Estiagem
Mais de 2,3 mil famílias da região estão sem água potável
O número foi atingido na última segunda-feira, e é consequência do período de estiagem que atinge o Estado; municípios da Zona Sul ainda aguardam homologação de situações de emergências
Divulgação -
Mais de 2,3 mil famílias de municípios da Zona Sul ainda estão sem água, consequência da estiagem que atinge a região. A falta de chuvas também gera reflexos para a produção agrícola, cujas perdas são estimadas em R$ 775 milhões. Segundo a Defesa Civil estadual, dez municípios da região decretaram situação de emergência. Canguçu e São Lourenço do Sul realizaram o procedimento há mais de 40 dias, em 9 de janeiro, e ainda aguardam a homologação do Estado, que pode proporcionar a captação de recursos federais para amenizar os efeitos da seca.
O prefeito de Canguçu, Vinicius Pergoraro (MDB), conta que vem pressionando a Defesa Civil e que nova documentação, com dados atualizados foi encaminhada para o órgão na última quarta-feira. Segundo ele, um novo laudo da Emater atualizou o número de quebra na produção rural do município para R$ 55 milhões. Em relação ao dano humano, ele cita que as consequências da seca atingiam 50 famílias em janeiro, chegando à 112 no último levantamento. Com a atualização dos dados, a expectativa é que a homologação seja feita em breve. "Para buscarmos os aportes de recursos federais", afirma. Conforme o prefeito, o município ainda está se recuperando dos prejuízos ocasionados pelo excesso de chuva no final de abril do ano passado. Na ocasião, que atingiu 46 pontes do município, o decreto foi homologado, mas, segundo o prefeito, os recursos ainda não foram disponibilizados. "As ponte ainda não foram totalmente recuperadas", disse. Dessa forma, em ambas as situações, as medidas são feitas com recursos próprios do município, como a abertura de 250 poços e bebedouros para consumo humano e de animais.
A situação é semelhante à relatada pelo prefeito de São Lourenço do Sul, Rudinei Harter (PDT), município que também sofreu com o excesso de chuvas em outubro do ano passado. "Estamos aguardando a vinda de recursos que foram empenhados em Brasília", conta, lembrando que também aguarda valores da Defesa Civil, para reconstrução de ponte e bueiros. Harter lembra que o prolongamento do período de estiagem atinge em grande medida a economia do município, que é composta, em grande parte, pela produção agrícola. O prejuízo esperado para a área é de cerca de R$ 140 milhões. A estimativa da Emater, é que as perdas no município com soja e milho, dos tipos grão e silagem, sejam de 20%. "Esperamos que o governo se sensibilize com a situação", afirma. Conforme o chefe do Executivo Lourenciano, 35 famílias estão sem água potável no município e são abastecidas por 85 mil litros de água, distribuídas em períodos de dois a cinco dias, de acordo com a necessidade. "A Corsan está nos dando a água e a prefeitura está fazendo o transporte para essas pessoas, alguns a 60, 70 km da sede do município", conta. Dessa forma, a captação dos recursos obtida após a homologação do decreto seria utilizada para a recomposição do orçamento municipal. "Para recuperar esses gastos que está se tendo", projeta.
Perdas de R$ 775 milhões
Conforme o extensionista rural da Emater, Edgar Noremberg, a situação dos dois municípios não piorou durante o período. "É onde tem chovido mais", afirma. No momento, a estiagem tem se agravado em municípios que não estavam em situações graves, mas que agora convivem com maior escassez de chuvas, como Herval, Arroio Grande, Cerrito e Piratini, o que gera reflexos, também, no acesso à água. Segundo o último levantamento feito pela Empresa, na última segunda-feira, 2.311 famílias da Zona Sul estão sem acesso à água potável. Entre os municípios com maiores números estão Capão do Leão com 940 famílias, Herval, com 800, Cerrito com 131 e Piratini, com 115. A situação também atinge 20 famílias de Pelotas, 42 em Arroio Grande e está presente em Canguçu, Pedro Osório, Morro Redondo, Pedras Altas, Jaguarão e Santana da Boa Vista.
De acordo com o Noremberg, as perdas estimadas com a produção rural na região já alcançam, desde janeiro, R$775 milhões, considerando culturas como o milho, feijão, soja, tabaco, abóbora, pêssego, e leite. No caso da soja e do milho, o percentual de perdas chega, em média, à 17% e 27%, respectivamente. Segundo ele, esses valores variam, até mesmo, entre zonas dentro dos municípios, em decorrência das chuvas. Porém, de modo geral, as perdas devem ser concretizadas. "Não tem mais como diminuir, cada dia que não chove aumenta mais o percentual", afirma. Em relação ao fumo, as perdas devem ser estabelecidas em 22%, pois a colheita da produção já está em fase final.
Pedidos ainda em análise
O processo de homologação do decreto de situação de emergência é uma das últimas etapas, seguido pelo reconhecimento, para que os municípios possam efetuar ações como a busca de recursos federais com o intuito de amenizar os efeitos da estiagem, e a prorrogação ou ampliação do prazo de parcelamento de dívidas agrícolas. Em contato com a reportagem, a assessoria de comunicação da Defesa Civil RS informou que o pedido do município de São Lourenço do Sul já se encontra na Casa Civil do Governo do Estado, em processo de homologação. No caso de Canguçu, no entanto, o pedido ainda está em análise. Em todo o RS, 120 municípios sofrem com a estiagem e, destes, 110 já decretaram situação de emergência, segundo o último Boletim Informativo da Defesa Civil, divulgado ontem. Do total, 29 já receberam a homologação pelo Governo do Estado. Ainda segundo o boletim, as precipitações dos últimos dias não foram suficientes para alterar o quadro de estiagem, que deve permanecer ao longo de fevereiro. O retorno organizado das chuvas deve ocorrer somente a partir de março.
Nesta sexta-feira, o presidente do Conselho dos Secretários Municipais de Agricultura da Região Sul (CONSEMA) e secretário de agricultura de Arroio Grande, Fernando Mattos, irá a Porto Alegre protocolar um pedido para que haja agilidade nos processos de homologação dos decretos, nas sedes da Defesa Civil e Casa Civil. A oportunidade também será utilizada para cobrança de destinação de recursos pendentes para os municípios Região.
Municípios da Zona Sul que decretaram situação de emergência
Canguçu
São Lourenço do Sul
Morro Redondo
Piratini
Cerrito
Pedro Osório
Capão do Leão
Pinheiro Machado
Herval
Amaral Ferrador
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário