Enchentes

Há um mês fora de casa, moradores temem ter que deixar abrigo do Laranjal

Mais de 140 pessoas continuam abrigadas na Escola Edmar Fetter

Foto: Volmer Perez - DP - Com menos voluntários no local, abrigados mantêm a organização do abrigo

Embora o momento mais drástico das enchentes já tenha passado, mais de 140 pessoas continuam morando na Escola Estadual de Ensino Médio Doutor Edmar Fetter, no Laranjal, onde estão abrigadas há cerca de um mês. A maioria são moradores do Pontal da Barra e do Balneário Valverde, que agora temem ter que deixar o local para ir a outro abrigo, instalado no CaVG, ficando ainda mais longe de suas casas.

A reportagem esteve no abrigo do Laranjal na tarde desta segunda-feira e encontrou um ambiente organizado: mesmo com queda significativa no número de voluntários, os próprios moradores se coordenaram para manter a ordem e a limpeza da escola, onde muitos já vivem há um mês. Embora o local esteja em boas condições e não faltem alimentos e doações, os moradores estavam preocupados com a informação de que deveriam desocupar o local até a quarta-feira para voltar para casa ou ir para o CaVG. Eles afirmam que servidores da Prefeitura estiveram no local no começo da tarde informando que deveriam deixar a escola em dois dias.

Os moradores relatam que ainda não têm como voltar para suas casas, que continuam alagadas e com estragos imensos em razão da água que continua elevada após quase um mês. Quem mora em locais que não estão mais alagados prefere continuar no abrigo até ter condições de se sustentar, já que muitos perderam seus meios de subsistência e vão ter que recomeçar do zero.

Janaina Oliveira explica que a medida em que o número de voluntários diminuiu, os moradores do abrigo se organizaram para manter a limpeza do local. "Hoje foi o primeiro dia e nunca esteve tão limpo. O pessoal se uniu, os banheiros estão limpos, o pátio acabaram de limpar porque os cachorros estavam dando problema e colocaram para lá e estão ajeitando. Pode ver, tem uma organização, todo mundo se dá bem aqui. Agora imagina tirar o pessoal daqui pra um outro lugar que não estão acostumadas. Acaba ficando uma desordem, todo mundo se estressando. O que vai ser o emocional dessas pessoas? As pessoas já estão com o emocional à flor da pele, vai ser muito pior", diz.

Iasmin Caroline da Silva está fora de casa há mais de um mês. A pescadora do Pontal da Barra está no abrigo com o marido e os dois filhos. "A nossa vila está totalmente destruída, muitas peixarias desabaram e a construção está comprometida por causa de tanta água. A minha peixaria e a casa da minha sogra não tem mais o que fazer", lamenta.

Ela avalia que, mesmo que a água baixe, o processo de retomada ainda vai ser demorado. "A maioria das casas está com a estrutura comprometida, fica difícil ir e entrar pra morar. A gente precisa limpar, tem muitos animais lá, tem muita coisa quebrada, muito lixo e muito entulho. Então tem um processo ainda pela frente. Seria ótimo se eu pudesse ir hoje pra minha casa, mas não tem como", relata Iasmin. "Eu fui várias vezes desde que estou aqui e é um cenário e muita tristeza".

"A gente está há mais de um mês aqui, passamos por muitas coisas. Não foi só coisa ruim, teve coisas boas também, a gente não é ingrato, tivemos ajuda, pessoas boas e queridas para nós, mas a gente não vai passar tudo de novo, em um outro abrigo diferente, conhecer as pessoas, se adaptar", explica Iasmin.

Cristina Batista tem dois filhos que estudam na escola e compreende que é necessário o retorno das aulas, mas entende que é preciso manter as pessoas no bairro. "Estou acolhida aqui, mas ao mesmo tempo penso que eles têm que continuar. São muitos sonhos, muitos objetivos que a gente colocou nesse último ano da minha filha e no primeiro ano que o meu filho está começando. Eu entendo que a gente tem que sair daqui [da escola], só que entendo que a gente tem que ficar no Laranjal", explica.

Segundo o secretário de Assistência Social Tiago Bündchen, uma equipe de assistentes sociais esteve na Escola Edmar Fetter nesta segunda para conversar com os moradores sobre a necessidade de a escola retomar as aulas. Os moradores que não têm condições de voltar para casa poderão ser encaminhados para o abrigo do CaVG que, segundo ele, tem uma estrutura melhor.

De acordo com Bündchen, no entanto, não há vagas para todos no CaVG e os abrigados do Laranjal irão continuar na escola nesse momento. "A SAS existe para proteger as pessoas, logo elas não serão expulsas do abrigo. O que tivemos foi uma conversa preliminar explicando a situação da escola e como podemos resolver a situação", diz.

O abrigo do Laranjal foi o primeiro a ser aberto pelo Município, junto com o da Colônia Z-3, que continua com mais de 150 pessoas de 44 famílias. Outros três abrigos, da AABB, da Esef e da Santa Terezinha, foram desativados e os moradores que ainda não podem voltar para casa foram levados para o CaVG, que atualmente tem cerca de 50 pessoas de 21 famílias. As pessoas que estavam nos abrigos Cenáculo e Exército da Salvação foram concentradas em um outro local, no centro da cidade.

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