Solidariedade

Iniciativa distribui cestas a 400 famílias

Ação do Natal Sem Fome em Pelotas moveu cinco toneladas de alimento, em sua maioria cultivadas por produtores do MST

Jô Folha -

O Natal pode ser visto como uma data em que famílias se reúnem em volta da mesa para confraternizar. A fartura que deverá ser vista em diversas casas é totalmente o oposto da realidade de cerca de 30 mil pelotenses que convivem com a fome. Visando proporcionar a 400 destas famílias carentes dias de alívio, a ação "Natal Sem Fome, Movimento Sem Terra Cultivando Solidariedade", do MST em parceria com organizações e entidades sociais, distribuiu cinco toneladas de alimentos em Pelotas.

A ação aconteceu na manhã de quinta-feira, no Largo Edmar Fetter, no Mercado Público, e tornou-se realidade através da união de produtores rurais do MST no Estado. Integrante da coordenação estadual, Adelar Pretto explica que desde o início da pandemia o movimento tem a preocupação com uma piora no índice da fome no Rio Grande do Sul e criou a "quarentena produtiva" com o intuito de cultivar alimentos em seus lotes e ajudar o próximo. "O desemprego aumentou e a forma do governo tratar a situação piorou. Coube a nós pobres do campo organizar e produzir para nos alimentar e trazer um pouco para a população da cidade."

Durante a campanha Natal Sem Fome no RS, 50 toneladas foram divididas e destinadas a diversos municípios. Na quarta-feira a ação ocorreu em Piratini, onde 1,5 tonelada foi distribuída. Já em Pelotas foram cerca de cinco toneladas. As cestas básicas são compostas por alimentos orgânicos, produzidos pelo MST como milho verde, cebola, mel, laranja e arroz orgânico, além de arroz integral e feijão, ambos industrializados e arrecadados, e pão e bolacha. Na Zona Sul a ação também será realizada em Herval, Pinheiro Machado e Candiota.

Gratidão

Com os olhos marejados e agradecendo a todos após receber a cesta básica, Samanta Martins, 35, conta que os dias não têm sido fáceis. Atualmente vendendo balas nas ruas, tem recorrido a doações para alimentar a si e ao filho de 15 anos. "A vida está muito difícil e de incerteza de hoje achar algo para comer e amanhã não. Muitos julgam por estar vendendo bala ou pedir moedas, mas é por necessidade", relata.

Também passando por dificuldades financeiras, Magda Linhares, 55, não escondeu a felicidade com a doação e a garantia de alimentação para ela e o neto, pelo menos, nos próximos dias. O Auxílio Brasil não tem sido suficiente para a compra de alimentos, pois a prioridade está na compra de medicamentos para o tratamento de uma doença. "Ou a gente come ou toma o remédio. Lá em casa estamos há dois meses sem gás por causa do preço. Não é feio assumir que precisamos de doação, a situação está feia para muita gente. O pobre está só perdendo."

Ajuda que chegará a diversos bairros

A campanha de arrecadação de produtos industrializados contou com a ajuda de entidades, organizações, sindicatos e igrejas. Já os projetos sociais foram encarregados de distribuir nos bairros os alimentos de acordo com o cadastro de pessoas assistidas. Dentre elas está o Comitê de Desenvolvimento do Dunas (CDD). Joana dos Santos, colaboradora, explica que 30 pessoas recebem cestas básicas no CDD, número que já chegou a 70, mas a escassez de doações obrigou a diminuição. "O número está aumentando, as pessoas seguem desempregadas, as cestas básicas estão ficando escassas e o auxílio está sendo cortado. Passamos o dia atendendo a porta e dizendo que não temos mais alimentos para doar". Além destas, outras 80 pessoas estão na fila de espera por doações.

Quatro quilombos da cidade também foram atendidos pela ação. Maria Venância ajudou na separação das cestas e atuou como responsável pela distribuição dos alimentos no Quilombo Cerrito Alegre. "De 26 famílias, existem várias que vivem atualmente somente de doações, que estão acabando, então a ação vai dar um alívio a toda a comunidade."

Fome em crescimento

De acordo com mapeamento do Fórum de Soberania e Segurança Alimentar, cerca de 30 mil pessoas que residem em Pelotas não possuem o mínimo de segurança nutricional e alimentar. Assistente social e colaborador dos movimentos da Via Campesina, Diego Gonçalves ressalta que o papel dos movimentos não é a doação de alimentos, mas a produção para atender outras demandas como merenda escolar ou a venda. "O problema é que temos falta de políticas públicas, tanto para o produtor rural como para o combate à fome. Esta ação é um ato de solidariedade, mas também de denúncia de ausência de políticas públicas e de entrada do Brasil no mapa da fome de novo", diz.

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