Drama
Famílias de crianças com APLV reclamam da inconsistência nos repasses
Alergia à proteína do leite da vaca requer fórmula alimentar doada pelo Estado, mas atrasos tornaram-se costumeiros
Jô Folha -
Um drama constante afeta as famílias com crianças que sofrem de Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV). A frequente falta de repasses por parte do governo estadual de Neocate, fórmula alimentar que supre a ausência do leite, faz grupos de trocas e a solidariedade serem a saída para lutar contra as dificuldades. Nesta quarta-feira (9), a primeira carga do ano chegou à região, após não ter havido a entrega em dezembro. Ela não foi suficiente para beneficiar todos os cadastrados e a promessa é que um novo carregamento vindo de Porto Alegre chegue nesta quinta-feira.
Dados da Farmácia Municipal de Pelotas mostram que 34 pacientes estão cadastrados para receber Neocate. O consumo deles é de 483 latas mensais, mas o carregamento de quarta só continha 178, distribuídas a 18 pacientes. A família da pequena Cecília, de apenas três meses de vida, foi uma das sortudas. Mas foi o primeiro momento positivo na luta por dignidade para lidar com a APLV. Sua mãe, Júlia Acunha, conta que o consumo dela é de dez latas mensais. No primeiro mês que deveria ter recebido, em novembro, apenas seis foram entregues. Em dezembro, nada. Agora, finalmente conseguiram todo o necessário.
O drama, no entanto, é maior devido aos custos. Cada lata, no comércio, gira em torno dos R$ 200,00. Os atrasos, não são acumulativos. Ou seja, as 14 latas que faltaram no passado jamais serão recebidas. "É assim, quem chegar primeiro, consegue", lamenta. Os R$ 2 mil gastos mensalmente comprometem boa parte da renda da família. Para algumas, a saída é apelar à doação de quem já tem crianças maiores e consegue alimentá-las com produtos sem leite. Como Júlia tem dificuldades em produzir leite materno para alimentar Cecília, sobra apenas o Neocate. "Ela não ingere outra coisa. É um bebê".
A falta de esclarecimentos quanto à demora é outro problema. "Ninguém fala nada. É uma angústia. Tu nunca sabes se vai vir ou não", lamenta Mateus Silva, pai de Cecília. A saída é apelar para grupos em redes sociais, nos quais pelo menos 23 pais engajam-se em busca de informações e ajudando uns aos outros a tentar suprir a demanda.
Drama continua para outras famílias
Rafaela Ourique, de 32 anos, é mãe da pequena Luísa, de apenas quatro meses. Moradoras do Capão do Leão, dizem jamais ter recebido as latas com o alimento. Elas deveriam ter sido contempladas com pelo menos 20. "A gente tem que correr atrás, achar promoção ou doação", lamenta. Ela diz que a Farmácia Municipal sempre afirma não ter previsão de quando irá chegar o produto.
Segundo a titular da 3ª Coordenadora Regional de Saúde (CRS), Rôde Hartwig, a falta de repasse vinha da Secretaria Estadual de Saúde (SES). A expectativa é que, agora, tudo seja normalizado. Uma nova carga com medicamentos deve chegar nesta quinta-feira à região, "complementando a lacuna", segundo sua explicação. A Coordenadoria atende 22 municípios.
Entenda a doença
A médica gastroenterologista pediátrica Aniele Reis Vahl explica que a condição faz o trato digestivo inflamar. Ela pode causar desnutrição, problemas no crescimento e afetar o desenvolvimento físico e cerebral. "É fundamental para crescer (…) uma questão de sobrevivência, com a criança podendo vir a óbito", alerta. Por isso, a lata da fórmula é tão importante, principalmente aos bebês, que ainda não podem consumir outros alimentos.
A APLV começa a aparecer a partir dos 15 dias de vida da pessoa. Alguns sinais são vômito em jato e frequente, em grande quantidade, acompanhado de choro. Cólicas durante o dia todo também são um sinal. Além disso, as fezes são aguadas, com aparência de um muco similar à clara de ovo e também aparecimento de sangue vivo.
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