Camarão

Hora de colocar as redes na água

Com expectativa de boa safra, período de pesca de camarão inicia nesta terça

Jô Folha -

Por Gabriela Borges

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Os próximos quatro meses serão de intensa atividade para os cerca de 800 pescadores que compõem a Colônia Z-3, em Pelotas. Isso porque desde a meia-noite desta terça (01) está aberta a temporada de pesca do camarão, que se estende até o dia 31 de maio.

Na última segunda (31), os trabalhadores preparavam os últimos detalhes de suas redes e instrumentos necessários para os próximos dias dentro da Lagoa dos Patos. Apesar de alguns já terem ingressado nas águas, a previsão é que a maioria faça sua primeira saída na próxima quinta-feira, após o feriado de Nossa Senhora dos Navegantes e Iemanjá.

Trabalhando com "todo tipo de pesca", como diz, Caio Rodrigues da Rosa, 36, é morador da Z-3 e atua como pescador há cerca de vinte anos. Ele conta que no final desta semana partirá rumo à Ilha do Meio, local que fica a duas horas de distância da Z-3 e onde permanecerá de sete a 15 dias. Em anos anteriores, a cada retorno costumava trazer em seu barco cerca de dois mil quilos do crustáceo. Agora, espera que isso se repita.

Assim como Rosa, que prefere aguardar antes de embarcar, outros pescadores afirmam que a demora na ida à Lagoa seria uma precaução para evitar qualquer tipo de multa antes da liberação da captura. Além disso, também representa a fé dos trabalhadores da Colônia, que gostam de estar presentes nas celebrações da santa e da orixá, nos dias 1º e 2 de fevereiro.

Especificamente este ano, o Sindicato dos Pescadores da Colônia Z-3 optou por não realizar ato oficial de abertura da safra com a presença de autoridades. A cerimonia, que sempre acontecia no primeiro dia de safra, se deve à atenção ao aumento de casos de Covid-19 na região.

Previsão de fartura

Nilmar Conceição, presidente do sindicato da categoria, diz que a expectativa é de que esta seja uma ótima safra, pois "as condições estão boas, o clima tem ajudado e os calorões que têm dado propiciam o camarão a crescer". Ele evita, no entanto, dar uma estimativa numérica, pois o município não dispõe de dados estatísticos dos pesqueiros e também recebe embarcações de cidades próximas _ como São Lourenço do Sul e São José do Norte _ que preferem descarregar os seus pescados aqui do que transportarem até a colônia de origem. "As estatísticas de pesqueiro no Brasil são péssimas e aqui não é diferente", ressalta.

Para ter como base, o presidente costuma utilizar os dados da safra de 2013, ano em que a fiscalização foi mais atuante na pesagem e toda a região sul, em conjunto, registrou a marca de seis mil toneladas ao final do período, o melhor desempenho até agora. Comparando, Conceição acredita que a safra de 2021 tenha sido mais baixa, mas que o cenário de 2022 é favorável e um bom resultado seria o montante de duas mil toneladas capturadas exclusivamente entre os pescadores pelotenses. "É sempre uma incógnita, o que está lá na água tu não sabe. Agora, dos últimos anos, [este ano] foi o período mais favorável: sem chuva, água baixa, seca", assegura.

Já sobre o valor cobrado, se no ano passado o preço médio de venda do camarão com casca era de R$ 8, este ano Conceição acredita que o quilo ficará entre R$ 10 e R$ 15. O aumento deve ser motivado pela inflação dos combustíveis e outros insumos de pesca.

Condições de acesso preocupam

Para aportarem ou saírem da Colônia Z-3 em direção à Lagoa dos Patos, os pescadores passam pelo Canal da Divineia. Porém, as condições das docas do local têm preocupado ainda mais com o aumento no fluxo de barcos. Adriano de Souza, 32, relata que com o acúmulo de areia no canal, "a embarcação não consegue sair para pescar ou retornar com o pescado", situação que já ocasionou prejuízos para ele e demais companheiros na ordem de R$ 15 mil. José Guimarães, 53, completa: "A gente ficou até quatro dias trancado aqui dentro, quando deu um vento nordeste forte", relembra.

Segundo o presidente do sindicato, a última boa dragagem foi em 2006 e, depois disso, o município fez apenas pequenas intervenções. Há 15 anos não tem manutenção adequada. Tem uns trabalhinhos, tipo o cara chega ali e tira um pouquinho de areia… isso não dá. Tem que ser um serviço essencial. A gente sabe que tem uma verba, mas não é para agora. Nós estamos precisando para agora", desabafa.

A verba a que Conceição se refere é um recurso de R$ 80 mil reais, recebido pela prefeitura em dezembro de 2021 e que foi encaminhado por emenda parlamentar do deputado estadual Marcus Vinicius (PP), para a realização da dragagem do local.

Procurada, a Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) informou que a ação ainda não foi realizada porque o recurso não está liberado e que, assim que isso ocorrer, será contratada uma draga para o desassoreamento da área. "Recentemente vistoriamos o local de saída e entrada de embarcações e não foram verificados problemas muito sérios, pois no local mais baixo há pelo menos um metro de profundidade, permitindo a circulação dos barcos. Ações paliativas não adiantam, pois não irão resolver a questão. Então estamos aguardando a liberação do recurso para dar andamento nos trâmites", argumenta o secretário Jair Seidel.

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