Por Daniel Batista - [email protected]
(Estagiário sob supervisão de Débora Borba)

Desde o dia 21 de março a abertura de estabelecimentos comerciais em Pelotas está proibida. A medida, adotada a partir do decreto municipal de situação de emergência, devido à pandemia do novo coronavírus, não incluiu outros serviços, considerados essenciais, como farmácias, mercados, postos de combustíveis. No mesmo sentido, também entrou em vigor, na última quarta-feira (1º), um novo decreto do governador Eduardo Leite (PSDB), que determinou o fechamento do comércio em todo o Estado até o próximo dia 15. No anúncio, ele afirmou que a opção visava garantir a não circulação de pessoas em um setor que detém cerca de 70% dos empregos no RS. Na região central da cidade, no entanto, a movimentação aumentou nos últimos dias, apesar das recomendações de órgãos e instituições nacionais e mundiais indicarem o isolamento social como medida contra a propagação do novo coronavírus.

No calçadão da Andrade Neves, as filas são comuns em estabelecimentos como lotéricas, bancos e farmácias. “Tem uns que se aglomeram”, afirma Sílvia Maria. A idosa conta que vem evitando sair de casa, mas precisou ir à farmácia buscar remédios para depressão e colesterol. Em seguida, também iria realizar a compra de mantimentos em um mercado. Apesar de recomendações de órgãos de saúde, que indicam o isolamento, ela aponta que o movimento na região segue intenso. “Mesmo com as lojas fechadas ainda tem bastante gente”, conta.

A necessidade do pagamento de contas e do recebimento da aposentadoria foi o motivo que levou Victor Palácios se dirigir do Areal ao centro do município. “Fazia um mês que não saía de casa”, garante. Por ser cardíaco, ele lembra que faz parte do grupo de risco da Covid-19, e que costuma realizar o deslocamento somente para atividades que considera essenciais. Quando precisa comprar alimentos e outros produtos, por exemplo, costuma procurar locais que possuem o serviço de entrega. Em casa, também conta que costuma adotar medidas preventivas, como lavar constantemente as mãos, aplicar álcool gel e desinfetar móveis e cômodos, como forma, também, de proteger a esposa, de 60 anos. “A hora que eu chegar, já vou tomar banho”, diz o aposentado.

Rotina normal para alguns
Os autônomos Sérgio Moacir e Rogério Jaime foram ao Calçadão para almoçar e afirmam que continuam com os deslocamentos diários normalmente. “Acho que tem muito terrorismo”, afirma o primeiro, em relação às notícias sobre o vírus. Para ele, cuidados normais de higiene como a lavagem das mãos e a utilização do álcool gel já são eficientes. “Se não está no grupo de risco, acho que podem andar normalmente”, complementa Jaime.

Isolamento contra o coronavírus
Propostas de isolamento e distanciamento social são recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e reiteradas pelo diretor-geral, Tedros Adhanom. Além disso, são adotadas por parte dos países afetados pela pandemia. “É consenso na literatura que o isolamento horizontal é a melhor forma da gente combater o coronavírus”, afirma Bruno Nunes, mestre e doutor em Epidemiologia, destacando o fato de a medida contribuir para que não haja sobrecarga no sistema de saúde. Ele destaca que as evidências ainda estão em estágios iniciais, com novas informações surgindo diariamente, mas que a estratégia vem sendo adotada por outros países com casos da Covid-19. “O que a gente está pensando, e todas as evidências científicas mostram, é que essas estratégias conseguem poupar vidas, e isso é fundamental nesse momento”, conta Bruno, ressaltando que Saúde Pública e Economia não são coisas distintas. Como forma de proteção, Nunes recomenda a busca por informações de órgãos oficiais, além de cuidados como a lavagem frequente das mãos. “Considerem sempre as suas mãos sujas”, lembra. Além disso, promover a higienização de alimentos, móveis e objetos em que se tem contato, como mesas, cadeiras, celulares e chaves, também é importante.

Medidas a favor do isolamento
Com o Decreto nº 55.514, publicado na última quarta-feira, foi estabelecido o fechamento do comércio em todo o Estado até o próximo dia 15. Para garantir o cumprimento da medida em Pelotas, serviços de fiscalização municipal, Procon, Brigada Militar e outras forças de segurança estão atuando. A população também pode contribuir com as medidas. As denúncias contra estabelecimentos comerciais que desrespeitam o decreto podem ser feitas pelo telefone (53) 3227-7974, de segunda a sexta, das 8h às 12h.

Em uma tentativa de diminuir a presença das população em espaços de convivência, a prefeitura iniciou a interdição desses locais na região central e nos bairros. Os brinquedos voltados para crianças, localizados na praça Coronel Pedro Osório, por exemplo, já estão com fitas, assim como os bancos do local, que contam com cartazes alertando sobre a campanha “#FicaemcasaPelotas”. Além disso, segundo a prefeitura, outras ações estão sendo efetuadas, como a divulgação de mensagens ressaltando a importância do isolamento, por meio de caminhões de coleta de lixo, decreto de medidas preventivas em velórios e sepultamentos, disponibilização de contas de água do Sanep por e-mail, integração de órgãos de segurança para evitar aglomerações, prorrogação de validade de certidões e incentivo a atendimento on-line pela Secretaria da Fazenda e diminuição da lotação máxima de bares, restaurantes e lancherias para até 30%, com distância de 1,50 metro entre as mesas.