Imbróglio

O Contorno perto e longe do fim

Um dos 11 viadutos previstos no projeto - no entroncamento com a avenida Cidade de Lisboa, no Fragata - sequer saiu do papel e segue sem data para iniciar; ainda são necessárias desapropriações no trecho

As obras do Contorno de Pelotas, que deveriam estar concluídas desde o segundo semestre de 2015, não ficarão prontas neste ano. A informação é do diretor-presidente da Construtora Pelotense, Luís Roberto Ponte, que integra um dos dois consórcios responsáveis pelo trabalho. Um dos 11 viadutos previstos no projeto - no entroncamento com a avenida Cidade de Lisboa, no Fragata - sequer saiu do papel e segue sem data para iniciar. Ainda são necessárias desapropriações no trecho.

São pendências que se somam à escassez de recursos e às dúvidas sobre quais projetos serão priorizados pelo governo do presidente interino Michel Temer (PMDB). Ainda antes do afastamento de Dilma Rousseff (PT), a recomendação do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) era de paralisação de todas as obras no Rio Grande do Sul, afirma Ponte. Agora, o compasso é de espera pela tomada de decisão dos ministérios dos Transportes, Portos e Aviação Civil e do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão.

Não há, portanto, orientação oficial para acelerar o ritmo - lento - ou interromper o serviço. “A questão orçamentária e financeira para 2016 está bem restrita em relação ao que vinha sendo até o momento”, destaca o engenheiro e supervisor do Dnit, Vladimir Casa. “Apesar disso, com a mudança interina de governo, o Dnit aguarda definições. Sem isso, é impossível prever prazos”, admite.

Conclusão parcial e expectativa
Outros dois pontos serão finalizados pela Construtora Pelotense, independentemente de serem injetados novos recursos na construção do Contorno: o viaduto de acesso à avenida Herbert Hadler, na BR-116, e a pavimentação asfáltica em direção ao Centro de Eventos Fenadoce, que permitirá a liberação da ponte sobre a Barragem Santa Bárbara, já concluída. São os dois comprometimentos.

Os demais pontos ainda em aberto (veja arte na página ao lado) irão depender dos anúncios que estão por vir. “Se não tiver nenhuma verba vamos parar”, garante Luís Roberto Ponte. Mas pondera: “Imagino que vão conseguir verba para não parar; não com ritmo forte, não para concluir este ano, mas para continuar com a obra em andamento”.

O número restrito de operários nas rodovias e o maquinário praticamente parado não estariam relacionados ao quesito pagamento, que completará duas parcelas em atraso no final deste mês. Em fevereiro, quando o Diário Popular apresentou a série A passos lentos para o progresso, a Pelotense também não havia interrompido o serviço, apesar de existirem quatro meses em atraso, naquele momento, e o contrato permitir a paralisação das atividades. As chuvas em excesso (nos últimos anos) e a escassez de asfalto, não entregue pela Petrobras nos últimos dias, estariam prejudicando o trabalho - justifica.

Transtornos diários

Quem se vê em meio a cavaletes, a placas de desvio e a trechos ora liberados ao tráfego, ora em pista dupla, lamenta pela demora. E pelos transtornos. "Alguns não têm paciência de esperar, não sinalizam. Já vi duas batidas ali", conta o caminhoneiro Luís Fernando Ayres, 39, ao se referir às obras em viaduto no acesso ao campus da UFPel, próximo à ligação entre a BR-392 e a avenida 3 de Maio, no Capão do Leão. Um dos locais em que os motoristas têm de exercitar a tolerância, principalmente, nas primeiras horas da manhã e nos finais de tarde.

Saiba mais sobre o Contorno 
Extensão: 23,7 quilômetros
Valor a ser investido: R$ 612 milhões
87,22% da obra está concluída
Cerca de 50% do trecho já foi liberado ao tráfego de veículos
Dos 11 viadutos e três pontes, previstos no projeto, sete estão em construção e seis já foram entregues. O viaduto do entroncamento com a avenida Cidade de Lisboa ainda depende de desapropriação de terras para o início das obras ser viabilizado.

O trabalho foi dividido em dois lotes:
1A
11,01 quilômetros de extensão
BR-116: do km 511,75 ao km 522,76
Está a cargo do Consórcio formado pelas construtoras HAP Engenharia e Convap, de Minas Gerais
O trecho, que se estende da ponte sobre a Barragem Santa Bárbara até a ponte sobre o Arroio Pelotas está pronto e concluído ao tráfego, com exceção do ponto onde está localizado o Posto de Fiscalização da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
- O que diz a PRF? Em breve, o km 516, da BR-116, estará liberado para o começo das obras. Possivelmente em junho, o setor administrativo da 7ª Delegacia da PRF será transferido ao Centro de Pelotas. A fase é de negociação do contrato de aluguel a ser assinado - explica o chefe José Apodi Dourado. Assim que ocorrer a mudança, então, a área operacional do Posto de Fiscalização passará a atuar junto à balança da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), situada após a Praça de Pedágio; nos moldes do que também foi realizado em Rio Grande.

1B
12,68 quilômetros de extensão
BR-116: do km 522,76 ao km 527,68
BR-392: do km 60,63 ao km 68,40
Está a cargo do Consórcio entre as empresas SBS Engenharia e Construções AS, MAC Engenharia e Construtora Pelotense

A obra do Contorno de Pelotas integra um projeto maior, que visa à duplicação do eixo Porto Alegre-Rio Grande, o chamado Corredor de Exportação, por onde trafegam em torno de dez mil veículos por dia. Grãos, calçados, fumo. A produção da Região Metropolitana, do Vale dos Sinos e da Serra gaúcha precisa chegar ao Superporto de Rio Grande, o único marítimo do Rio Grande do Sul. Para evitar um colapso nos próximos anos, quando o fluxo no trecho deve atingir os 16 mil veículos por dia, a ampliação era imprescindível.
E, nesse sentido, como as BRs 116 e 392 passam por áreas urbanizadas de Pelotas, a obra do Contorno (e seus viadutos) também se tornava necessária. Era estratégica para evitar conflitos entre o tráfego interno dos bairros e o de longa distância.

Relembre 
- Em setembro de 2010: a direção do Dnit, em Pelotas, chamava a imprensa para exibir o audiovisual que encerrava quatro anos de estudos técnicos. O orçamento apresentado, naquele momento, era de R$ 479 milhões.
- Em agosto de 2012: ocorria a assinatura da ordem de serviço para o início das obras do Contorno e da duplicação da BR-116, trecho Guaíba-Pelotas. As empresas teriam três anos para executar o trabalho.
- Em novembro de 2012: até o final daquele ano a equipe do Dnit pretendia ter em mãos um estudo que levaria a cerca de 200 processos de desapropriação, ao longo dos quase 24 quilômetros do Contorno. Ao todo, 11 comunidades seriam diretamente afetadas pelas obras; da ponte do Retiro (na BR-116) à ponte sobre o canal São Gonçalo (na BR-392), na divisa com Rio Grande. Até hoje, entretanto, pelo menos um ponto - junto à avenida Cidade de Lisboa - ainda depende de desapropriação.

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