Ao final de outubro, após muitas horas de viagem, Any Graterol, 40 anos, finalmente estava em Pelotas. Não sozinha: os três filhos, de sete, nove e 15 anos, a acompanharam na empreitada em busca de trabalho e estabilidade, para, enfim, ter a paz que não tinha na Venezuela. Eles agora fazem parte do grupo de imigrantes do país vizinho que terminam 2019 com um sentimento em comum: esperança.

O ingresso de venezuelanos em Pelotas ganhou força em meados de maio, quando o colapso vivido pelo país vizinho, por motivos políticos e econômicos, ganhou força e resultou em escassez de trabalho e alimentos. Foi naquele momento, que a família de Luis Palma e Gladis Valderrama chegou por aqui, junto de Joana, mãe da venezuelana, Gleydis, filha do casal, e o neto de um ano. Três filhos ficaram em El Tigre.

Desde o início, a família recebeu a atenção da sociedade pelotense como um todo, mas principalmente da Cáritas Diocesana, que prestou auxílio nos trâmites burocráticos da migração e na busca por emprego. O órgão também cedeu, pelo período de seis meses, um imóvel para que os cinco morassem. Com Luis trabalhando, foi possível realizar um objetivo: terminar 2019 em um imóvel alugado por eles mesmos. "É a conquista da independência", comenta Gleydis, que sorri muito a toda vez em que o assunto é mencionado. "Sentimos muita saudade de casa, mas sabemos que estamos melhor aqui. Gostamos muito da cidade e das pessoas, que nos foram muito acolhedoras."

No mesmo período, chegou a Pelotas o jovem Daniel San José, de 19 anos. No caso dele, a esperança é de seguir os estudos em Química, trancados quando a Venezuela se tornou insustentável. Ele realizou a prova do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul) e, mesmo com o obstáculo do idioma, conseguiu ficar na suplência e agora aguarda uma vaga. Daniel espera também a nota do Sistema de Seleção Unificada (SiSU), com a intenção de ingressar na Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

Bem-vindos
Mariano Jimenez, de 20 anos, chegou em outubro junto, da tia. Estava estudando na Venezuela e, assim como Daniel, quer retomar os estudos assim que se estabelecer em Pelotas. O primeiro passo para tal, é a conquista de um emprego. Um teste realizado recentemente em supermercado da cidade pode ser o começo.

Any chegou a Pelotas com a família no mesmo período, após uma longa viagem que passou por Manaus. Recebe atualmente uma ajuda governamental que deve vencer em janeiro, ao que se diz preocupada com o futuro. Mas, no seu caso, a esperança também tem mais corpo. Ela cursa Português para Estrangeiros, projeto da extensão da UFPel, e, após realizar cadastro no Sistema Nacional do Emprego (Sine), recebeu uma possibilidade de ingressar no mercado de trabalho em janeiro. "Já trabalhei como vendedora, caixa, costureira, aceito qualquer coisa", diz.

Direito
Recentemente, a Cáritas Diocesana realizou em Pelotas uma roda de conversa sobre o direito dos imigrantes. Foi a ocasião para que os venezuelanos que aqui habitam se encontrassem e trocassem experiências. O momento serviu também para que o grupo tomasse conhecimento da lei nº 13.445/2017, que estipula direitos e deveres no Brasil para quem é oriundo de outro país - acesso livre a serviços, programas e benefícios sociais, por exemplo.

Durante o encontro, foi discutida a criação de um comitê municipal para tratar dos imigrantes, que são formados, além dos venezuelanos, pelos senegaleses, entre outros grupos. O objetivo é que o coletivo seja composto em parceria com a Cáritas, a UFPel, a UCPel e a prefeitura de Pelotas.