Protesto
Estudantes protestam contra cortes nas universidades
Manifestação reuniu cerca de mil pessoas no final da tarde de sexta-feira no centro da cidade
Carlos Queiroz -
(Fotos: Carlos Queiroz - DP)
A reação ao corte de 30% no orçamento das universidades e institutos federais já foi sentida em Pelotas no final tarde de sexta-feira. Cerca de mil estudantes, servidores e professores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) se reuniram na praça Coronel Pedro Osório e caminharam pelas ruas do Centro com palavras de ordem contra as medidas do governo Bolsonaro. Além de serem contrários ao corte orçamentário, os manifestantes gritaram contra a Reforma da Previdência e o ataque aos cursos de Filosofia e Sociologia. Sem recursos, unidades de educação podem fechar as portas no segundo semestre deste ano.
Foi na noite da quinta-feira que um grupo de estudantes resolveu tomar uma atitude contra a medida que afeta toda a sociedade. Em uma casa coletiva onde residem estudantes de diferentes cursos e lugares, surgiu a ideia de realizar o protesto. Elizabeth Silveira, estudante de Teatro, uma das organizadoras, contou que a organização pensou numa caminhada de costas, como foi feito, para simbolizar o retrocesso causado pelo governo. "A gente se reuniu depois da aula e disse: 'O que a gente pode fazer? Precisamos nos manifestar'", contou.
Entre as pessoas na manifestação, muito se falava no significado, social e econômico, para Pelotas, de ter uma universidade e um instituto federal. Aluguéis, comércio, serviços e transporte foram exemplos citados. Conforme anunciou o reitor Pedro Curi Hallal, em carta à comunidade acadêmica, a instituição precisará fechar as portas em setembro, em função da falta de recursos. Na sua manifestação, o reitor lembrou do único hospital 100% SUS de Pelotas, o Hospital-Escola/Ebserh, ligado à universidade e que também pode ser afetado.
A situação é semelhante nas outras instituições, que já trabalham com um orçamento apertado e vivem a iminência de demitir terceirizados e não ter recursos nem para pagar a luz e a água. Um dos casos mais graves é a Universidade Federal do Rio Grande (Furg), que pode fechar em junho.
Contra a educação
O diretor da Faculdade de Educação (FaE), Rogério Würdig, estava entre os manifestantes. O especialista em Educação definiu o momento político como obscurantista. "A universidade é o lugar de fomento a todos os movimentos - políticos, educacionais, econômicos, culturais. As federais são responsáveis por 90% da produção científica deste país. É nefasto, monstruoso. Coloca em perigo a soberania do país", criticou.
Würdig também considera a medida como um ataque ao acesso ao conhecimento, previsto na Constituição Federal, e à pluralidade de pensamentos. "Pelotas não se sustenta sem a UFPel. É um atentado com as futuras gerações deste país", indicou.
Sonhos interrompidos
Os colegas Ana Caroline Malinoski, 17, de São Borja, e Pedro Gabriel de Jesus, 18, do Rio de Janeiro, ambos estudantes do curso de Letras/Inglês da UFPel, também foram para a rua protestar contra a medida. Assim como centenas de jovens, foi neste ano que vieram morar em Pelotas para iniciar a faculdade. "Estão acabando com os nossos sonhos", endureceu Ana. Na sua opinião, cortes na educação não deveriam nem ser cogitados para o desenvolvimento do país.
Natural de Pelotas, a estudante de Pedagogia Pâmela da Rosa, 17, criticou a possibilidade de ter seu direito de estudar interrompido. "A universidade é o ponto de partida para trilharmos nosso caminho", disse.
Paralisação geral no dia 15
Os sindicatos de servidores e professores organizam uma paralisação geral para o dia 15 deste mês. A presidente da Asufpel, Maria Tereza Fuji, lembrou da grande expansão que a universidade teve nos últimos dez anos, pulando de sete para 20 mil estudantes. "Não podemos perder tudo o que foi conquistado", afirmou. Há indicativo de paralisação de professores da rede municipal e estadual de ensino contra as mudanças na Previdência e contra as medidas tomadas pelo governo Bolsonaro na área da educação.
UFPel lança carta à sociedade brasileira
No final da tarde desta sexta-feira, a UFPel lançou uma carta direcionada à sociedade brasileira. Leia na íntegra aqui.
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