Depois de confusões
Futuro dos ambulantes mobiliza Poder Público
Prefeitura se compromete em realizar estudo para decidir se irá estabelecer local onde os senegaleses poderão vender seus produtos
O futuro dos ambulantes que voltaram a atuar no calçadão de Pelotas será tema de estudo das secretarias de Gestão da Cidade e Mobilidade Urbana e de Justiça Social e Segurança. Não há prazo definido para resposta, mas o governo se comprometeu em avaliar possíveis áreas em que os vendedores receberiam autorização para comercializar seus produtos. Foi o que ficou acordado nesta quarta-feira (22), no começo da tarde, após audiência pública na Câmara de Vereadores. A situação dos senegaleses que, não raro, tem na venda de bijuterias, óculos e relógios a única fonte - escassa - de sustento, foi um dos alvos centrais das discussões.
Dois locais chegaram a ser sugeridos pelo vereador Marcus Cunha (PDT). Os becos que servem de ligação entre a praça Coronel Pedro Osório e o calçadão da Andrade Neves poderiam ser pontos provisórios. A solução definitiva - afirma o parlamentar - poderia ser junto ao prédio da antiga Estação Férrea; um dos cartões-postais de Pelotas, recentemente restaurado e sede de órgãos, como o Procon e o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest). “Poderia se criar ali uma feira aberta, nos moldes do Mercado das Pulgas, aproveitando que o local é turístico”, defendeu.
Ao conversar com o Diário Popular, o secretário de Gestão da Cidade e Mobilidade Urbana, Gilberto Cunha, garantiu que o Executivo irá colocar a reivindicação dos trabalhadores ambulantes na pauta. Há um projeto de planejamento urbano que precisa ser respeitado, ainda que o governo se depare com o impasse de quem está ou retornou às ruas, como alternativa de fonte de renda - argumentou. “Temos que conversar, que analisar. Pensar em um lugar não é só olhar para essas pessoas e dizer ´Vai lá e fica´, sem no mínimo demarcar espaços”. O impacto sobre o Pop Center, onde uma série de lojistas esforça-se para manter as despesas em dia, também precisa ser ponderado - admite o secretário.
Reunião
Nesta quinta, a partir das 10h, uma comissão composta por representantes dos senegaleses, de movimentos sociais e de vereadores irá reunir-se no Plenarinho da Câmara, para a situação dos estrangeiros - devidamente legalizados no Brasil - permanecer como prioridade na pauta. “Temos que evitar essa tensão e gerar uma solução”, defendeu a mestranda em Antropologia, Simone Assis, que tem atuado como interlocutora da comunidade de senegaleses em Pelotas. “Não teremos como evitar. Eles não têm emprego, precisam pagar as contas e vão continuar nas ruas.”
Um olhar urgente
O jovem Baxe Fall, 23, tem um sonho, em solo pelotense: conquistar um emprego. E se preparou para isso. Ainda em Senegal, antes de embarcar ao Brasil onde está há pouco mais de dois anos, atuava como pedreiro. Por aqui, em terras gaúchas, exercita o Português, já pronunciado com boa clareza. Não o suficiente para revelar à sociedade as boas intenções de trabalhar honestamente, para ganhar a vida, e, principalmente, para reforçar a renda da família que permaneceu na África.
“Estamos sofrendo muito. Ninguém consegue trabalhar com calma. É muito difícil”, resume, ao se referir às reiteradas fiscalizações do Poder Público aos ambulantes. E, diante da crise econômica, as vendas estão em baixa. Não sobra dinheiro para enviar aos familiares. Mal dá para pagar aluguel, alimentação e contas básicas. “Falta compreensão. Muitas pessoas têm medo de nós”, desabafa. “Mas nós não bebemos, não fumamos, não roubamos. Nossa religião não permite.”
Relembre
Na tarde de 9 de junho, fiscais da chamada Operação Mercúrio realizaram nova apreensão de mercadorias no Calçadão, onde a atuação de ambulantes não é permitida. A ação terminou em tumulto e a Guarda Municipal (GM), que fazia retaguarda ao trabalho da Secretaria de Gestão da Cidade, utilizou spray de gás de pimenta e cassetete para dispersar a confusão. Foi uma cena marcada por choro, medo e empurrões.
O desfecho da Operação gerou inclusive nota de solidariedade e repúdio assinada pelo Coletivo Ser Legal, de Caxias do Sul. Em dez linhas, o recado: Esses atos ferem os direitos humanos. Não podemos aceitar que um imigrante sofra violência e abuso de autoridade por parte do Poder Público.
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