Aproveitando
Nova casa, nova oportunidade de sustento
Moradores dos condomínios Amazonas e Roraima, do Parque dos Estados, no Sítio Floresta, suprem demanda de comércio dentro dos próprios apartamentos
Paulo Rossi -
A rua Abrilino Ferreira Cardoso, bairro Sítio Floresta, foi o local que nutriu esperança de uma vida melhor para muitas famílias. Nos condomínios Amazonas e Roraima, do programa Minha Casa, Minha Vida, além da realização do sonho da casa própria, surge também uma oportunidade de renda, ainda que informal, devido à falta de estabelecimentos comerciais próximos ao conjunto habitacional.
Todos os dias são iguais. Simone Valente Paiva começa a preparar as marmitas às 10h30min. Ex-moradora do bairro Simões Lopes, a cozinheira agora faz do Parque dos Estados tanto morada quanto negócio. "Entrei de suplente. Após o sorteio, em que não fui sorteada, já não tinha mais esperança. Três dias depois me ligaram", conta. Alívio. O micro empreendimento começou na cozinha da casa nova, com a produção de marmitas, a la minutas, pães, tortas, salgadinhos - tudo que é tipo de refeição. Assim, consegue trabalhar e cuidar dos filhos.
O grupo no WhatsApp do bloco onde mora e do condomínio Amazonas é a principal forma de divulgação, além da propaganda feita no boca a boca. "É ali que eu posto fotos do que estou cozinhando. Chega perto do meio dia e os pedidos começam a vir", conta. "As vezes sai sete, as vezes, quatro, dez refeições. Mas para quem começou há dois meses está bom", acredita a moradora. Os quatro filhos ajudam na entrega da comida. Quem Simone conhece, entrega na porta de casa. Já para os desconhecidos, deixa a encomenda na portaria do prédio. Dia após dia, tem sustentado a casa assim, na informalidade, vendendo os almoços com valor de R$ 7,00 a R$ 10,00. O sucesso é confirmado pelos vizinhos. Enquanto Simone conversava com a reportagem, outra moradora bateu na porta da residência para perguntar se a cozinheira tinha pão feito em casa para vender.
Atravessando uma praça infantil do residencial até outro bloco, a divulgação dos produtos pode ser vista em cartazes na janela de Bruna Ferreira Dynczuk, 24, outra vendedora. Balas, pirulitos, refrigerante e cerveja são alguns dos itens à venda. É ali pela janela mesmo que o comércio acontece. "Eu cheguei no condomínio e não tinha nada. Nem luz, nem comida", relata a moradora. "Em dezembro ganhamos um fardo de refrigerante. Eu saí com o refrigerante nos braços pelo condomínio para vender. Com o dinheiro, voltamos no supermercado e compramos mais. E assim foi", diz.
Do lucro ao investimento
Ao invés de comprar mantimentos para casa, usou o dinheiro adquirido para comprar ingrediente e fazer lanches. O pouco que arrecadou foi suficiente para vender o primeiro cachorro quente aos vizinhos. "No primeiro dia foram 17 lanches vendidos. Saí pelo condomínio divulgando para as pessoas. Depois vendemos 40, 50. Hoje em dia a média é de 70 por dia", explica. A rotina começa as 19h e vai até 1h da madrugada. O marido entrega e a cunhada atende os pedidos. Tudo feito em casa, situação ideal para que Bruna consiga ficar de olho nos dois filhos. "Foi graças ao apartamento que eu comecei a viver bem. Se a gente tá afim de comer alguma coisa, comprar roupa, hoje em dia eu tenho dinheiro para fazer isso. Minha vida mudou radicalmente", fala. Foi com o dinheiro dos lanches que a família conseguiu adquirir uma moto para fazer as tele entregas.
Mas Bruna não quer se acomodar. "Quero colocar uma máquina de cartão. Um dia eu vou ficar que nem as lancherias grandes", idealiza. Ainda pretende mobilizar toda a casa e fazer faculdade de administração. A empreitada tem dado certo - de dentro do apartamento no Sítio Floresta Bruna recebe até pedidos de outros bairros.
O que os une Bruna e Simone, duas mulheres que comandam a renda da família entre as 560 outras que habitam os condomínios, é a conquista da moradia própria. Todos ressaltam as mudanças - para melhor - após a entrega dos apartamentos. Simone, por exemplo, esperou oito anos na fila para ser contemplada com o Minha Casa, Minha Vida. No entanto, ainda aguardam a chegada de escolas, farmácias, unidades básicas de saúde, supermercados e outros estabelecimentos essenciais para a região do Parque dos Estados.
Também há solidariedade no cuidado para que os vizinhos não comercializem os mesmos produtos. O que um vende o outro tem o cuidado de evitar. "A gente também se troca. Outro dia eu peguei um guardanapo bordado de um morador e ele já levou uma comida daqui. A Bruna pega o almoço e eu pego um lanche. O bom é que aqui as pessoas são boas, acessíveis", conta a cozinheira Simone. Manicure, cabelereiro e artesão são outras profissões que encontraram espaço no local.
Saindo da informalidade
Para a técnica do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Tenille Drewf, o serviço oferecido pelas mulheres representa duas maneiras de empreender: a por oportunidade, em que se nota um nicho de mercado, e a por necessidade, em que a pessoa utiliza o negócio para se manter. "A primeira ação é avaliar a viabilidade da oportunidade que as moradoras encontraram", diz. Para isso, a instituição recomenda o estudo de plano financeiro e de marketing. "A internet usada para divulgar o produto, o gás, a luz, a água... Tudo isso tem um custo e precisa ser contabilizado no valor final", explica. Outra opção é formalizar a ideia, cadastrando-se como Micro Empreendedor Individual (MEI) através do portaldoempreendedor.gov.br.
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