Mais de dois anos e meio depois de cumprir roteiro por Unidades Básicas de Saúde de Pelotas, o Diário Popular volta a alguns desses mesmos locais e vê uma cena igualmente se repetir: comunidade à espera de obras e uma tendência. Ainda que passem a contar com prédios ampliados, as UBSs devem permanecer com o mesmo número de equipes. Uma notícia que chega como desânimo a quem levanta cedo para garantir ficha e, não raro, se desloca a municípios vizinhos em busca de atendimento.

É caso de moradores da Vila Nova, no 7º distrito de Pelotas. Quem conta é a comerciante Vera Wrege Knopp, 51. “O pessoal acaba indo a cidades, como Arroio do Padre e Morro Redondo, mas já não estão mais querendo nos atender lá”, lamenta. E admite: ao ver surgir o novo posto de saúde, com área construída de quase 300 metros quadrados, criou a expectativa de que a UBS ganharia mais profissionais. Mas, não deve ocorrer.

O parâmetro tende a continuar o mesmo, já que a área de abrangência não ultrapassa as duas mil pessoas - destaca a secretária de saúde, Ana Costa. Uma equipe de Estratégia Saúde da Família (ESF), portanto, seria o suficiente para atendê-los. “Antes de inaugurarmos as novas Unidades, faremos um estudo mais aprofundado para verificar se será necessário algum aporte de apoio”, explica a secretária.

Da demora à expectativa pela inauguração
Já são mais de três anos de espera. Desde 8 de dezembro de 2014, o antigo Restaurante e Pizzaria Ribes se transformou na UBS Vila Nova, que chegou a funcionar por mais de seis meses sem a realização de pré-câncer de colo de útero por falta de cortinas em janelas, que impediam a coleta.

Nos últimos dias, foram as férias simultâneas da médica e da enfermeira que deixaram a comunidade desassistida. Fixos no posto, apenas uma técnica de Enfermagem, um profissional da área administrativa e outra do setor de higienização. E o jeito, para reduzir prejuízos, muitas vezes, é encaminhar os pacientes para a UBS Cordeiro de Farias - contam.

A poucos quilômetros dali, na obra, a expectativa é de que em abril o tapume possa dar lugar a uma fita de inauguração; cerimônia atrasada há um ano e meio. A placa em frente à construção confirma: término da obra - agosto de 2016. É um investimento que colocará fim às rachaduras que chegaram a interditar parte da UBS e irá garantir a retomada, por exemplo, dos atendimentos odontológicos.

No Corrientes, nova sede deve ser entregue no meio do ano
Na Unidade Básica de Saúde do Corrientes, no 6º distrito de Pelotas, o prognóstico se assemelha. A estimativa é de que o novo prédio seja entregue até o meio do ano. Quem cruza os dedos na torcida por mais fichas à disposição, deve acabar frustrado. “O pessoal vai de madrugada pra fila. Só tem médico duas vezes por semana”, lamenta a moradora Juliane dos Santos, 40.

E a realidade não deve mudar: “Não tem previsão de aumento de equipe, porque não se justifica”, garante a secretária de Saúde. A demanda é compartilhada com o anexo do Posto Branco, instituído para encurtar distâncias e facilitar o acesso da comunidade - argumenta Ana Costa. Um fluxo que, se somado, não atingiria o total nem para formação de uma equipe de ESF; reitera.
O oferecimento de atendimento odontológico desponta entre os grandes ganhos da população com as novas instalações.

Na zona urbana, obras em diferentes estágios

1) Em fase final

Virgílio Costa
A espera e os gastos com aluguel já se arrastam há mais de três anos na UBS do bairro Fragata. Mas, finalmente, estão perto do fim. Não sobraram resquícios da antiga estrutura, colocada abaixo. E a fase, agora, é de acabamentos: as paredes ganham revestimento e as portas já contam com marco. Ainda não há, entretanto, data para reabertura do novo prédio, com 503 metros quadrados de área construída. Um investimento que ultrapassa R$ 1,1 milhão.

Um dos principais avanços aguardados pela população, entretanto, já ocorreu, mesmo em endereço provisório. A UBS passou a contar com duas equipes de ESF. E, assim como na Vila Nova e no Corrientes, na zona rural, a inauguração de consultório odontológico destaca-se entre as vantagens da nova sede. O gabinete de dentista obsoleto será substituído.

Revitalizações
Um ato, possivelmente em 1º de março, deve marcar a entrega da revitalização da UBS Areal I, na rua Apolinário de Porto Alegre. As melhorias, com utilização da mão de obra prisional, incluem troca de parte do piso, pintura interna e externa das paredes e também das aberturas, além de identificação visual na fachada e recuperação do mobiliário.

A próxima Unidade, de uma lista de 21 obras com a participação de apenados em espaços de atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é a UBS Dom Pedro I.

2) Parada

Cohab Fragata
A cena é de depredação. Em nada lembra o sonho da comunidade em ver a Unidade de Saúde Darci Abuchaim ampliada. Paredes antigas e novas quebradas. Banheiro à mostra e fezes no sanitário. Janela sem vidros. Armações das vigas retorcidas. Um colchão serve de rastro da movimentação que, volta e meia, ocorre por ali.

Quem acompanhava a obra, com entusiasmo, admite: “Acho que agora vai demorar. No início, parecia que ia ser rápido”, afirma o morador Paulo Ricardo Rocha, 60, que tem precisado deslocar-se até a avenida Pinheiro Machado em busca de atendimento.

A etapa ainda é de indefinição. A obra foi interrompida por determinação judicial, após uma das empresas que participou do processo licitatório ter questionado o resultado da concorrência pública. A expectativa é de que, em breve, o trabalho possa ser retomado. Uma avaliação deverá indicar quem arcará com os prejuízos que se acumulam a cada mês - enfatiza a secretária de Saúde.

3) Ainda no papel
Em reportagem de 30 de junho de 2015, o Diário Popular mostrou: a obra na UBS Getúlio Vargas despontava entre as prioridades da prefeitura. Ao menos era a afirmação. Na prática, a comunidade ainda aguarda pela reforma.

A posição do Conselho Municipal de Saúde
O roteiro para acompanhar o andamento das obras das UBSs, assim como para fiscalizar a qualidade dos serviços da rede básica de saúde deve ser retomado nos próximos dias - confirma o presidente Luiz Belletti. O período de férias do motorista da entidade acabou por interromper o processo, que deverá ser normalizado.