Agronegócio
Hora de colher bons frutos
Safra de oliveiras em Pelotas pode chegar a mil litros de azeite este ano
Jô Folha -
Com 75% da produção de azeite nacional feita no Rio Grande do Sul, produtores gaúchos estimam um aumento de 10% a 20% na safra deste ano em comparação a 2021, quando o volume atingiu 202 mil litros. A projeção foi feita recentemente, durante a 10ª Abertura da Colheita da Oliva, ocorrida em Viamão na última sexta-feira. Desse total, mil litros terão como origem produção genuinamente pelotense, saída da propriedade da família Alves, na Cascata, distante 25 quilômetros do Centro da cidade.
Com 100% de produtividade das seis mil oliveiras distribuídas em 15 hectares de terra, a colheita das azeitonas é praticamente manual e requer todo cuidado para manter as propriedades das duas variedades: a arbequina, espanhola, e a koroneiki, grega, escolhidas por serem as que mais se adaptaram ao clima da Zona Sul, o semiárido.
“O Dom Feliciano Azeite é um blend das duas, sendo uma mais frutada e a outra mais picante”, explica o sócio proprietário Marcel Costa Alves. Ao lado da irmã, a doutora em Agronomia Marina Costa Alves, ele acompanha de perto a colheita, feita a cada seis árvores, a partir das 6h até a tardinha. Como são pomares jovens, ainda não é preciso o auxílio de máquinas e os galhos ficam ao alcance dos trabalhadores, que utilizam um pequeno rastelo (tipo ancinho) para puxar a azeitona que cai sobre uma tela de proteção.
As azeitonas colhidas vão para a caixa e são mantidas em temperatura que não supera os 16ºC. Logo após, são levadas para o lagar (local onde é processado o azeite), que este ano está sendo feito em Canguçu. Durante o processo, o suco fica até 20 dias nos tanques, até o produto final chegar ao consumidor. “Ao contrário do vinho, o azeite deve ser consumido o mais fresco possível. E por isso tem mais qualidade dos que vêm de fora”, conta Marina.
Pomar: quanto mais velho, melhor
De um dia de campo para assentados, na Embrapa, que o pai, o pesquisador Sérgio Renan, e o filho Marcel Alves resolveram apostar no cultivo de olivas, em 2016. Foi preciso investir pesado, e com recursos próprios, no melhoramento do solo. A família também mantém o cuidado com o manejo e busca utilizar o mínimo necessário de defensivos agrícolas. Investimentos que agora já garantem bons frutos, mesmo com pomares ainda jovens. “Dependendo do manuseio, árvores de seis a oito anos já garantem frutos. Mas as com mais de dez anos atingem a sua plenitude de produtividade”, explica o engenheiro agrônomo da Emater, Evair Ehlert.
A produção também gera emprego temporário e renda para trabalhadores rurais da região. Ivone Kurt, 50, nunca imaginou colher azeitonas. Acostumada a trabalhar em cultivares como pêssego, morango, amora e tangerina, revela que gostou da novidade. “É mais uma oportunidade de trabalho e eu agradeço.”
No Estado
De acordo com o coordenador do Programa Estadual de Desenvolvimento da Olivicultura (Pró-Oliva), Paulo Lipp João, a Emater, a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) e o Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva) estão realizando levantamento nos 497 municípios do Rio Grande do Sul para atualizar o número exato de olivicultores existentes. “Esse estudo deve ser concluído no final de abril. Mas deve estar em torno de 220 produtores com plantação de oliveiras em cerca de seis mil hectares.” O setor já possui 16 indústrias de extração de azeite extra virgem e cerca de 50 marcas de produtores gaúchos.
Na Zona Sul do Estado as áreas de olivicultura já implantadas e em plena produção, com colheita neste momento, ficam em Pinheiro Machado, Canguçu, Pelotas, Pedras Altas e Capão do Leão. Conforme dados da Emater, o total de cultivo é de 1.190,26 hectares com 18 produtores ou empreendedores, com alguns sendo empresas produtoras. O maior projeto fica em Pinheiro Machado, com 320 hectares, seguido de Canguçu, com 250 hectares de olivas. “A safra está sendo considerada normal para os produtores, embora o Estado enfrente uma estiagem. O clima seco diminui a probabilidade de doenças. Mas, em contrapartida, pode aumentar o ataque de pragas”, comenta Ehlert. O engenheiro agrônomo lembra ainda que esse tipo de cultivo desperta para outro setor que alimenta a economia de uma região: o olivoturismo.
Na Cascata, o foco da família Alves é a produção de oliveiras, mas futuramente, o local poderá abrigar espaço para eventos e visitas guiadas. “Também queremos ter nosso próprio lagar. Mas para isso é preciso buscar financiamento”, considera a doutora em agronomia Marina Costa Alves, que também ajudou na colheita.
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