Especial DP
Os efeitos da expansão de ciclovias e ciclofaixas no trânsito de Pelotas
Mesmo com o aumento no número lugares específicos para a prática, os ciclistas ainda encontram desafios na cidade
As pistas exclusivas para bicicletas contribuem para reduzir acidentes (Foto: Jô Folha - DP)
Todos os dias Mário de Miranda desloca-se da sua residência na Sanga Funda até a avenida Fernando Osório, em direção à zona central da cidade, de bicicleta. A opção, mais rápida, econômica e saudável se comparada a um automóvel, torna-se também atrativa devido à combinação de ciclovias e ciclofaixas que interligam o seu caminho rotineiro. Pelo menos na teoria. Na prática, não são poucas as vezes em que Mário precisa descer do veículo e realizar o trajeto a pé em nome de sua segurança ou pelas más condições da pista. O transtorno, compartilhado por uma parcela significativa dos ciclistas que percorrem os 28 quilômetros de malha viária disponíveis na cidade atualmente, indica, apesar do número expressivo e que coloca Pelotas como o município gaúcho com a maior extensão de ciclovias, que ainda há muito para se avançar.
Para quem tem a bicicleta como primeira opção de meio de transporte, a resposta de por onde estes avanços devem começar está na ponta da língua. A ciclovia da Fernando Osório é disparada o maior alvo de críticas dos ciclistas. O autônomo Milton Barros, que pedala por todas as regiões da cidade, considera que em questões de insegurança e infraestrutura problemática, este é o pior ponto para se utilizar. Não é à toa. Esta pista integra o projeto de qualificação da avenida concluído em 2013 e que apresentou uma série de problemas após a sua realização, como o esfarelamento do asfalto e o aparecimento de buracos na via. Enquanto busca-se judicialmente uma solução, uma boa notícia foi anunciada na última quarta-feira. Prefeitura e empresas do consórcio responsável pela obra assinaram Termo de Acordo Extrajudicial para pavimentar a pista de bicicletas, atualmente com material antipó. A obra deve começar nesta semana, com prazo de execução de cinco meses.
Mesmo destacando os avanços registrados na cidade com relação ao aumento de quilômetros de ciclovias e ciclofaixas, o professor e idealizador do Movimento dos Usuários de Bicicletas de Pelotas (Mubpel), Horacio Severi, soma-se à voz daqueles que reivindicam melhores condições na avenida que é uma das portas de entrada do município. “Esta pista, a qual muito se prometeu e pouco se fez, causa até mesmo tristeza. Não contempla em nada o projeto. É apenas uma faixa segregada, sem proteção ou infraestrutura.” No entanto, para além deste ponto, os ciclistas têm o que comemorar com relação a outras pistas, como por exemplo a da avenida Dom Joaquim e a da Félix da Cunha. “Avançamos sim, o que precisamos diminuir é a distância entre o projeto que é apresentado e aquele que é entregue à comunidade, que muitas vezes são coisas diferentes”, completa.
Um dos fundadores e liderança do grupo Pedal Curticeira, que busca promover a cultura da bicicleta, Telmo Coelho considera a quilometragem pelotense bastante positiva, apesar de desconexa em muitos pontos e em outros insegura devido à concorrência com os automóveis. Pela experiência através do Curticeira, que realiza pedaladas em grupo por diversos locais, Telmo afirma que a ciclofaixa da avenida Ferreira Viana é um dos poucos locais que preocupam com relação ao trânsito, principalmente pelos veículos circularem em alta velocidade até mesmo nas rótulas. “Melhorou muito e ainda vai melhorar mais, já que a apropriação desses espaços pela população é cada vez maior. Quanto mais ciclovias e ciclofaixas mais ciclistas e vice-versa.”
Quanto aos pontos desconexos, tanto Telmo quanto Horacio concordam que ainda se precisa avançar muito para que a circulação seja mais segura ao ciclista, mas dentro das condições oferecidas pela estrutura da cidade. “Temos consciência de que não são todas as ruas que receberão as pistas. Algumas não as comportam. O que precisamos é de que aquelas essenciais para o fluxo e a ligação de áreas do município estejam interligadas”, reforça Horacio.
