Consequência

Na mira dos pelotenses

Procura por informações a respeito do porte de armas de fogo aumentou na cidade após a flexibilização da posse

Paulo Rossi -

A atualização do Estatuto do Desarmamento impulsionou a busca por formas de conseguir a posse de armas de fogo em Pelotas. A empresa Fire Arms, habilitada para formar vigilantes com treinamento em tiro, relata a procura por informações relacionadas ao uso do instrumento. O Clube de Tiro Fogo Central também viu a mudança no interesse sobre cursos de capacitação para o exame psicológico e técnico, prova que habilita o candidato ao uso legal de armamento.

Dionísio Cézar Cunha e Silva, proprietário da Fire Arms, ressalta a crescente demanda pelos cursos de capacitação para o teste psicotécnico e, principalmente, por informações a respeito dos caminhos para conseguir manejar o instrumento. A procura aumentou consideravelmente após dois fatores: o resultado das eleições e a atualização do decreto de lei 10.826/2003. O presidente da República Jair Bolsonaro (PSL) manteve durante a campanha a promessa de "armar a população", como costumeiramente se referiu à posse de arma de fogo.

Já para Sérgio Soares, presidente do Clube de Tiro Fogo Central, o maior interesse pelo porte se deu porque Bolsonaro, ainda candidato, trouxe à tona o assunto. "Desde 2003 as pessoas podem ter arma, só que pouca gente sabia", acrescenta. O Sistema Nacional de Armas, órgão da Polícia Federal responsável pelo controle das armas de fogo no território nacional, calcula que 2.887 novos registros foram feitos em 2018, o que resulta no aumento de 6,35% em comparação ao ano anterior.

O teste psicotécnico é a avaliação necessária para conseguir a posse. Os interessados passam por avaliação de psicólogos e demonstram conhecimentos em relação ao tiro e ao manuseio de arma. Apesar de não ser exigência, é aconselhado que cada pessoa passe por um período de capacitação, uma espécie de curso com aulas sobre técnicas de segurança, legislação e treinos. Tanto o Clube como a Fire Arms são credenciados pela Polícia Federal para aplicar os testes e fornecer o curso, que varia entre alguns finais de semana e quatro semanas seguidas. Dionísio conta que algumas pessoas preferem não passar pelo período capacitatório, decisão que muitas vezes gera a reprovação dos candidatos.

Mudanças no decreto
Na última terça-feira (15), o presidente Bolsonaro assinou o decreto que marca a flexibilização sobre o posse de armas no país. A autorização é válida para os que querem manter o instrumento em casa, seja no meio urbano ou rural, ou no local de trabalho, no caso em que o dono é responsável pelo estabelecimento. Antes, o decreto exigia que o interessado declarasse a efetiva necessidade do porte, termos pouco detalhados nas normas da legislação. O novo texto esclarece que, por exemplo, ser dono de estabelecimento comercial e industrial, morar em área rural ou em área urbana com índices anuais de mais de dez homicídios por 100 mil habitantes são critérios válidos. O último ponto é válido para todos os estados e o Distrito Federal.

Outro ponto modificado foi uma "dificuldade", como diz Dionísio, que os clubes de tiro tinham em função da munição dentro dos espaços. A partir das mudanças, os locais podem disponibilizar munição do próprio estoque para provas, cursos e treinamentos. Também, o Estatuto do Desarmamento passou a autorizar a aquisição de até quatro armas de fogo por pessoa.

Perfil dos utilitários
Cerca de 90% dos que procuram o teste psicotécnico passaram por situações traumáticas antes de tomar a decisão, conforme aponta o proprietário da Fire Arms, atuante no ramo desde 1991. É comum aos funcionários da empresa ouvir relatos de assaltos, arrombamentos a moradias e agressões. "A pessoa se sente impotente", frisou.

O que antes era um interesse predominantemente masculino virou de todo núcleo familiar. De 2017 para cá, a procura das mulheres para a capacitação aumentou consideravelmente. Casais também passaram a buscar os locais especializados para se armar. "A família agora tem uma arma", ressalta Dionísio. O perfil dos frequentadores do local é semelhante aos do Clube de Tiro Fogo Central, que existe há mais de três anos. Lá, crianças vão junto dos responsáveis para treinar tiro ao alvo nos estandes, com o acompanhamento do instrutor.

 

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