Na tarde desta terça-feira (24), representantes do governo do Estado, lideranças da Zona Sul, em especial do município de Rio Grande, e do Grupo Ecovix, administrador do Estaleiro Rio Grande, devem reunir-se no gabinete do governador José Ivo Sartori (PMDB) a partir das 14h30min. Em pauta, a possível recuperação fiscal da operadora do estaleiro no município e a retomada da produção, sem ligações com a Petrobras.

O encontro ocorre às vésperas de uma decisão judicial que poderá definir o futuro da empresa. Na última semana, por meio de nota, a Ecovix demonstrou o interesse em retomar as atividades aproveitando a estrutura que possui no Estaleiro Rio Grande, o maior do Hemisfério Sul. A ideia seria gerar um número inicial de 600 empregos. Porém, na próxima quinta-feira, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) deverá decidir se aprova ou não a realização de uma assembleia geral dos credores da empresa. A recuperação judicial foi iniciada em dezembro de 2016 para reestruturar a dívida. Os ativos da empresa são estimados hoje em um bilhão de dólares.

A reunião se dá, segundo a nota da Ecovix, para a apresentação dos projetos. O grupo diz ter interesse no aproveitamento das estruturas do estaleiro para explorar pelo menos quatro áreas, entre elas a finalização da plataforma P-71. Além disso, o preço do petróleo em alta é outro motivo citado pela Ecovix para a retomada do interesse por Rio Grande. A exploração da atividade portuária, com atracações de embarcações e movimentação de cargas, os reparos em plataformas petrolíferas e em embarcações e o processamento de aço à indústria metalomecânica também são citados.

De acordo com o secretário estadual do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, Evandro Fontana, o encontro servirá para discutir utilizações da estrutura já existente, mas sem relações com a Petrobras. Para ele, é importante que tanto lideranças locais como a comunidade estejam ligadas no futuro do estaleiro. "Existem muitas ideias e potencialidades", comentou, referindo-se ao que já está pronto.

A questão judicial também gera expectativa, já que, segundo Fontana, pode dar uma guinada completa no futuro, para qualquer lado. Porém, ele também considera importante buscar consensos, sair da atual situação e encontrar soluções em breve. "Agora surgiu uma possibilidade real", comemorou.

Dúvidas e desconfiança
O prefeito de Rio Grande, Alexandre Lindenmeyer (PT), não sabe ao certo o que será apresentado na reunião. Ele recebeu o convite do Palácio Piratini para se fazer presente. "Estou indo para escutar", comentou. Para ele, a expectativa principal é quanto à decisão do TJ-RS.

Segundo o prefeito, o cenário de indefinição é o pior possível, já que não dá segurança nenhuma a qualquer ação no estaleiro. Com as estruturas se deteriorando por estarem sem manutenção, também não geram renda ou empregos. "Precisamos de uma resposta rápida (...) a expectativa é de ter uma decisão e não ver aquilo tudo se tornar um campo de sucata", lamentou.

Com os 3,5 mil postos de emprego encerrados pela Ecovix durante a crise, o prefeito estima prejuízos de R$ 12 a R$ 15 milhões mensais ao município apenas em salários. Além disso, existem as perdas de impostos e outros investimentos. Atualmente, ele crê que cerca de 50 a 60 pessoas estejam empregadas no local.

Já o vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Rio Grande (Stimmmerg), Sadi Machado, embora a expectativa seja sempre positiva, vê com cautela e cuidado a questão. "Depois de 16 meses, só agora demonstraram interesse?", questiona. Além disso, ele desconfia da existência de possíveis contratos futuros, caso a recuperação se consolide. Para ele, a assembleia dos credores é o principal ponto de atenção do Stimmmerg no futuro próximo. "Eu estou com meus dois pés atrás. Sinceramente, eu espero estar errado", finalizou.