Meta até dezembro
Com a perspectiva de levar a malha viária de Pelotas aos 40 quilômetros até o final do ano, a Secretaria de Transportes e Trânsito (STT) prevê que muitos dos problemas apontados hoje deverão estar solucionados ao ter esta marca alcançada. Para o diretor-executivo da STT, Flávio Al-Alam, em breve, a cidade terá vias interligando as principais avenidas e possibilitando a realização deste percurso de bicicleta. Quanto à ciclovia da Fernando Osório, reforça que a pista será recuperada e reconstruída em um modelo semelhante ao implantado na Dom Joaquim. Já na Bento Gonçalves, local que desperta dúvidas quanto à ausência de uma ciclovia ou ciclofaixa, Flávio explica que pelo fluxo de trânsito, o qual circula no lado, a STT optou por transferi-la para a Doutor Amarante, ainda sem previsão de execução. “Este ainda é um projeto em andamento, mas já contamos com uma bela malha viária e que tem sido apropriada pela população cada vez mais.”
O número de ciclovias e ciclofaixas cresceu nos últimos anos (Foto: Jô Folha-DP)
É preciso mais
As ciclovias e ciclofaixas são, de fato, uma importante conquista tanto para os ciclistas quanto para quem tem intenção de tornar-se um. No entanto, para que este papel se cumpra na sua totalidade, há uma série de mudanças culturais, sociais e mesmo estruturais que precisam acompanhar a implantação das pistas.
Estacionamento, por exemplo, é uma destas demandas. Tanto na rua, quanto que se cumpra a lei municipal que determina aos estacionamentos privados o recebimento das bicicletas, como apontam Horacio Severi e Telmo Coelho. Sem isto, a locomoção por meio deste veículo é, muitas vezes, prejudicada e até mesmo inviabilizada.
Outro ponto passa pela educação no trânsito. Este espaço destinado à circulação de bicicletas acaba sendo ocupado por pedestres que utilizam a área para locomoção ou para prática de esportes. Para Horacio, sinaliza que há uma carência de espaços na cidade que levam a este conflito. “Não existe problema em compartilhar, afinal faltam praças, parques e locais de lazer em Pelotas, mas também é preciso consciência por parte da população.” Telmo complementa com o que acredita ser a solução: educação. “Os ciclistas e os pedestres precisam conhecer seus direitos e deveres no trânsito. Não é porque não necessitam habilitação que também não têm resposabilidades. São muitas e essenciais para que se tenha segurança.”
Enquanto STT, Al-Alam destaca que há o compromisso da pasta com a realização de blitze educativas no trânsito, algumas, inclusive, direcionadas especificamente ao comportamento dos ciclistas. “Aos poucos precisamos ir mudando a cultura que temos hoje. O ciclista comete muitas imprudências em um trânsito cada vez mais forte em termos de automóveis. Consciência é fundamental.”
Ligações
Para criar uma conexão com a ciclofaixa da Gomes Carneiro, a prefeitura implantou na Félix da Cunha uma nova pista. O projeto, apesar de polêmico, como coloca Al-Alam, mostrou-se importante para a fluidez do trânsito. Outra ligação importante, desta vez na Zona Norte da cidade, é a da avenida Dom Joaquim com a Fernando Osório e também com a Andrade Neves. O trecho entre a República do Líbano e a Juscelino Kubitschek deverá ser contemplado com uma pista em breve.
Já na Domingos de Almeida, assim como na Duque de Caxias, haverá conexões com o Centro. Entre os projetos estão:
- Rua Ildefonso Simões Lopes - Trecho compreendido entre: Loteamento Liberdade e avenida Leopoldo Brod, ciclofaixa com 2,5 m de largura e 1,9 km de comprimento
- Avenida Leopoldo Brod - Trecho compreendido entre: avenida Ildefonso Simões Lopes e avenida Fernando Osório, ciclofaixa com 2,5 m de largura e 3,8 km de comprimento
- Avenida Domingos de Almeida - Trecho compreendido entre: avenida Juscelino Kubitschek de Oliveira e avenida Barão de Corrientes, ciclovia com 2,5 m de largura e 3,5 km de comprimento
- Avenida Juscelino Kubitschek de Oliveira - Trecho compreendido entre: avenida Republica do Líbano e rua Barão de Butuí, ciclovia com 2,5 m de largura e 3,5 km de comprimento
- Rua Marechal Floriano Peixoto - Trecho compreendido entre: ruas Felix da cunha e Professor Araújo, ciclofaixa com 2,5 m de largura e 0,8 km de comprimento
