Manifestação
Estudantes do IFSul pedem retorno ao modelo presencial
Ato realizado na tarde desta quinta (3) teve caminhada até a Reitoria para posicionamento contrário à extensão do período de ensino remoto
Jô Folha -
“Eu tô na rua para lutar pelo direito que eu tenho de estudar”. Cantando esta e outras frases, alunos do Instituto Federal Sul-riograndense (IFSul) protestaram na tarde desta quinta-feira (3) em Pelotas contra o novo adiamento do retorno ao ensino presencial na instituição. Ao lado de pais e responsáveis, dezenas de jovens levaram cartazes e caminharam da sede do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), que decidiu por greve sanitária de 15 dias mantendo o modelo remoto, até a Reitoria do IFSul.
A manifestação aconteceu menos de dois dias após despacho publicado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) conceder liminar que posterga a volta ao formato tradicional. A decisão desagradou boa parte dos alunos. Ao longo do protesto, foram citados problemas como perda de qualidade do aprendizado devido ao modelo online, falhas de comunicação da direção com estudantes e responsáveis e demora para a conclusão do curso. Caso os jovens não retornem até março, serão completos dois anos sem o convívio em sala de aula.
“O motivo da insatisfação é que simplesmente não é a mesma coisa o ensino a distância. Se faz necessária a prática, às vezes meus colegas e eu não temos espaço adequado à prática e a conexão [de internet] não ajuda”, diz Mateus Louzada, que cursa Telecomunicações no IFSul e ocupa o cargo de secretário no Grêmio Estudantil Despertar, do Campus Pelotas.
O fato de outras atividades e instituições já terem retomado práticas tradicionais prévias à pandemia, seguindo as recomendações de prevenção ao coronavírus, também incomoda a comunidade acadêmica. “As salas de aula nos tornam iguais e nos dão melhor aprendizado. Observando que estádios de futebol e bares já estão funcionando normalmente, a maior parte dos estudantes considera que o IF pode voltar”, completa Mateus.
Manifestantes entendem que há segurança
Uma das faixas elaboradas pelos organizadores do ato dizia que “a indignação superou o medo”. A mensagem dos alunos é clara: existem condições sanitárias suficientes para minimizar a possibilidade de contrair Covid-19. A estrutura do campus Pelotas é considerada satisfatória para garantir distanciamento e ventilação. O uso de máscaras seria obrigatório, assim como a apresentação do comprovante vacinal.
“Nós pedimos ao Sinasefe que tentassem apostar na segurança que o IFSul está tentando proporcionar. No Conselho Superior do IFSul, conseguimos, através da Frente Ampla IFSul, garantir que o instituto fornecesse máscaras PFF2/N95, que são de altíssima proteção, e ainda há o passaporte vacinal exigido, mais um ponto a se levar em consideração para o retorno”, explica a presidente do Grêmio Estudantil Despertar.
A presidente do Despertar e aluna de Edificações, Maria Eduarda Tolentino Duarte, falou ao Diário Popular que a decisão agora fica nas mãos da direção do campus Pelotas. Existe uma comissão local, amparada por especialistas, responsável por fornecer indicações relativas a temáticas sanitárias durante a pandemia. Segundo Maria Eduarda, os manifestantes farão reunião com a comissão para tentar o retorno ao presencial.
Em cidades como Charquedas e Sapiranga, as atividades voltaram a acontecer nas salas de aula mesmo com o indicativo de greve. “Estamos em diálogo com os coordenadores e professores para que também, caso se mantenha a greve, eles façam que nem os professores de outros campi: estejam contra a greve e lutem conosco para que se prossigam as aulas”, complementou.
Reitor recepciona e escuta demandas
Logo depois da chegada dos manifestantes, o reitor do IFSul, Flávio Nunes, desceu até o pátio da Reitoria. Inicialmente, escutou os cânticos reivindicatórios dos jovens. Em seguida, ouviu as demandas de vários alunos e responsáveis. Uma mãe chegou a citar o ineditismo de estudantes estarem solicitando o retorno às salas de aula, por exemplo.
Uma das organizadoras do protesto, Kailany Brignol, afirmou: “A gente é um curso técnico. Como vamos fazer práticas de casa? Muitos alunos [de fora da cidade] fecharam negócios imobiliários, se prepararam para o retorno [que estava previsto para o último dia 1º]. Estamos vacinados, e estamos aqui porque queremos ser ouvidos”.
Em contato com a reportagem, o reitor Flávio Nunes explicou que acolhe as reivindicações, consideradas importantes e enfáticas, e que a instituição se preparava para o retorno ao modelo presencial antes da liminar do TRF4 e da greve.
“Nós não temos como atuar diretamente no movimento grevista, que é do sindicato”, disse. A Reitoria encaminhou um encontro da direção do campus Pelotas com os alunos, em buscando de definições e conhecimento do interesse dos manifestantes.
Sinasefe reforça preocupação sanitária
O cenário da pandemia em Pelotas e região é o que motivou o adiamento da volta ao modelo presencial. Tomada durante assembleia do Sinasefe, a decisão da chamada greve sanitária não cancela o cronograma de atividades do IFSul, mas alonga o período de aulas remotas. A situação vacinal da faixa etária entre 15 e 17 anos, na qual se encontram diversos estudantes, é outra preocupação para o sindicato e também aparece como razão para o TRF4 aceitar a liminar proposta pelo IFSul. Esse grupo ainda não recebeu a terceira dose.
No despacho também figuram levantamentos da Secretaria Estadual de Saúde (SES) e do GT Saúde, mencionando que janeiro de 2022 foi o mês de maior circulação do coronavírus desde o começo da pandemia. A emissão de “Alerta” para todas as regiões Covid do RS foi outro tema considerado.
O coordenador do Sinasefe e professor do curso de Eletrotécnica, Francilon Simões, disse ao Diário Popular que a entidade mantém o posicionamento anterior, mas fez ponderações. “Como docente eu concordo que o ensino remoto não é o ideal. Vou dar o exemplo, sou professor de desenho técnico, é uma disciplina complicada. Não é o mesmo tipo de aprendizado de forma presencial”, avaliou. Uma possível extensão do formato remoto dependeria do resultado da próxima assembleia do órgão, marcada para as 17h de quarta-feira (9).
Segundo Francilon, será a oportunidade de grêmios estudantis de diversos campi do IFSul, incluindo o Pelotas, enfatizarem seus respectivos posicionamentos diante da situação.
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