O trabalho de um grupo de médicos da Beneficência Portuguesa será apresentado em Shanghai para um público seleto de especialistas em vídeo de cirurgia torácica de várias partes do mundo. O responsável por levar as experiências e os avanços na área de um hospital de Pelotas é o especialista em cirurgia torácica Otávio Leite Gastal. Ele embarcou na sexta-feira para a China e levou na bagagem o trabalho realizado em colaboração com o ultrassonografista Gustavo Lahm sobre Punção de lesões pulmonares guiadas por ultrassom, tema da palestra que o único brasileiro da turma de convidados fará no Encontro e Conferência Internacional de Video-Assisted Thoracoscopic Surgery, organizado pela Divisão de Cirurgia Torácica do Hospital Universitário de Tongji, em Shanghai.

O convite por indicação é reflexo do projeto desenvolvido por Gastal e os colegas Eduardo Rotta, Paulo Thofehrn (videolaparoscopia e cirurgia da obesidade) e Ricardo Haack (cirurgia oncológica) em Videocirurgia Avançada (VCA), com os primeiros passos dados ainda na década de 1990. Na Beneficência Portuguesa a prática ganhou destaque em 2015 e, em três anos, já foram dez lobectomias pulmonares. "O procedimento consiste em fazer grandes procedimentos cirúrgicos com pequenas aberturas na região do tórax, o que reduz significativamente o desconforto pós-operário", explica Gastal. O médico conta que o grupo de VCA da Beneficência Portuguesa de Pelotas está em constante atualização, busca de novas tecnologias e conta com o apoio da instituição, com vistas a tornar-se o Centro de Referência em Videocirurgia Avançada na região.

Curso
A participação do médico de Pelotas no curso será intensa, com uma rotina de duas semanas de treinamento, incluindo observação e análise de 20 a 30 cirurgias por vídeo a cada dia, em dez salas, de forma simultânea. "O ganho em conhecimento é muito importante, pois trata-se do maior centro de treinamento desta área no mundo. Poder trazer diferentes técnicas para a comunidade e para o meio acadêmico é uma oportunidade única", disse Gastal, que também é professor nas universidades Federal e Católica de Pelotas. Até hoje somente um brasileiro havia participado do curso.

Vantagens
Conforme o especialista, a videocirurgia torácica reduz em uma hora o tempo médio de cirurgia, pois ao invés de fazer uma abertura de 12 centímetros na parede do tórax, o processo é realizado apenas por um ou dois orifícios. Com isso, o desconforto pós-operatório é menor, com menos dor e, claro, a internação do paciente diminui em até cinco dias.

O procedimento, no entanto, ainda não está ao alcance dos pacientes que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS). Para a população ter acesso, segundo o especialista, seria necessária uma parceria entre o governo federal com prefeituras e os hospitais para a compra de equipamentos relativamente caros, mas fundamentais à cirurgia: os grampeadores endoscópicos e suas cargas. "Nossa ideia é padronizar os procedimentos e por comparação mostrar que o investimento em novas tecnologias compensa os gastos com a cirurgia convencional, ou seja, em que o tórax é aberto."

Em um futuro próximo, quem sabe, pacientes da rede pública com lesões pulmonares localizadas, pequenos tumores ou infecções, terão acesso à tecnologia já implementada com sucesso pela Beneficência Portuguesa.

Saiba mais
Otávio Leite Gastal tem 53 anos, é formado na UFPel, especialista em Cirurgia Geral pela USP e Cirurgia Torácica pelo Pavilhão Pereira Filho (Porto Alegre), doutor em Pneumologia pela UFRGS, pós-doutorado em Cirurgia Torácica e Broncoesofagologia na Universidade Meridional da Califórnia (EUA) e professor em Cirurgia Geral e Torácica nas Faculdades de Medicina da UFPel e UCPel.