Indignação

Impasse no registro da água

Moradores de residenciais do Minha Casa Minha Vida reclamam do controle sobre o consumo; mais de 1,1 mil apartamentos são afetados

Paulo Rossi -

A cada mês, uma nova conta chega à portaria do Residencial Roraima. De uns meses pra cá, o valor do consumo de água, controlado pelo Serviço Autônomo de Saneamento de Pelotas (Sanep), foi cobrado até dez vezes a mais que o comum. Segundo os moradores, o problema se dá porque os leituristas dos hidrômetros não realizam o controle individual, o consumo é controlado pelo medidor geral de todos os prédios e dividido entre as residências. Para o Sanep, a medição geral se dá pela dificuldade de acesso aos registros. Moradores de outros três residenciais relatam o mesmo problema.

A situação se repete no Residencial Amazonas, em frente ao Roraima, no Sítio Floresta. Os moradores dos residenciais Buenos Aires e Fragata também reclamam do formato de medição do consumo. Somados, são cerca de 1.140 apartamentos. Considerando que cada unidade abriga quatro moradores, são cerca de quatro mil pessoas ao todo, entre adultos, crianças e idosos beneficiados pelo Programa Minha Casa, Minha Vida. A síndica do Amazonas, Fernanda Bitencourt, explica que o leiturista, funcionário responsável pela leitura dos registros de consumo de água, não realiza o controle individual, ou seja, observando cada um dos hidrômetros. Ao invés disso, o equipamento geral do residencial é levado em consideração, de modo que o consumo é dividido entre o número de unidades - os apartamentos.

Desde que a medição passou a ser feita por um cálculo de média, as taxas passaram a ser mais altas. Em um dos casos, uma das moradoras foi cobrada em R$ 1,8 mil pelo consumo do mês de junho. Denise Custódio, moradora do residencial, lembra que antes as contas ficavam em torno de R$ 100,00 e, agora, alcançam os R$ 300,00. “Nós só queremos pagar honestamente o que a gente tá gastando”, desabafa. Outros condôminos relatam a mesma situação, com os valores mais que dobrados em comparação aos meses anteriores. As famílias beneficiadas pelo Minha Casa, Minha Vida, muitas vezes, se enquadram no recorte de baixa renda, mais um fator para a indignação quanto aos valores cobrados.

Síndica do Amazonas, Bruna Ferreira alega que no residencial as contas vão muito além do que a maior parte dos moradores pode pagar. “É um lugar de baixa renda, o pessoal não tem como pagar R$ 150, R$ 200”, exemplifica. Entre os moradores, virou rotina conversar sobre o parcelamento das taxas mensais e sobre atrasos no pagamento - em alguns casos, o Sanep acaba por cortar a água do apartamento por conta da falta do pagamento. A autarquia alega que um dos fatores que pode levar a medição a ser feita de forma geral é a dificuldade em alcançar o local onde os hidrômetros estão. Contudo, no Amazonas e no Roraima os contadores ficam na área externa dos prédios, no pátio. Para entrar, basta a identificação na portaria. “Eles entram pra fazer o corte da água”, lembra Fernanda.

No Residencial Fragata, o problema se repete. Desde que se mudou para o local, há sete anos e meio, Iolanda Medeiros diz que a medição dos hidrômetros é feita pelo registro geral. Assim como no Amazonas e Roraima, as equipes visitam o local nos dias marcados para realizar o corte da água nos apartamentos que não pagam as taxas em dia. Só no mês de maio foram 98 residências que tiveram o serviço interrompido, segundo a síndica. Diferentemente dos demais, os hidrômetros ficam no 5º piso dos prédios, em uma espécie de sótão - mesmo modelo de construção seguido pelo Residencial Buenos Aires. O acesso para cada um dos registros é difícil, como justifica o Sanep.

Justificativas do Sanep
Diferentemente do que foi reportado pelos moradores do Roraima e do Amazonas, o diretor-presidente do Sanep, Alexandre Garcia, argumenta que os leituristas realizam a medição individual nos hidrômetros nos dois conjuntos habitacionais. Em alguns blocos, contudo, os registros ficam bloqueados por cadeados, de forma que o funcionário não consegue ter acesso ao relógio medidor e, consequentemente, aplica o cálculo baseado no consumo médio do residencial. “Se o leiturista não tem acesso, não tem como fazer a leitura”, justifica. Além disso, ele lembra que as cobranças podem variar por conta de compensações dos valores dos meses anteriores.

Garcia salienta também que as equipes dos leituristas e a dos cortes de água por dívidas são diferentes, com uma capacitação e preparo técnico distintos. Se há cadeados ou obstáculos do gênero no caminho, a leitura do hidrômetro não é feita. Enquanto isso, se o mesmo ocorre durante a ação dos cortes, cadeados são quebrados, por exemplo. “A operação é completamente diferente”, pontua.

Nos residenciais Buenos Aires e Fragata, ambos possuem os hidrômetros em um sótão acima do último piso de cada um dos prédios. Assim, a construção dos empreendimentos torna tecnicamente inviável o acesso aos registros. Por isso, o controle é feito pelo registro geral de consumo. No Fragata, por exemplo, “o espaço é tão estreito que a pessoa precisa ficar abaixada”, explica o diretor-presidente. Em construções desse tipo, a sugestão do Sanep é que as ligações hidráulicas sejam refeitas, o que facilitaria o acesso.

Esgoto A céu aberto
Na via em frente aos residenciais Amazonas e Roraima, um entupimento da rede de esgoto espalha o líquido pela beirada da rua. O incômodo com o cheiro e a sujeira é grande. As duas síndicas, Fernanda e Bruna, contam que contataram a equipe responsável do Sanep há mais de um mês e nada foi feito. Cansados de esperar, os próprios moradores realizaram o desentupimento, mas alertam: o problema deve voltar.

Alexandre Garcia, do Sanep, reforça que Pelotas possui cerca de 600 mil metros de rede de esgoto, além da autarquia receber cerca de 70 reclamações por dia dia sobre a rede - fatores que atrasam a chegada das equipes aos locais onde estão os entupimentos. Assim, o diretor-presidente afirma que encaminhou o pedido aos responsáveis.

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