Saúde
Mais Médicos ainda tem desfalques
Há 26 vagas em aberto, entre cubanos e brasileiros que deixaram o programa na Zona Sul
Paulo Rossi -
Três meses depois da saída dos cubanos do programa Mais Médicos, a comunidade ainda sente os efeitos das equipes reduzidas. O Ministério da Saúde garante que os brasileiros ocuparam todas as 8.517 vagas que acabaram abertas no país. Na prática, não é o que vê quem tem precisado recorrer à rede básica. Em toda a Zona Sul, 26 profissionais desfalcam os grupos - considerados o fim da cooperação com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e o fluxo também de médicos do Brasil no programa. Em Pelotas, quatro vagas ainda aguardam preenchimento.
Na Colônia Osório, o consultório permanece vazio desde os primeiros dias de novembro, quando encerrou o contrato de três anos da cubana, antes mesmo de o governo de seu país se retirar da parceria. Para comunidade, não há outra estratégia: é preciso se dirigir às Unidades Básicas de Saúde de Cerrito Alegre, Corrientes ou Santa Silvana em busca de atendimento. “Já procurei até uma unidade lá em Turuçu”, conta o morador do 3º distrito, Hudo Noremberg, 77, e lamenta o transtorno.
Nas outras duas UBSs da Zona Rural em que a população também precisou se despedir - com lástima - dos cubanos, a reposição já foi feita. Alívio às famílias da Colônia Maciel e da Colônia Triunfo, que torcem pela permanência dos profissionais, diante de condições que nem sempre são as mais convidativas para quem não está acostumado ao cotidiano do campo. “Tomara que ele fique. Aqui na nossa região da Serra dos Tapes faz muito frio e, em período de bastante chuva, os carros têm que cuidar para não atolar”, exemplifica a diretora da Escola Wilson Müller, Lílian Aldrighi Guterres.
É um cenário com que o enfermeiro da UBS Triunfo, Jober Buss da Silva, já se acostumou. Em maio, completará 24 anos de atuação na Zona Rural. Um contexto em que, não raro, precisou cumprir várias outras funções. De burocrata, na recepção do posto, a médico nos muitos momentos em que a equipe ficou incompleta.
“E aqui estamos mais distantes de Pelotas do que de outros municípios da região”, conta Jober. São 63 quilômetros de Pelotas, enquanto as áreas centrais de São Lourenço, de Canguçu e de Arroio do Padre estão a cerca de 20 quilômetros.
Reflexos também na zona urbana de Pelotas
A demora para substituir os profissionais provoca prejuízos a moradores de três localidades da zona urbana. No Arco-Íris, a população ainda conta com soluções paliativas, através de plantonista. A mesma medida será adotada no loteamento Getúlio Vargas, para que o trabalho volte a ser executado por três médicos. No Sítio Floresta, a tendência é de que a redução de pessoal cause novos transtornos, depois de o grupo ter chegado a ficar completo; um dos médicos irá para Porto Alegre fazer Residência e outra poderá ir para São Lourenço do Sul. A lacuna deixada pelos cubanos tende, portanto, a ser reaberta.
Conheça a posição dos secretários
Ana Costa: a secretária de Saúde de Pelotas afirma que escalas com plantonistas têm sido utilizadas para reduzir os problemas enquanto o Ministério da Saúde não repõe 100% dos profissionais do Mais Médicos. O paliativo, adotado há cerca de um mês no Arco-Íris, também passará a ser aplicado uma vez por semana na Colônia Osório. Nos últimos dias, um intensivo já foi feito para a demanda por receitas controladas poder ser atendida. A UBS Getúlio Vargas também deve passar a contar com plantonista, para restabelecer a equipe.
- Maicon Lemos: ao falar em nome dos secretários de Saúde da Zona Sul, o secretário de Rio Grande destacou preocupação com os reflexos que já se alastram a outras unidades, não necessariamente da rede básica. “Não resta outra alternativa para população, que acaba buscando os pronto atendimentos locais e regionais, assim como os hospitais, o que faz aumentar significativamente a superlotação”. Na última quarta-feira, Lemos aproveitou para colocar o tema na pauta de reivindicações em Brasília. “Precisamos encontrar uma solução sólida. Há milhares de pessoas desassistidas ou com assistência médica deficitária”.
Relembre
O governo cubano anunciou a decisão de se retirar do programa Mais Médicos em 14 de novembro, ao tomar conhecimento de manifestação do então presidente eleito Jair Bolsonaro, no Twitter, em que defendia que os profissionais deveriam se submeter ao exame Revalida, aplicado a cidadãos formados no exterior para poderem ser contratados. Em comunicado, o governo cubano argumentou que as exigências violariam acordos anteriores assinados com o Brasil. “Não é aceitável questionar a dignidade, o profissionalismo e o altruísmo dos colaboradores cubanos”. Com o desligamento, só na Zona Sul, 46 médicos deixaram as equipes; 12 em Pelotas.
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