforça ainda a recomendação para que a população se cadastre pelo SMS 40199, enviando o CEP da residência.

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