Comércio
No vai e vem dos passageiros à espera dos clientes
Atuação de ambulantes na rodoviária provoca denúncias por parte de lojistas permissionários em Pelotas
Carlos Queiroz -
Quem embarca ou desembarca na Rodoviária de Pelotas se acostumou com uma cena: vendedores ambulantes esperando por clientes. Além da estrutura interna com mais de 50 estabelecimentos comerciais, os passageiros presenciam as vendas na área de partida enquanto esperam os ônibus que chegam ou deixam a cidade. No complexo passam cerca de 300 mil pessoas por mês e as vendas são permitidas apenas nos locais designados. A Eterpel, que aloca os espaços a comerciantes, encara a venda dos ambulantes com preocupação e encaminha as denúncias à Secretaria de Gestão Urbana, responsável pela fiscalização. Entre os produtos vendidos estão redes de descanso, peças de couro, como cintos e carteiras, filmes e até lampiões.
Em uma tarde comum é possível encontrar ao menos cinco ambulantes na área dos ônibus. O principal produto vendido nessa época do ano é a rede, muito comum na região Nordeste do Brasil. A maioria dos vendedores, aliás, vem de lá. É o caso de César Fernando, de 40 anos. O ambulante é natural de São Bento, na Paraíba. O município de cerca de 35 mil habitantes é conhecido como a Terra das Redes. O vendedor conta que lá são fabricados os produtos que ele comercializa aqui em Pelotas há mais de quatro anos.
César Fernando deixou a mulher e os dois filhos na cidade natal para vir trabalhar no Rio Grande do Sul. Como ambulante, atua em Pelotas e em outras cidades, como Canguçu e Pinheiro Machado. Parte do dinheiro ganho na região é designado para ajudar a família. Para César, a rodoviária é um local complicado para as vendas; tem dias que a fiscalização aperta e apreende o material. Para conseguir de volta, o trabalho é dobrado. No entanto, em um dia regular, consegue vender de cinco a dez peças, dependendo do movimento. "Tem redes de todos os tipos, o preço varia", fala, mostrando uma que custa R$ 94,00.
Outro ambulante, nascido em Cristal mas residente de Pelotas, conta que trabalha há 20 anos como vendedor. Já foi representante comercial de empresas e diz que vender é a forma que encontrou para o sustento. "Preciso sobreviver. Faço o meu trabalho e não obrigo ninguém a comprar. Às vezes a gente sente uma discriminação com o ambulante, as pessoas olham feio", relata. Com 50 anos de vida, vive com a mulher e ajuda no sustento de uma criança.
"A informalidade faz a moeda girar. Eu vendo aqui e uso o dinheiro para pagar as minhas contas - de luz, de água, de telefone. Para arranjar emprego precisa de alguém que indica, é complicado. Também há empresários que sonegam e parece que não se fala muito nisso", critica o ambulante. Comercializando CDs, DVDs e pen-drives, ele criou uma clientela na Rodoviária. "As pessoas falam que hoje em dia existe Netflix, mas nem todo mundo tá incluso nisso. Tem pessoas que ficam pra trás no sistema. Por isso tenho minha clientela. Se não tivesse, já tinha largado daqui", conta.
Para o diretor-administrativo da Eterpel, Cláudio Fabrício Montanelli, a presença dos ambulantes na área dos ônibus é uma preocupação e há denúncias pontuais de lojistas. "Temos uma segurança privada que preza pela integridade dos passageiros e do patrimônio. As denúncias que recebemos contra os ambulantes, nós repassamos ao órgão responsável", explica. Ainda segundo o diretor, qualquer comércio além dos espaços alugados é proibido. "A fiscalização é difícil, porque os ambulantes recolhem os produtos e desaparecem. Às vezes, quando os funcionários daqui flagram as vendas, pedem educadamente para que se retirem." A Secretaria de Gestão Urbana esclarece que a última denúncia recebida foi há três meses, numa situação de venda das redes.
Para trabalhar na rua
Na Eterpel, todo o comércio dentro do complexo exige uma licença do órgão. Responsável pela fiscalização de venda ambulante na Secretaria de Gestão Urbana, Carlos Pereira esclarece que a oferta de redes de maneira itinerante, por si só, é permitida. O problema é em relação às vendas no Calçadão, quando há um ponto fixo. Atualmente, com a interdição do calçadão da rua 7 de Setembro para as obras de qualificação, a prefeitura permite apenas venda de alimentos nas ruas. Além dos eventos especiais de artesanato, como o Mercado de Pulgas, e da feira de domingo na avenida Bento Gonçalves.
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