A dor nas costas faz parte da rotina de uma grande parcela da população. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que esse tipo de dor atinge ou vai atingir 80% da população no mundo. Entre policiais e bombeiros, ela é uma das maiores causas de afastamento do trabalho. Foi neste cenário que um estudo da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas (Esef/UFPel), em parceria com a Ciência da Computação da instituição, desenvolveu um aplicativo para auxiliar no tratamento da dor lombar crônica e investigar os efeitos dos exercícios físicos nestes profissionais.

O doutorando responsável pelo estudo e policial rodoviário federal, Eduardo Frio, explica como ocorreu a pesquisa. Durante oito semanas, 47 participantes, entre bombeiros e policiais, tiveram acesso a duas versões do aplicativo My Safe Back, desenvolvido exclusivamente para a pesquisa. Os voluntários foram divididos aleatoriamente em dois grupos, cada um com acesso a uma versão diferente do app. "A versão completa tinha uma rotina de exercícios, além de mensagens sobre educação e saúde. Quem estava na versão resumida não tinha os exercícios. O que a gente queria comparar era se realmente um aplicativo com exercícios e educação em saúde era melhor do que só fornecer mensagens", explica.

Durante a pesquisa, medidas de força, resistência muscular e outros aspectos referentes à dor, incapacidade funcional e qualidade de vida foram observados. Para o programa de exercícios proposto, que durava cerca de 30 minutos, os participantes receberam colchonete e faixa elástica da equipe do estudo. "A ideia era utilizar o mínimo de recursos e espaço possível com exercícios que não fossem complexos. Os exercícios eram baseados no peso corporal", explica Frio. Prancha abdominal, exercícios de mobilidade e alongamentos eram alguns dos passos do programa.

Os resultados
Concluída recentemente, a pesquisa apontou que a versão completa do aplicativo gerou melhora na dor lombar crônica dos participantes e não identificou efeitos adversos do programa de exercícios. "Teve uma melhora na redução da intensidade da dor, também diminuiu o índice de incapacidade funcional e melhorou a qualidade de vida. Os principais achados do estudo, neste curto prazo, foram esses", avalia Frio. Comparados ao outro grupo, a redução da intensidade da dor entre os voluntários foi de 16%, enquanto a melhora na funcionalidade física foi de 13,8%.

O policial militar Rafael Moraes foi um dos participantes que recebeu o aplicativo completo e destaca os efeitos que sentiu na convivência com a dor derivada de uma hérnia de disco. "Primeiramente foi a qualidade de sono. Eu acordava de madrugada, parecia que era o colchão, mas era por conta da dor. Esse fortalecimento que fiz através do programa me trouxe uma qualidade de vida muito melhor do que a que eu tinha antes", observa. Moraes também voltou a correr sem sentir dor e conta que, até hoje, continua fazendo no dia a dia alguns dos exercícios propostos pela pesquisa, como os alongamentos.

Para o futuro
Agora, o próximo passo da pesquisa de Frio é a defesa da tese. Mais além, a intenção é fazer com que o aplicativo possa ser utilizado por mais pessoas. "A ideia é que, ao final da defesa, a gente possa ver se tem esse interesse. O aplicativo foi criado e patenteado para a pesquisa e poderia ser disponibilizado. Não sei como seria ainda, mas a ideia é conseguir disponibilizar para todos da corporação", estima.

Quem participou da pesquisa, como Moraes, garante que o aplicativo pode ser muito valioso para a profissão. "Acredito que isso pode ajudar muita gente que está sofrendo. Tem que ser mais difundido. Na segurança pública, a gente tá sempre cheio de equipamentos, principalmente na região lombar, a coluna é sempre bem exigida. Daqui a pouco fazendo isso, com poucos passos, tu evita de ter um problema mais grave", reflete.