Flora

Nossa e sob risco de extinção

Na lista das plantas ameaçadas no Rio Grande do Sul, últimas populações da grindélia atlântica habitam as areias do Laranjal

Paulo Rossi -

Na lista gaúcha de plantas ameaçadas de extinção, a grindélia atlântica ou margarida-da-praia ou ainda margarida-do-Laranjal, é uma flor que os pelotenses podem chamar de sua. Classificada como “criticamente em perigo de extinção” pela Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, as últimas populações estão localizadas principalmente no Pontal da Barra e em partes do Laranjal e Barro Duro.

Nos últimos meses do ano, é comum ver, na beira da praia em direção ao Pontal, flores amarelas que nascem entre a estrada e a água. A areia grossa do Laranjal, acompanhada do clima da região, é o local ideal para o desenvolvimento da espécie. Numa saída de campo de estudantes de Gestão Ambiental da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), foram contabilizadas 140 unidades entre o Trapiche e o Pontal, numa extensão de cerca de 1,5 quilômetro.

Em tempos de debates sobre a importância cada vez maior de ações de preservação ambiental, a Grindélia chama a atenção por ser uma planta só encontrada em Pelotas, em extinção e com necessidade de atenção tanto do Poder Público como da população.

Margarida-do-Laranjal

Além do patrimônio ambiental, a beleza ornamental da planta é destacada pelo professor e pesquisador do curso de Gestão Ambiental da UFPel, Giovanni Nachtigall Maurício. Em Fundamentação técnico-científica para a criação da Unidade de Conservação Pontal da Barra do Laranjal, Pelotas, RS, livro organizado pela universidade que traz um compilado da importância da biodiversidade da área, Giovanni lembra que eram 42 espécies ameaçadas que foram encontradas no Pontal. O livro é escrito por dezenas de pesquisadores e serve como argumento para a criação da unidade de conservação da área.

“Isso foi um trabalho feito até abril de 2019. De lá pra cá, já encontramos outras quatro espécies em situação semelhante. Cada saída de campo e visita no Pontal a gente encontra algo do tipo”, cita.

Preocupado com a preservação da área, o pesquisador aponta a limpeza feita na orla com um trator como prejudicial à planta. Numa caminhada pela região, foi possível identificar pequenos montes de areia formados com aguapés e outras plantas em um local com grindélias. “Deveria ser pensado um plano de manejo. Da forma como é feito, acaba removendo junto a planta ameaçada de extinção”, sugere.

Doutor em Botânica e pesquisador da área na Embrapa Clima Temperado, Gustavo Heiden tem trabalhado junto com o estudante Fernando Fernandes e o professor João Igansi em pesquisas com a planta. Ele conta que, inicialmente, foram encontradas grindélias também no Litoral Norte do Estado. Porém, após a declaração da ameaça de extinção, pesquisadores da Fundação Zoobotânica não encontraram mais a espécie naquela região. “Isto é, se for extinta no Laranjal, será extinta do planeta Terra”, alerta o botânico.

Heiden também cita a importância do trabalho desenvolvido por estudantes e pesquisadores da UFPel que estão inventariando diferentes grupos da fauna e flora. Através de pesquisas e incentivo destas atividades, seja possível preservar e encontrar meios para que a espécie não seja extinta.

Importante para a nossa natureza

Entre os motivos que alertam a importância de se preservá-la está a contenção da areia e da erosão, comum em períodos de chuva e capazes de destruir a estrada. A margarida-do-Laranjal também é habitat de polinizadores como abelhas e outros insetos. No norte dos pesquisadores da grindélia, estão em curso projetos para investigar a sua reprodução, a possibilidade de cultivo ornamental e se possui alguma potencialidade que pode ser desenvolvida. “Precisamos fortalecer que ela é única, existe aqui no município e faz parte da nossa identidade”, ressalta Gustavo.

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