Por Luciara Schneid
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Dois credos, uma só divindade, a Rainha das Águas. Para católicos, Nossa Senhora dos Navegantes, a protetora das águas, dos marinheiros e dos pescadores. Para os umbandistas, Iemanjá, a Rainha do Mar. A devoção à santa e à orixá levou milhares de devotos à Colônia de Pescadores Z-3 e Balneário dos Prazeres, nesta quinta-feira, feriado religioso, em Pelotas.

As tradicionais homenagens voltaram a ocorrer após dois anos de pandemia e reuniu mais de 17 mil pessoas nos dois eventos. Na Colônia Z-3, as festividades da 91ª Festa de Nossa Senhora dos Navegantes iniciaram ao longo da semana, com tríduo na Igreja Nossa Senhora dos Navegantes, procissão luminosa e baile festivo, na noite de quarta-feira, e almoço com frutos do mar na quinta-feira.

De acordo com a coordenadora da comunidade da Z-3, Arlete Miranda Lima, a estimativa é de que de cinco a seis mil pessoas tenham participado das festividades. Segundo ela, a igreja ficou aberta a semana toda para receber os devotos que vieram pagar promessas ou simplesmente rezar, agradecer e pedir proteção. “Apesar de ser uma festa paroquial, ela é direcionada aos pescadores, quem faz a festa é o povo da Z-3”, salienta. As marcas da religiosidade e devoção dos moradores era evidente nas fachadas e jardins das casas, que ostentavam bandeirinhas, faixas e homenagens a Navegantes.

O pescador César Luís Furtado Pontes conta que participar da festa e ajudar na organização e preparo do almoço é uma tradição que carrega desde os 17 anos, o que faz junto com grupo formado por outros seis amigos pescadores. “Meu pai que está com 90 anos sempre ajudou e eu sigo esta tradição, são muitos anos trabalhando”, diz. A saída para a pesca do camarão, que já está liberada na lagoa, ainda vai demorar alguns dias, ressalta. “Estamos esperando o camarão ficar mais graúdo”, salienta.

A procissão a pé saiu pontualmente às 15h da igreja. No caminho, um momento de emoção, uma parada em frente à residência de Heloísa Balduci Ferreira, de 87 anos, e Virgínia Ortiz dos Santos, 93, moradoras próximas à Igreja, que devido à idade têm problemas de locomoção. Depois de uma rápida oração, seguiu até o cais, onde foram embarcadas duas imagens de Nossa Senhora dos Navegantes, que seguiram de barco pela orla da lagoa. A imagem de Nossa Senhora dos Navegantes da Colônia Z-3 foi até o Valverde e retornou, e a da Paróquia do Porto seguiu até o Quadrado, de onde foi levada de volta à Matriz Sagrado Coração de Jesus. Pela orla, moradores e banhistas saudaram a passagem da procissão.

Um dos momentos mais aguardados, o encontro da santa e da orixá, nas águas da lagoa dos Patos, na altura da Gruta de Iemanjá, no Balneário dos Prazeres, voltou a ocorrer e foi marcado pela emoção dos participantes, que junto com o barco de Iemanjá, se jogam às águas para reverenciar Nossa Senhora. Um momento ecumênico, em que não há divisões, apenas a renovação da fé e da esperança nas suas protetoras.

O presidente da Federação Sul-riograndense de Umbanda e Cultos Afro-brasileiros, Joabe Bohns, destacou a religiosidade e significado deste encontro, que demonstra respeito a todas as crenças. Ele estima que tenham passado pelo local das festividades, junto à Gruta de Iemanjá, no Balneário dos Prazeres, desde a noite de quarta-feira, mais de 11 mil pessoas. No entanto, a participação poderia ter sido ainda maior. Segundo ele, a falta de ônibus no horário noturno, esvaziou o evento em torno de 30%.

Ele também lamentou a limitação de espaços às terreiras, por ser a área considerada de Preservação Permanente Ambiental (PPA), e também para a descida de carros, limitada a 30 veículos. Também se queixa da falta de banheiros químicos no local. “Solicitamos quatro mas não vieram”, ressalta.

Durante a festa, o vereador Rafael Barriga, do União Brasil, anunciou verba de R$ 240 mil, de emenda impositiva, indicada pelo ex-deputado estadual Maurício Dziedricki, que será destinada à revitalização do local, já para a próxima festa em 2024. Segundo ele, será recuperada a gruta e seu entorno, com reforma das escadarias com acesso a cadeirantes, iluminação, colocação de bancos, lixeiras, entre outros.