História

Legado centenário: as raízes italianas em solo pelotense

Italianos chegaram há mais de 150 anos por aqui; conservação deste patrimônio, no entanto, está distante do ideal

Foto: Museu Etnográfico da Colônia Maciel - Italianos são um legado marcado na história pelotense

Um ano comemorativo para olhar, e também preservar, o legado italiano na Zona Sul gaúcha. Em fevereiro, o Brasil comemorou os 150 anos da chegada do navio La Sofia, que trouxe os primeiros cerca de 400 italianos para as terras brasileiras. Oficialmente, no entanto, a colonização italiana começou um ano depois, em 1875. Por aqui, a chegada e fixação desses imigrantes ocorreu nessa mesma época e tem, até hoje, um legado marcado na história pelotense.

Fábio Vergara, historiador e professor da UFPel, explica um pouco de como esse processo ocorreu por aqui. "Imigração e colonização são coisas diferentes. A imigração é o processo espontâneo de vinda dos italianos para o Brasil, que é bem mais antigo. Eles vinham para trabalhar nas cidades, em funções como chapeleiros e alfaiates", explica. A colonização, por outro lado, é uma movimentação oficial. "É um processo diferente porque é oficial, estimulado por uma política do governo imperial. Tem campanhas para eles virem para cá, inicialmente como camponeses, para instalarem-se em terras que estavam no domínio do governo", explica.

No Estado, a chegada dos italianos começou na região da Serra, onde hoje estão municípios como Garibaldi, Farroupilha e Caxias do Sul. "Olhando para o Rio Grande do Sul, temos esse movimento primeiro na zona de Caxias, em 1875, depois em Santa Maria, e, em seguida, em Pelotas, que tem a Colônia Maciel como a 5ª colônia italiana do Estado", explica. Vergara pontua que a Colônia Maciel foi fundada em 1883, sendo a família Aldrighi uma das primeiras a chegar. "Outras grandes levas vieram depois, como Casarin, Bachini e outros sobrenomes conhecidos", explica. O berço italiano da região, hoje chamado de Vila Maciel, fica no 8º Distrito e se expande, ainda, por municípios como Canguçu e Morro Redondo.

Museu da Colônia Maciel

Os registros da vida rural, das práticas religiosas, da educação e do dia a dia dos primeiros imigrantes encontrou seu lar no Museu da Colônia Maciel, fundado em uma parceria do poder público com a UFPel, em 2006. "Ele funcionou com muita vida durante dez anos. Em 2017, tivemos um problema na estrutura do telhado e houve um desabamento", diz Vergara, que faz parte da equipe do museu. Felizmente, 95% do acervo, que contém itens, fotografias originais e relatos colhidos com descendentes, foi recuperado.

Desde então, o Museu ocupou um espaço fixo por três anos no Casarão Seis, no Centro de Pelotas, e depois virou itinerante, visitando diversas cidades gaúchas. Atualmente, o acervo está guardado na UFPel. Para Vergara, os anos de 2024 e 2025 representam uma oportunidade para voltar os olhos ao cuidado desse patrimônio. "Entendo que esse ano comemorativo dos 150 anos da imigração italiana no Brasil é um momento importante para tentar colocar a recuperação do museu de novo na agenda [do poder público], para devolvê-lo à Colônia, porque ela merece", avalia.

Sociedade Italiana de Pelotas

Além do museu, as sociedades italianas também são elementos importantes da conservação deste patrimônio. A Sociedade Italiana de Pelotas, por exemplo, tem sua origem em 1873, antes ainda da chegada oficial dos italianos ao Brasil. "Começou como um ponto de encontro para que eles se reunissem para conversar na língua deles, arrumar ferramentas, cantar e partilhar a cultura, inclusive a gastronomia", conta a diretora cultural da Sociedade, Maria Tereza Girão.

Hoje em dia, no entanto, o resgate dessa história sobrevive com dificuldades. "Tivemos um tempo muito pujante da imigração italiana por aqui. Mas os sócios antigos, que tinham amor à camiseta, foram morrendo e os descendentes não foram assumindo", diz Maria. A Sociedade conta atualmente com cerca de 50 sócios e poucas atividades culturais, como o coral de músicas italianas e aulas do idioma. Aos 81 anos, Maria, que ainda tem contato com familiares que moram na Itália, teme que a conservação da história se perca. "Foram pessoas que também ajudaram no progresso de Pelotas, na construção de hospitais, na zona rural e em outros aspectos. Minha preocupação é que não tenha ninguém para salvar esse patrimônio histórico", lamenta.

Entre os objetivos para este ano estão a tentativa de retomar reuniões mensais destinadas para atividades culturais e, também, a elaboração de um livro com a ajuda de descendentes italianos. Para isso, a diretora conta com a sensibilização da comunidade para voltar a dar vida ao legado centenário dos antepassados. Através dos números (53) 99133-1013 e (53) 99122-1111 é possível fazer contato com a diretoria do local.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Profissionais reclamam da demora na espera para internar pacientes no Hospital Espírita de Pelotas Anterior

Profissionais reclamam da demora na espera para internar pacientes no Hospital Espírita de Pelotas

Casa ou apartamento? Em Pelotas, apenas 25% moram em 'apê' Próximo

Casa ou apartamento? Em Pelotas, apenas 25% moram em 'apê'

Deixe seu comentário