- Avenida Dom Joaquim - Trecho compreendido entre: avenida Fernando Osório e avenida Juscelino Kubitschek de Oliveira, ciclovia com 2,5 m de largura e 1,9 km de comprimento
- Praça 20 de Setembro - Trecho compreendido entre: rua Professor Araújo e avenida João Goulart, ciclovia com 2,5 m de largura e 0,9 km de comprimento;
- Rua Doutor Amarante - Trecho compreendido entre: rua Professor Araújo e rua Gonçalves Chaves, ciclovia com 2,5 m de largura e 0,9 km de comprimento
- Avenida Salgado Filho - Trecho compreendido entre: avenida Fernando Osório e avenida República do Líbano, ciclovia com 2,5 m de largura e 1,8 km de comprimento
- Avenida Ferreira Viana - Trecho compreendido entre: avenida São Francisco de Paula e avenida Juscelino Kubitschek de Oliveira, ciclovia com 2,5 m de largura e 1,2 km de comprimento
- Rua Comendador Rafael Dias Mazza - Trecho compreendido entre: avenida Domingos de Almeida e avenida Ferreira Viana, ciclovia com 2,5 m de largura e 0,7 km de comprimento;
- Rua Mário Peiruque - Trecho compreendido entre: avenida República do Líbano e avenida Domingos de Almeida, com 2,5 m de largura e 2,27 km
Milton Barros considera a ciclovia da Fernando Osório a pior de todas (Foto: Jô Folha-DP)
O que existe hoje
- Avenida Fernando Osório - Trecho compreendido entre: BR-116 e Praça 1º de Maio, ciclovia com 2,5 m de largura e 7,0 km de comprimento
- Avenida Fernando Osório - Trecho compreendido entre: praça 1º de Maio e praça Capitão Nestor de Andrade, ciclofaixa com 2,5 m de largura e 1,7 km de comprimento
- Rua Professor Araújo - Trecho compreendido entre: praça Capitão Nestor de Andrade e praça 20 de Setembro, ciclofaixa com 2,5 m de largura e 2 km de comprimento
- Avenida Ferreira Viana - Trecho compreendido entre: rua Barros Cassal e rua Comendador Rafael Mazza, ciclofaixa com 2,5 m de largura e 2,8 km de comprimento
- Avenida Adolfo Fetter - Trecho compreendido entre: rua Comendador Rafael Mazza e avenida Rio Grande do Sul, ciclofaixa com 2,5 m de largura e 3,8 km de comprimento
- Rua Gomes Carneiro - Trecho compreendido entre: rua Félix da Cunha e rua Silveira Calheca, ciclofaixa com 2,25 m de largura e 1,6 km de comprimento
- Avenida Duque de Caxias - Trecho compreendido entre: avenida Presidente João Goulart e avenida Cidade de Lisboa, ciclovia com 3,0 m de largura e 3,6 km de comprimento
- Rua Ildefonso Simões Lopes - Trecho compreendido entre: avenida Salgado Filho e Loteamento Liberdade, ciclofaixa com 2,5 m de largura e 2,0 km de comprimento
- Rua Andrade Neves - Trecho compreendido entre: avenida Dom Joaquim e avenida Bento Gonçalves, ciclofaixa com 2,5 m de largura e 1,5 km de comprimento
- Avenida República do Líbano - Trecho compreendido entre: avenida Dom Joaquim e avenida Salgado Filho, ciclovia com 2,5 m de largura e 1,1 km de comprimento
- Avenida Domingos de Almeida - Trecho compreendido entre: rua Gonçalves Chaves e avenida Juscelino Kubitschek de Oliveira, ciclofaixa com 2,5 m de largura e 0,4 km de comprimento
- Ruas Félix da Cunha/15 de Novembro - Trecho compreendido entre: rua Gomes Carneiro e avenida Bento Gonçalves, ciclofaixa com 2,5 m de largura e 1,6 km de comprimento
- Avenida Adolfo Fetter - Trecho compreendido entre avenida Rio Grande do Sul e Balneário dos Prazeres com 3,6 km
Ciclovia x ciclofaixa
Ciclovia é um espaço segregado, ou seja, com separação física capaz de isolar os ciclistas dos veículos. Este isolamento pode ser por grade, meio-fio ou blocos de concreto, por exemplo.
Não é lugar de pedestres.
Ciclofaixa é apenas uma pista pintada no chão, sem separação física do trânsito.
Pode ser nos dois sentidos.
# Pode
É permitido fazer embarque e desembarque de passageiros nestas faixas
# Não pode
Estacionar carro na ciclovia ou ciclofaixa é infração grave
Ameaçar ciclista com veículo é infração gravíssima, passível de suspensão de dirigir, apreensão do veículo e da habilitação
# Recomendações
Todo veículo deve manter distância lateral de 1,5 m do ciclista
É obrigatório o ciclista usar sinalização na frente e atrás, dos lados e pedais, buzina e espelho
Bicicletas devem andar em fila única pelas ruas
Quando não houver espaço específico para bicicletas, circular pela rua e não na calçada
Desça da bicicleta ao cruzar faixa de pedestres
Pedestres têm prioridade sobre ciclistas e ciclistas sobre outros veículos
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