Cuidados

Os perigos da prematuridade

Em Pelotas nasceram 421 bebês prematuros este ano, o equivalente a 11,5% do total; o percentual corresponde aos índices estadual e nacional

Jô Folha -

Os números são de uma epidemia global. Em todo o mundo, cerca de um milhão de mortes são registradas por ano em decorrência da prematuridade. É a principal causa dos óbitos entre crianças de até cinco anos de idade, ao redor do globo. Em Pelotas, até agora, 421 bebês nasceram prematuros em 2017; um índice que chega aos 11,5% dos 3.636 nascidos vivos. O percentual, que tem se mantido nos últimos anos, praticamente reproduz o cenário gaúcho e nacional.

E é fundamental derrubar qualquer tipo de mito. A prematuridade não está relacionada às condições sociais da grávida. Os casos estão espalhados nas mais diferentes classes.

Quem enfatiza é a diretora municipal de Ações em Saúde, Eliédes Ribeiro. É um dos principais alertas disseminados neste 17 de Novembro, quando se celebra o Dia Mundial da Prematuridade.

E o mais preocupante: os nascimentos abaixo das 37 semanas de gestação estão associados à grande parte dos casos de mortalidade infantil. Só em 2016, por exemplo, a prematuridade foi pano de fundo a 53% das mortes registradas em bebês de até um ano de idade, em Pelotas; o equivalente a 35 óbitos.

“Temos que trabalhar fortemente na prevenção dos partos prematuros. Quanto menor a idade gestacional, maiores as chances de complicações e infecções neste bebê, principalmente, naquelas situações de prematuros extremos, de 22 a 27 semanas de gestação”, ressalta a enfermeira.

O poder da informação
Campanhas de sensibilização e de orientação sobre a importância do pré-natal estão entre as grandes apostas de prevenção. É o que a nutricionista Denise Suguitani tem buscado desde 2011, com a criação de um Portal que se transformou na Associação Brasileira de Pais de Bebês Prematuros, em 2014. Atualmente, o trabalho que começou em Porto Alegre - e foi batizado de ONG Prematuridade.com - ganhou ramificações em 12 estados brasileiros.

“Hoje a prematuridade, muitas vezes, é banalizada”, lamenta a fundadora da ONG, que canalizou as vivências junto à Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Neonatal do Hospital Moinhos de Vento, na capital gaúcha, nas muitas bandeiras de prevenção e de apoio às famílias. Núcleos que precisam superar traumas e, não raro, enfrentar sequelas deixadas nos seus nenês - reforça Denise.

“Por isso, acreditamos no poder da informação.” Uma iniciativa que se volta a várias frentes, entre elas a qualificação do pré-natal e investimentos na capacitação das equipes hospitalares. Tudo para garantir que as histórias ganhem final feliz.

Um guerreiro chamado Raul
O pequeno Raul quer tocar a lente fotográfica. Não contém a curiosidade. E é, justamente, sobre a série de batalhas que venceu ao longo dos 143 dias em que permaneceu internado no Hospital-Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel) que os pais conversavam com o Diário Popular. Uma experiência que os faz mais fortes. Até hoje.

“Eu estava fazendo o pré-natal, exatamente, como o recomendado, mas comecei a ter contrações e dilatação”, conta Suelen Gomes Coelho, 32. Hospitalização, repouso absoluto, mas Raul acabou nascendo de parto normal, em 19 de outubro. A tão sonhada alta só foi anunciada em 10 de março, quase cinco meses depois. Cinco meses de muita angústia.

Reanimação, oxigênio, sondas, dreno no pulmão, transfusões, infecção, apneia... E muita valentia. Dos três. “Não conhecia aquele mundo da prematuridade e, nos primeiros dias, cheguei a ter medo de criar um vínculo com ele. Era muito chocante”, admite a fonoaudióloga.

Aos poucos, a confiança nos profissionais, o exemplo de outros guerreiros - como a pequena Cecília que havia nascido com apenas 500 gramas - e a fé de que os sorrisos prevaleceriam, transformaram-se em força - conta o pai Victor Scheller, 31.

Hoje, Raul mantém sessões de fisioterapia e de fonoaudiologia e, nos últimos dias, entrou para natação. “Já tá sabendo mergulhar”, enfatizam, orgulhosos. Convictos de que têm muito a agradecer.

Saiba mais
* A prematuridade em Pelotas em 2017 - dados da Vigilância
Epidemiológica
►421 prematuros; 11,5% dos 3.636 nascidos vivos até agora
►De 22 a 27 semanas de gestação: 7 prematuros (extremos)
►De 28 a 31 semanas de gestação: 37 prematuros
►De 32 a 36 semanas de gestação: 377 prematuros

* A ligação com a mortalidade infantil em Pelotas
►Em 2016: a prematuridade representou 53% das mortes, com 35 óbitos
►Em 2015: a prematuridade foi pano de fundo a 23% das mortes, com 31 óbitos
►Em 2014: a prematuridade foi a causa-base para 44% das mortes, com 26 óbitos

As causas da prematuridade
Não há uma única razão. Hipertensão; Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), como a sífilis; infecções, como a urinária; falta de pré-natal e predisposição individual estão entre os principais motivos. As gestantes, entretanto, devem atentar-se a sintomas, como dor de baixo ventre e secreções vaginais. E, assim que receberem tratamentos, devem efetuá-los à risca - destaca a enfermeira Eliédes Ribeiro. E lembra: do contrário, há risco de reinfecção.

Licença-maternidade ampliada
Uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC), já aprovada no Senado, tramita na Câmara dos Deputados. O texto eleva a licença-maternidade nos casos de prematuros para 240 dias.

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