Telefonia

Melhoramento e resistência há 100 anos

CTMR completa um século de existência

Jô Folha -

O prédio situado no encontro das ruas General Neto e 15 de Novembro, atual espaço destinado à Justiça Federal, já foi lar da centenária Companhia Telefônica Melhoramento e Resistência (CTMR). Hoje a empresa completaria cem anos de existência, gerada a partir da inquietação dos pelotenses quanto às tarifas do serviço que até então era monopolizado pela Companhia Telephonica Rio-grandense. Em 1998, todas as telefônicas brasileiras foram privatizadas por meio de um leilão. Sob presidência de Fernando Henrique Cardoso, foi instituída a lei 9.472/1997, que tinha como objetivo garantir aos brasileiros o acesso às telecomunicações, bem como tarifas e preços razoáveis. Medida que decretou o fim da empresa com forte vínculo local e que chegou a ser uma das melhores do país em prestação de serviços.


Entre 1918 e 1919, quem cuidava das redes de telefonia em Pelotas era a Companhia Telephonica Rio-grandense, coordenada pelo uruguaio Juan Ganzo Fernández. O coronel Ganzo, como era conhecido, iniciou um aumento nos custos das tarifas aos usuários, fator que causou descontentamento entre os pelotenses. Como conta o ex-diretor da CTMR, Martin Lages, o coronel não atendia as demandas populares e afirmava que os preços não iriam diminuir, tampouco faria as melhorias exigidas. Os pelotenses, revoltados, anunciaram então a criação de uma telefônica própria. Em resposta, Ganzo afirmava "que poderiam fazê-lo, pois acabariam sendo encampados por ele". Os usuários partiram então para o desenvolvimento de uma companhia, com o objetivo de melhorar a qualidade das ligações e resistir a uma eventual tomada de posse das redes por conta da empresa rival. Assim, surgiu a denominação Melhoramento e Resistência.


Três anos após a fundação do dia 20 de março de 1919, em fevereiro de 1922, a CTMR começou a oferta dos serviços. Os equipamentos da época eram mais modernos que da rival e a empresa iniciava as atividades com um número maior de terminais que a Telephonica Rio-grandense. Enquanto a primeira a chegar na cidade possuía aparelhos a magneto - de manivela, que precisavam de uma bateria junto ao aparelho -, a nova companhia inovou com telefones de bateria central, nos quais bastava levantar o fone do gancho para ser atendido pela telefonista. A expansão logo se sucedeu e nos anos seguintes foram instaladas pequenas centrais manuais em localidades do município, tais como Fragata, Três Vendas, Areal, Capão do Leão, Retiro e Monte Bonito, todas com o moderno equipamento Crossbar - além da expansão da central na área central.


No início da década de 40, a Telephonica Rio-grandense saiu da cidade após a publicação de uma portaria do extinto Ministério do Interior. A CTMR, então, tomou conta das linhas telefônicas na cidade. Em 1969, quando completou 50 anos, a empresa realizava cem mil chamadas telefônicas ao dia através das cinco mil linhas em 6,5 mil terminais. Segundo reportagem do Diário Popular da época, o número de aparelhos instalados, incluindo os automáticos, extensões, semiautomáticos e rurais, era superior a nove mil unidades.
A Companhia tornou-se referência ainda ao abraçar várias causas e eventos locais, sempre próxima da comunidade. Quando os cartões telefônicos assumiram o lugar das fichas nos orelhões, modelos com estampas da cidade valorizaram produtos e marcas locais, como a dupla Bra-Pel. Assim como as disputadas listas telefônicas, que todos os anos chegavam às residências e empresas com os números dos assinantes.

Museu do Telefone
Atualmente, as peças que fizeram parte do dia a dia dos antigos trabalhadores compõem o acervo do Museu do Telefone. Sob gerência da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), o Departamento de Museologia, Conservação e Restauro projeta que um memorial será lar das antiguidades. O local já está definido: será no Campus II da UFPel, na rua Almirante Barroso, 1.202. Também, outra instituição que envolve a companhia é a Associação dos Ex-funcionários da CTMR (AEFCTMR), que completará 40 anos em dezembro e reúne mais de mil sócios. Salões de festa, hidroginástica e academia são ofertados para os membros, que mantêm vivas as lembranças que envolvem a empresa.

Tráfego mútuo
Em 1941, uma portaria que abrigava as empresas de telecomunicações a terem tráfego mútuo foi implantada pelo Ministério do Interior. Eram denominadas assim as ligações entre empresas diferentes, em razão de existirem muitas companhias que dominavam as linhas das localidades. Antes da implementação da normativa, alguns usuários chegavam a ter mais de uma unidade em casa para manterem contato com amigos e familiares de outras cidades e estados. Com a obrigação do tráfego mútuo, a Companhia Telephonica Rio-grandense decidiu pela saída da cidade. Após resistir, por anos, contra uma possível tomada das redes, os materiais foram encapados pela CTMR. Em troca, o serviço realizado pela empresa em São Lourenço do Sul passou à Telephonica. A companhia pelotense não ficou para trás e logo aumentou o número de pessoas com acesso à tecnologia telefônica nos espaços interurbanos.

Privatização da Telebrás
Criado em 1967, o Ministério das Comunicações iniciou um sistema de fiscalização das concessionárias de telefonia, a fim de controlar o setor no Brasil. Dois anos antes, a Embratel havia sido fundada. Em 1972 foi a vez da criação da Telecomunicações Brasileiras S.A (Telebrás). O período era sinônimo de um novo degrau na escada do desenvolvimento das telecomunicações no país. Nessa época, com o uso dos recursos do Fundo Nacional de Telecomunicações, começou a ser implantado o sistema de discagem à distância, gerando o encampamento de diversas telefônicas Telebrás, fator que promovia o crescimento e melhorias na telefonia de todo território nacional. Além disso, especulava-se uma forte tendência da empresa assumir a maioria das teles do país.
Em seguida, os recursos possibilitaram a implementação da Discagem Direta Internacional (DDI), causando a substituição das antigas centrais por centrais digitais. Durante o governo FHC, em 1998, ocorreu a privatização da Telebrás. O leilão fora arrematado por R$ 22,058 bilhões, com 20% das ações em poder do governo na época - essa foi considerada a maior privatização já ocorrida no Brasil. Junto dos crescimentos no ramo, a CTMR evoluiu, mas não conseguiu se manter diante do momento de privatizações.

Saiba mais
- A segunda metade do século 19 foi momento do surgimento de invenção do telefone, que logo começou a ser instalado em todo o mundo. O Brasil foi um dos primeiros países do mundo a usufruir deste avanço
- Os serviços de telefonia de Pelotas chegaram em 1888, por meio da União Telefônica
- O capital inicial que catapultou a CTMR para a abertura do serviço foi de 1.600 contos de réis, dividindo em oito mil ações
- A primeira central automática passou a funcionar em 1952, fornecida pela empresa sueca Ericsson e constituída de 5 mil terminais
- As pequenas centrais situadas nos bairros e localidades próximas ao município eram instaladas em residência, fazendo com que as telefonistas dividissem a moradia com o local de trabalho

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