Por Cíntia Piegas
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O fogo do dia 7 de janeiro só não consumiu a dignidade da família Cruz. O resto acabou tomado pelas chamas do incêndio, na rua Coronel Juvêncio Lemos, 176, bairro Areal. Este não foi o único registro de destruição pelo fogo em residências. Nos últimos 50 dias, foram 38 casos na região de cobertura da 2ª Companhia Especial do Corpo de Bombeiros Militar (CBMRS), em Pelotas, um acréscimo de 35% em relação ao mesmo período entre 2021/2022. Como causas mais comuns estão pane elétrica em eletrodomésticos ou uso de chamas dentro de casa. Em época de Operação Verão, quando o efetivo é enxugado, a recomendação da corporação é: todo cuidado é pouco.

David Oliveira da Cruz, 41, não estava em casa quando um suposto superaquecimento do notebook da filha chegou à fiação, gerando uma faísca que atingiu o chalé. Bastaram 20 minutos e toda a nova mobília - que seria para a casa nova do plano habitacional do governo - virou cinzas. Foram necessários três caminhões de duas unidades da corporação, mas as chamas se espalharam e atingiram a casa da irmã de David, que só permaneceu erguida por ser de alvenaria. Dentro, tudo queimado. "Ainda estou em choque. Parece que não caiu a ficha ainda. Mas ainda bem que não feriu ninguém. Só a minha alma, pois lá se foi meu patrimônio. Móveis que ainda nem paguei", lamenta.

O recém formado técnico agropecuário agradece ao fato de ter deixado a piscina de plástico montada entre a sua casa e a de sua mãe, de 68 anos, pois acredita que tenha servido de barreira para não queimar a residência da idosa, a única no local no dia do sinistro, e que foi retirada imediatamente pelos vizinhos. "O que me impressiona é a solidariedade da comunidade aqui da Bom Jesus. No domingo eu já tinha móveis, roupas e alimentos."

O trabalho agora é de formiguinha. Uma vaquinha online já arrecadou mais de R$ 3,6 mil. No entanto, a meta para reconstruir as duas casas é de R$ 20 mil, que serão empregados na compra de material. Por enquanto, com o que já ganhou, como tijolos e algumas vigas de madeira, David só consegue delimitar a área e sonhar novamente com um lar.

Prevenção
O comandante do Pelotão em Pelotas, tenente Gilberto Alves da Silva Júnior, responsável pela parte operacional da corporação, considera os 38 registros em 50 dias um número elevado para a época. Nove a mais que no comparativo com o período mesmo período do ano anterior.

Já o total de ocorrências gerais chega a 382, contra 301 (aumento de 27%) feitas nesse período em 2021/2022. "Pelos nossos dados, as causas são diversas e vão desde o descuido com adormecer com um cigarro aceso, até a sobrecarga de energia em ligações clandestinas. Nesses casos, não há um disjuntor para desarmar, ou seja, indicar a sobrecarga", aponta o tenente. Silva alerta ainda que, mesmo nas condições normais de ligação de energia elétrica, não convém sobrecarregar o adaptador de tomadas, ligando vários aparelhos.

Para quem gosta de ver o pátio limpo, passando rastilho e depois ateando fogo, nas condições climáticas atuais de pouca chuva e muito vento, é preciso cuidado. Se for muito próximo à residência, há grande risco de sinistro. "Só em janeiro foram 115 atendimentos de fogo em campo. Esse índice, até sexta-feira da semana passada (13), nos colocava na liderança de ocorrências no Rio Grande do Sul", sinaliza o bombeiro. Com a chuva do final de semana, o triste título passou para Porto Alegre.

Recomendações importantes
Com tanta demanda, a corporação ainda precisa definir as prioridades, pois além de Pelotas, a 2ª Companhia atende Arroio do Padre, Arroio Grande, Canguçu, Capão do Leão, Cerrito e Pedro Osório. "Nossa recomendação diante de um princípio de incêndio é sempre chamar os Bombeiros pelo 193 e não intervir para não aumentar o risco da pessoa", orienta o comandante do Pelotão.

Mas há casos em que um pouco de atenção e paciência podem ajudar no trabalho dos profissionais, como fechar o gás quando há sinal de vazamento ou desligar o disjuntor diante de um pequeno curto-circuito até conseguir fazer contato com a guarnição e pedir as orientações necessárias.​